domingo, 17 de novembro de 2024

CONTOS CRUÉIS – As narrativas mais violentas da literatura brasileira contemporânea (Atmosfera Literária)


 

Olá, queridas e queridos da Atmosfera Literária! Hoje vamos falar sobre a coletânea CONTOS CRUÉIS – As narrativas mais violentas da literatura brasileira contemporânea. Organizada por Rinaldo de Fernandes, esta imponente antologia traz nada menos que 47 contos, alguns deles assinados por nomes consagrados como Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Lygia Fagundes Telles, Marçal Aquino, Caio Fernando Abreu, Roberto Drummond, Moacyr Scliar, Ignácio de Loyola Brandão e Nélida Piñon, entre outros tantos.

 

Muitos são os bons motivos que podem levar o leitor a encarar esse tijolo que pinga sangue, desde o estudo da violência em nossa sociedade contemporânea a uma pura e simples diversão movida a catarse. Minha motivação principal foi a bela oportunidade de aprender um pouco mais sobre a estrutura e a construção do conto, que ao meu ver representa a essência da fina arte de contar histórias.

 

Aliás, muito me intriga que hoje em dia os contos tenham meio que “saído de moda” no Brasil. Até mais ou menos a década de 1980 os contos eram bastante apreciados pelos leitores e representavam expressiva parcela do mercado editorial. De lá para cá, a impressão que tenho é que o interesse pelo conto vem caindo drasticamente. O que é de se admirar, considerando a tendência à simplificação progressiva nos escritos de ficção. Talvez o conto não agrade tanto hoje em dia porque, apesar de ser curto em número de páginas, geralmente obriga o leitor a um esforço interpretativo muito maior que em um romance. Será que é por isso?

 

De todo modo, felizmente eu nunca fui de seguir modas, então pude apreciar bastante a leitura desses 47 “Contos Cruéis”. O aprendizado maior que tive foi que talvez o segredo de um bom conto esteja mais no ritmo da narrativa que em outros elementos, tais como tema, estrutura narrativa ou vocabulário. Difícil mesmo é definir o que seria um bom ritmo! O melhor exemplo que encontrei no livro é o clássico conto de Rubem Fonseca, “Feliz Ano Novo”, que bem pode simbolizar a proposta da antologia como um todo. Essa deve ter sido a quarta ou quinta vez que li esse conto, e a cada vez acho melhor escrito!

 

É importante destacar também a reflexão sobre a relevância de uma literatura focada na violência. Diz o organizador, na apresentação ao livro: “O Brasil se tornou mais violento nos últimos tempos. A nossa pobreza pede soluções que não chegam. As nossas cidades choram cotidianamente os seus mortos. O escritor vai fazer o quê? Pintar as ruas de risos e rosas?”

 

Será que a função da literatura é retratar e denunciar as mazelas da sociedade? Ou deveria aspirar sugerir novos caminhos? A catarse é a motivação máxima da literatura? Ou seria a transcendência?

 

Sem pretender fornecer respostas prontas, acho válido que todo escritor – e leitor – faça a si mesmo essas perguntas, de vez em quando.

 

E viva a Literatura Brasileira!

 

Convido você a conhecer minha página no Facebook e no Instagram: Fabio Shiva Prosa e Poesia. E visite também as redes sociais da EDITORA NATESHA. Continue respirando em nossa Atmosfera Literária. Gratidão e até a próxima!


https://www.instagram.com/p/DCefqY7uNzg/

 

“Atmosfera Literária com Fabio Shiva” fez parte do programa ATMOSFERA 102, apresentado aos sábados na Rádio 102.7 FM (Além Paraíba – MG). Apresentação: Fernando Bamboo. Técnico de Som: Venilton Ribeiro. Apoio: NATESHA EDITORA.

 

 

YouTube:

https://youtu.be/7Y7rbY55G3U

 

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

O NOME DA ROSA – Umberto Eco (Resenha na Rede)

 


 

#resenhanarede

#umbertoeco

#literatura

#posmoderno

#cristianismo

#igreja

 

Texto da primeira resenha:

 

Umberto Eco é o Sócrates de nossos dias!

 

Diante dele, todo interlocutor é prontamente convertido em pupilo, pela força de sua verve, pelo brilhantismo de suas ideias, pela mente colossal de um verdadeiro gênio da raça!

 

Ele consegue criar histórias deliciosamente envolventes, instigantes da primeira à última página, arrebatadoras a ponto de fazer prender a respiração ao virar cada página em suspense!

 

Eco mostra como pode ser excitante a aventura intelectual! Não há nada de chato ou cansativo em sua inteligência exuberante!

 

“O Nome da Rosa” é talvez sua obra mais conhecida, com uma maravilhosa adaptação cinematográfica trazendo Sean Connery em um dos melhores papéis de sua carreira, como William de Baskerville.

 

Além de autor mundialmente famoso de Best-sellers, Umberto Eco é também um conceituado pensador, um filósofo da comunicação. Seus livros sobre semiologia (“Viagem na Irrealidade Cotidiana”) e teoria da comunicação (“A Obra Aberta”) são largamente utilizados nas faculdades. Isso para não falar do clássico dos clássicos, livro ao qual muitos estudantes de final de curso serão eternamente gratos: “Como Fazer Uma Tese”. Recomendadíssimo para quem prepara uma monografia.

 

Essa explicação foi só para mostrar como “O Nome da Rosa” é mesmo genial. Eco é sobretudo um mestre dos Símbolos! O Robert Langdon de “O Código da Vinci” de Dan Brown bem que pode ter sido inspirado nele.

 

Um símbolo é algo que fala de outra coisa. Pois bem, esse romance é como uma magnífica galeria de símbolos, onde tudo faz referência a alguma outra coisa. A experiência chega a ser inebriante!

 

A história acontece em plena idade média, mais precisamente em um mosteiro onde está para acontecer um importante debate religioso e onde começam a ocorrer embaraçosas mortes, em circunstâncias estranhíssimas. Para investigar o mistério, o monge franciscano William de Baskerville providencialmente aparece, para incômodo de alguns. Para auxiliá-lo, e também para se tornar, muitos e muitos anos depois, o narrador dessa inesquecível aventura, o noviço Adso.

 

Pois bem, já de cara temos:

 

* A ambientação da história na idade média faz referência aos romances históricos, tais como o “Ivanhoé” de Sir Walter Scott.

 

* O “molho” da história, no entanto, é uma típica trama de mistério: quem está assassinando os monges? Uma nova referência, desta vez aos romances policiais!

 

* Isso é reforçado por várias outras referências, a começar pelo personagem principal. William de Baskerville lembra muitas vezes Sherlock Holmes e o seu próprio nome é uma referência a uma de suas aventuras mais famosas, “O Cão dos Basvervilles”.

 

* O noviço Adso também segue adoravelmente o papel de “amigo narrador e menos inteligente que o herói detetive”. O seu nome também é uma brincadeira de Eco, pois Adso não passa de uma corruptela de Watson, o fiel companheiro de Holmes.

 

Por aí dá para começar a sacar como é a mente de Eco. Esse jogo de símbolos segue ad infinutum. Não há fundo. Você pode continuar mergulhando, sempre haverá um simbolismo novo brilhando adiante.

 

Um livro maravilhoso!

sábado, 9 de novembro de 2024

A ETERNA BUSCA DO HOMEM – Paramahansa Yogananda (Resenha na Rede)

 

#resenhanarede

#yogananda

#espiritualidade


https://youtu.be/AC_JiuffxxU

 

“O maior romance é com o Infinito. Você não tem ideia de quão bela a vida pode ser. Quando você de repente encontra Deus em todo o lugar, quando Ele vem e fala com você e o guia, o romance do amor divino começou.”

(Paramahansa Yogananda, “A Eterna Busca do Homem”)

 

https://www.instagram.com/p/DCJ3fEppB6o/

 

[Texto da primeira resenha, feita em 2016]:

 

Que dia feliz e abençoado, em que termino de ler esse tão maravilhoso livro!

 

Compilação de palestras e falas de Yogananda, fielmente registradas por uma de suas discípulas mais próximas, Sri Daya Mata. Quanta gratidão a esse amor e devoção de Daya Mata, que nos permite acessar nos dias de hoje esses preciosos ensinamentos. Como diz o ditado da Índia, “o guru não é diferente dos ensinamentos do guru”, então ler esse livro é como estar na revigorante e inspiradora presença do Mestre. Jai Guru!

 

Encontrei nessa obra material suficiente para uma vida inteira de reflexões e aprendizados. Nesses mais de dez anos desde que me tornei discípulo de Yogananda, procurei seguir à risca o ensinamento dele que primeiro me cativou: “Não acredite em nada do que eu digo, mas comprove por si mesmo a verdade de minhas palavras.” E assim posso afirmar, com gratidão sempre crescente, que jamais me deparei com uma única palavra de Yoganandaji que não revelasse, ao ser analisada com o máximo de minha inteligência e posta em prática com o máximo de minhas capacidades, a expressão fulgurante de uma sabedoria verdadeiramente divina.

 

E na verdade termino a leitura de “A Eterna Busca do Homem” muito consciente de que os ensinamentos de Yogananda destinam-se principalmente ao futuro, a uma era de consciência mais elevada do que essa em que vivemos. Não percebo isso com tristeza, mas com entusiasmo: que privilégio poder ter contato com esses tesouros da alma, daqui desse ponto do espaçotempo em que me encontro, aparentemente tão distante ainda da tão sonhada meta! É porque o mestre é infalível ao mostrar o caminho, sempre e de novo: “No vale da tristeza, mil anos ou só um dia / eu esperarei só por Ti, só por Ti” (trecho da canção “No Vale da Tristeza”, de Yogananda).

 

“O maior romance é com o Infinito. Você não tem ideia de quão bela a vida pode ser. Quando você de repente encontra Deus em todo o lugar, quando Ele vem e fala com você e o guia, o romance do amor divino começou.”

 

(Paramahansa Yogananda, “A Eterna Busca do Homem”)

 

terça-feira, 22 de outubro de 2024

O Tempo e o Vento / O Continente - Erico Verissimo - (Resenha na rede)

 


Resenha na rede:

O Tempo e o Vento - Erico Verissimo

Volume 1 - O Continente

 

#literaturabrasileira

#ericoverissimo

#resenhanarede

https://youtu.be/z7R_mf1MJuc

 

ASSASSINATO NO EXPRESSO ORIENTE – Agatha Christie (Atmosfera Literária)

 



“Assassinato no Expresso Oriente” enquadra-se dentro de uma categoria única, dentre as obras de Agatha Christie. Pois certamente é um dos melhores livros que ela escreveu, e entra fácil no “top 10" dos maiores fãs. Só que esse, em particular, eu nunca tive vontade de reler, justamente por considerá-lo tão bom, e com uma solução tão espetacular! Eu achava que a releitura seria totalmente anticlimática, face ao impacto da primeira leitura.

https://youtu.be/2TR56k_V-dU

 

“Atmosfera Literária com Fabio Shiva” fez parte do programa ATMOSFERA 102, apresentado aos sábados na Rádio 102.7 FM (Além Paraíba – MG). Apresentação: Fernando Bamboo. Técnico de Som: Venilton Ribeiro. Apoio: NATESHA EDITORA.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

ENSAIO SOBRE A ORIGEM DAS LÍNGUAS – Jean-Jacques Rousseau

 


Li com curiosidade esse texto relativamente curto, que acompanha “Do Contrato Social” no primeiro volume dedicado a Jean-Jacques Rousseau na Coleção Os Pensadores. O motivo da curiosidade é o subtítulo da obra: “No qual se fala da melodia e da imitação musical”. Queria muito saber o que Rousseau tinha a dizer sobre a música. Afinal ele mesmo foi músico, chegando a compor óperas e até a inventar um novo modo de notação musical.

E de fato, o filósofo apresenta algumas ideias interessantes sobre a música, como a sua proposição de que todas as consonâncias são, na verdade, convenções estabelecidas pelo hábito:

“Naturalmente, só existe a harmonia do uníssono.”

A leitura valeu também por essa divertida informação citada em uma nota de Lourival Gomes Machado:

“A medicina popular recomendava, para curar os efeitos da picada venenosa da tarântula, que o paciente dançasse ao som de música, afirmando outros que o envenenado se sentia impelido a dançar. Daí a ‘tarantela’ tiraria seu nome.”


 

Mas Rousseau apresenta outras sacações interessantes:

“Todos os povos que possuem instrumentos de corda são forçados a afiná-los por meio de consonâncias, mas aqueles que não os têm possuem nos seus cantos inflexões que consideramos desafinadas por não entrarem no nosso sistema e por não podermos grafá-las.”

A parte da música, contudo, é apenas secundária no ensaio que é destinado a estudar a origem das línguas:

“As do sul tiveram de ser vivas, sonoras, acentuadas, eloquentes e frequentemente obscuras, devido à energia. As do norte surdas, rudes, articuladas, gritantes, monótonas e claras, devido antes à força das palavras do que a uma boa construção.”

“Nossas línguas valem mais escritas do que faladas; leem-nos com mais prazer do que nos escutam. Pelo contrário, as línguas orientais perdem, escritas, sua vida e calor. O sentido só em parte está nas palavras, toda a sua força reside nos acentos. Julgar o gênio dos orientais pelos seus livros é querer pintar um homem tendo por modelo seu cadáver.”

“A palavra distingue os homens entre os animais; a linguagem, as nações entre si – não se sabe de onde é um homem antes de ter ele falado.”

“Quando se fala, transmitem-se os sentimentos, e quando se escreve, as ideias.”

Como não poderia deixar de ser, esse texto escrito por volta de 1759 (a data é incerta) já está bem defasado. Não deixa de ser interessante justamente pela verve de Rousseau, com suas frases de efeito e máximas:

“Como nos deixamos emocionar pela piedade? – Transportando-nos para fora de nós mesmos, identificando-nos com o sofredor.”

“O selvagem é caçador; o bárbaro, pastor; o homem civilizado, agricultor.”

E vamos para o segundo volume de Rousseau!


 

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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

Facebook: https://www.facebook.com/fabioshivaprosaepoesia

Instagram: https://www.instagram.com/fabioshivaprosaepoesia/

 

 

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O SINCRONICÍDIO: Sexo, Morte & Revelações Transcendentais – Fabio Shiva

Leia o PDF grátis:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7847612

Para celebrar o seu décimo aniversário, a Caligo Editora está disponibilizando gratuitamente o PDF do romance policial “O SINCRONICÍDIO: sexo, morte & revelações transcendentais”, de Fabio Shiva. Lançado em 2013, o livro chama atenção pela originalidade da trama, que mistura xadrez e I Ching.

“E foi assim que descobri que a inocência é como a esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”

Haverá um desígnio oculto por trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para morrer.

“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos abraçar a escuridão.”

Suspense, erotismo e filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo (clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das Mutações. Um romance de muitas possibilidades.

Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender o leitor.

 

E-book:

https://www.amazon.com.br/dp/B09L69CN1J

 

Book trailer:

http://youtu.be/Vr9Ez7fZMVA


 

Baixe o PDF gratuitamente:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7847612

 

 

terça-feira, 1 de outubro de 2024

[R]EXISTIR – Antologia Poetrix 7 – Aila Magalhães e Goulart Gomes (org.) – Resenha na Rede


 


Conheça a BULA POETRIX


O hai-kai é uma pérola; o poetrix é uma pílula

Goulart Gomes

Com o objetivo de melhor definir o POETRIX, estabelecendo critérios quanto à sua forma e conteúdo que possam orientar mais precisamente os seus autores - os poetrixtas – a Coordenação Geral do Movimento Internacional Poetrix (MIP) divulg esta BULA POETRIX, conjunto de orientações para o aperfeiçoamento e uniformização deste gênero literário.

1 POETRIX – Informações Técnicas

CONCEITO

Poetrix (s.m.): poema com um máximo de trinta sílabas métricas, distribuídas em apenas uma estrofe, com três versos (terceto) e título.

FORMAS MÚLTIPLAS

São criadas em contextos comunicativos e constituídas como derivações do POETRIX; sua elaboração tem como características básicas o dialogismo, a intertextualidade e a polissemia da linguagem. Identificadas e reconhecidas pelo MIP como Duplix, Triplix e Multiplix são mesclagens de dois ou mais poetrix que se compõem com a participação obrigatória de variados autores e com suas poéticas formando sentidos complementares entre si (individualidade-interação-universalidade).

2 CARACTERÍSTICAS DO POETRIX

2.1 O poetrix é minimalista, ou seja, procura transmitir a mais completa mensagem em um menor número possível de palavras e sílabas.

2.2 O título é indispensável. Ele complementa e dá significado ao texto. Por não entrar na contagem de sílabas, permite diversas possibilidades ao autor.

2.3 Não existe rigor quanto à métrica ou rimas, mas o ritmo e a exploração da sonoridade das sílabas é desejável.

2.4 Metáforas e outras figuras de linguagem, assim como neologismos, devem ser elementos constitutivos do poetrix.

2.5 É essencial que haja uma interação autor/leitor provocada por mensagens subliminares ou lacunas textuais.

2.6 Os tempos verbais – pretérito, presente e futuro - podem ser utilizados indistintamente.

2.7 O autor, as personagens e o fato observado podem interagir criando, inclusive, condições supra-reais, cômicas ou ilógicas (nonsense).

2.8 O poetrix deve promover a multiplicidade de sentidos e/ou emoções, não se atendo necessariamente a um único significado.

3 COMPOSIÇÃO

O POETRIX deve ser composto por ao menos um dos seguintes elementos, inspirados nas Seis Propostas para o Próximo Milênio, de Ítalo Calvino:

3.1 CONCISÃO: o mínimo é o máximo. O importante é dizer muito, falando pouco. O poetrix é uma pílula, que tem seu propósito determinado; é um projétil em direção ao alvo;

3.2 SALTO: é a metamorfose da idéia inicial, provocada no segundo ou terceiro verso da estrofe, acrescida de outros significados, permitindo uma nova perspectiva de compreensão do poetrix;

3.3 SUSTO: é o elemento inusitado e imprevisível que provoca surpresa ao leitor; é a fuga do lugar-comum, da obviedade, que desconstrói e amplia horizontes, mostrando outros caminhos, possibilidades, contextos;

3.4 SEMÂNTICA: exploração da polissemia de determinadas palavras ou expressões, permitindo a possibilidade de variadas leituras ou interpretações;

3.5 LEVEZA: jeito multifacetado de utilização da linguagem. Nesse sentido, o uso de imagens sutis deve trazer leveza, precisão e determinação ao poetrix e, com isso, provocar, no leitor, a abertura de renovadas construções mentais impregnadas de imprecisões e indeterminações, de novas possibilidades de interpretar a realidade, de desanuviar a opacidade do mundo.

3.6 RAPIDEZ: máxima concentração da poesia e do pensamento; agilidade, mobilidade, desenvoltura; busca da frase em que todos os elementos sejam insubstituíveis, do encontro de sons e conceitos que sejam os mais eficazes e densos de significado;

3.7 EXATIDÃO: busca de uma linguagem que seja a mais precisa possível como léxico e em sua capacidade de traduzir as nuanças do pensamento e da imaginação;

3.8 VISIBILIDADE: qualidade de expressar e pensar imagens, colocando visões em foco; reflexo da qualidade imagética do poetrix, em cor, sombra, contorno e perspectiva; é o substantivar da poesia;

3.9 MULTIPLICIDADE: expressão da pluralidade de possibilidades intertextuais e polissêmicas, provocando interações e criando novas formas;

3.10 CONSISTÊNCIA: através da fuga das obviedades, dos lugares-comuns, buscando expressar-se de forma original. O poetrix rompe, naturalmente, com antigos esquemas simplificantes e reducionistas e investe num sistema complexo, cujas categorias são opostas à simplicidade: a complexidade, a desordem e a caoticidade, próprias de sistemas não-lineares, capazes de realizar trocas com o meio envolvente.

4 INDICAÇÕES:

4.1 EXPLORAR O PODER DO TÍTULO,. para o qual não há limite de sílabas. Uma das grandes vantagens do poetrix é a existência do título, que habitualmente não existe no hai-kai .

4.2 MINIMALIZAR. Eliminar todas as palavras que estão sobrando. Escrever um poetrix é lapidar um diamante. Raramente um texto está pronto em sua primeira versão. É necessário, sempre, aprimorá-lo.

4.3 PESQUISAR. Uma idéia original pode ser enriquecida com informações complementares, ampliando-a em conteúdo e significado.

4.4 UTILIZAR FIGURAS DE LINGUAGEM. Em todas as formas poéticas, o uso de figuras de linguagem, metáforas, tropos e imagens enriquecem bastante o texto.

4.5 PERMITIR QUE O NÃO-DITO FALE. Evite menosprezar a inteligência e a perspicácia do leitor. O poetrix deve instigá-lo a buscar significados nas entrelinhas, a descobrir outros contextos e sentidos.

5 CONTRA-INDICAÇÕES:

5.1 EVITAR AS ORAÇÕES COORDENADAS. Um poetrix não é uma frase fragmentada em três partes.

5.2 NÃO CONFUNDIR POETRIX COM HAI-KAI. Para isso, é importante conhecer, também, os fundamentos do hai-kai, que tem suas próprias características.

5.3 CONJUNÇÕES EMPOBRECEM O POETRIX: mas, contudo, porém, todavia, não obstante, entretanto, no entanto, pois, geralmente não servem para nada em um poetrix, podendo ser eliminadas sem prejudicar o texto.

5.4 NÃO FORÇAR RIMAS. Poetrix não é trova. Às vezes pode-se dispensar completamente uma rima utilizando-se bem o ritmo, a sonoridade e a riqueza semântica das palavras.

5.5 POETRIX NÃO É PROVÉRBIO, MUITO MENOS DEFINIÇÃO. Muito menos, frase de parachoque de caminhão.

Coordenação Geral do Movimento Internacional Poetrix

 


quarta-feira, 11 de setembro de 2024

AMPUTAÇÃO AFETIVA DE NÓS - Leonardo Triandopolis Vieira (Resenha na Rede)



Sobre o livro “Amputação Afetiva de Nós”, de Leonardo Triandopolis Vieira.

https://www.leoescreve.com.br/amputacaoafetiva

Uma distopia subdesenvolvida, um realismo fantástico subnutrido, uma novela confessional desalentada. Uma periferia da ficção construída na periferia de um país periférico e cada vez mais isolado da civilização. De civilização. Uma pré-história, porque, mesmo com algum passo avante, retrocedemos. Aniquilamos a história. Sem culpa ou memória, livres para repetirmos todos os erros que cometemos e fazemos questão de não lembrar, porém, com as bençãos de um anacronismo descarregado, tecnologia e (é) barbárie. Amputamos (queremos acreditar que nos amputaram) o afeto de nós. Logo o afeto, um órgão vital. Que bom que essa história não é sobre mim ou sobre você, é, sim (por que não?), sobre uma mística ilha, paraíso da democracia e da liberdade, ínsula soberana, chamada Hy-Brasil.

A presente edição enriquece a experiência de leitura com a inclusão de um capítulo apócrifo e um guia de chaves, um convite para investigar as profundezas desta obra provocativa e instigante.

https://youtu.be/11j-22rHTKA

 

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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

Facebook: https://www.facebook.com/fabioshivaprosaepoesia

Instagram: https://www.instagram.com/fabioshivaprosaepoesia/

 

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Contos da Era Bolsonaro - baixe o livro gratuitamente:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/6871467


Foi disponibilizado gratuitamente nas plataformas digitais o livro “TANTO TEMPO DIRIGINDO SEM NINGUÉM NO RETROVISOR: Contos da Era Bolsonaro”, de Fabio Shiva. Lançado pela Caligo Editora, o livro pode ser adquirido na Amazon:

https://www.amazon.com.br/dp/B085185THH


Quem preferir fazer o download gratuito do PDF, pode acessar o Recanto das Letras:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/6871467

 

Os contos do livro nascem de uma perplexidade comum a milhões de brasileiros: como é que Bolsonaro foi eleito? Como é possível que, depois de tantos absurdos, ainda tenhamos parentes e amigos apoiando fanaticamente o governo? O que aconteceu com essas pessoas? O que aconteceu com o Brasil?

 

Para lidar com os horrores do obscurantismo que assola o país, precisamos mais do que nunca das luzes da Arte. E é assim que a Literatura Fantástica surge como uma resposta lúdica e inesperada diante de mesquinhas realidades.

 

Nas oito histórias aqui reunidas, Fabio Shiva explora os pontos cardeais desse grande enigma brasileiro:

 

* Será que o bolsonarismo surgiu de uma epidemia cósmica? - “O ódio que veio do espaço”

* Ou será tudo parte de um audacioso plano traçado na espiritualidade? - “Acima de todos”

* Será que isso implica no fim do mundo como o conhecemos? - “A espera”

* Como será o futuro dominado pelas Fake News? - “Notícias da Democracia”

* E o que aconteceria se ninguém mais pudesse mentir? - “Verdade e Consequência”

 

Que essas e outras incômodas perguntas aqui apresentadas possam fortalecer os leitores em seu processo de resistência vital contra o culto generalizado da morte: a morte da natureza, a morte da educação e da cultura, a morte da diversidade, do respeito e de tudo o que nos faz ter orgulho de sermos brasileiros. Contra as trevas da ignorância, salve a nossa Literatura!

  

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

ANTES O VOO DE FERNÃO CAPELO GAIVOTA, QUE PASSA E NÃO DEIXA RASTRO

 


Resenha do livro “FERNÃO CAPELO GAIVOTA”, de Richard Bach

Li esse livro pela primeira vez aos 12 ou 13 anos. Antes já havia lido “Ilusões”, que Richard Bach escreveu depois de “Fernão Capelo Gaivota”. Dessas duas leituras ficou a impressão de um autor que falava sobre “algo mais” em suas histórias, que por conta disso traziam algo de mágico e misterioso para o leitor.

Aos 15 anos li de novo, dessa vez para a escola. Li para fazer uma prova no 2º ano do 2º grau do Colégio Marista São José, no Rio de Janeiro. A professora ter escolhido esse livro me surpreendeu por dois motivos. Primeiro, pelo livro não ser de autor de língua portuguesa. Segundo, por considerar o tema do livro um tanto esotérico demais para uma escola de padres. Olhando em retrospecto agora, acho que o motivo para essa escolha deve ter sido o filme que foi feito do livro (https://youtu.be/oCzCIRhFUMw), cuja exibição a professora organizou para as turmas daquele ano. Acho que foi só nessa exibição que atentei para o título original da obra, “Jonathan Livingston Seagull”, que foi tão criativamente traduzido como “Fernão Capelo Gaivota”!


 

Dali a uma semana fizemos a prova sobre o livro, ocasião em que testemunhei uma cena assombrosa: um colega chamado Giovanni, ao término do teste, segurou o seu exemplar de “Fernão Capelo Gaivota” entre as mãos fortes de atleta e de um golpe só rasgou o livro ao meio. Sobretudo a expressão no rosto dele ao destruir o livro foi o que me marcou. Até hoje, tantos anos depois, fico imaginando o que nesse livro incomodou tanto o meu colega a ponto de levá-lo a um ato tão dramático de vingança.

Por algum motivo sempre ligo essa lembrança a uma outra questão intrigante: o que levou Stephen King a publicar diversos livros sob o pseudônimo de Richard Bachman? O primeiro desses livros foi “Rage”, publicado em 1977, sete anos depois de “Jonathan Livingston Seagull” ter se tornado um fenômeno de vendas nos Estados Unidos, com mais de um milhão de cópias vendidas só na base do boca a boca. Sem contar que 1977 foi o ano do lançamento do segundo livro mais famoso de Richard Bach: “Ilusões: as aventuras de um messias indeciso”. Digo isso porque sempre tive como certo que Stephen King escolheu o pseudônimo de Richard Bachman como algum tipo de brincadeira ou ironia com o seu quase homônimo Richard Bach. Mas ao pesquisar sobre o assunto hoje descobri um artigo explicando que King escolheu esse nome para homenagear Richard Stark (pseudônimo adotado pelo escritor de livros policiais Donald E. Westlake) e a banda de rock Bachman-Turner Overdrive. O próprio King escreveu um texto contando essa história, e ele jamais menciona o nome de Richard Bach. Essa omissão me intriga. É como se o Rubem Fonseca tivesse lançado uns livros sob o nome de Paulo Coelhomem, e a escolha desse nome não tivesse nada a ver com o Paulo Coelho.


Pois então. Hoje, mais de trinta anos depois, li “Fernão Capelo Gaivota” pela terceira vez. Gostei muito, mas não tanto como imaginei que iria gostar. Penso que o livro pode ter ficado um pouco datado, o que se evidencia nas fotos que ilustram o texto. Lembro que essa edição recheada de fotos de gaivotas e do mar me encheram de deleite, lá pelos meados da década de 1980, mas visto sob um olhar de hoje, com tanta tecnologia envolvendo o tratamento (e até a criação) de imagens, essas belas fotos de Russell Munson parecem pouco nítidas, com montagens simplistas. E talvez o texto tenha ficado também com esse sabor “vintage”, pois certamente “Fernão Capelo Gaivota” é uma história que reflete admiravelmente o zeitgeist [espírito da época] dos anos setenta.


Nessa terceira leitura, o ponto mais luminoso foi a surpreendente ponte com a maravilhosa saga de “Musashi”, de Eiji Yoshikawa. Ao contar a história do maior samurai do Japão, Yoshikawa tece uma linda alegoria sobre o Caminho da Espada: buscar a perfeição na arte da esgrima equivale a buscar a perfeição espiritual. Ou seja, quanto mais hábil for em cortar a carne e os ossos dos adversários com espadas afiadas, mais próximo está o sujeito de alcançar a iluminação e de se tornar um com o Um. Essa ideia paradoxal aparece também, de forma bem mais suavizada, na busca de Fernão Capelo Gaivota pela perfeição no voo.


Esse tema me fascina e tem me levado a muitas reflexões. Há algum tempo cheguei a escrever um artigo propondo essa jornada espiritual em busca do aprimoramento pela via da literatura. Chamei esse processo de “O Caminho da Pena”. Para minha alegria, o artigo foi publicado em 2019 pela Mundo Escrito (https://mundoescrito.com.br/caminho-da-pena/).

Resumindo: “Fernão Capelo Gaivota” é um livro maravilhoso, que merece ser lido ao menos três vezes.



 

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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

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MANIFESTO – Mensageiros do Vento

http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590

Um experimento literário realizado com muita autenticidade e ousadia. A ideia é apresentar um diálogo contínuo, não de diversos personagens entre si, mas entre as diversas vozes de um coral e o leitor. Seguir a pista do fluxo da consciência e levá-la a um surpreendente ritmo da consciência. A meta desse livro é gerar ondas, movimento e transformação na cabeça do leitor. Clarice Lispector, Ferreira Gullar, James Joyce e Virginia Woolf, entre outros, são grandes influências. Por demonstrarem que a literatura pode ser vista como uma caixa fechada, e que um dos papéis mais essenciais do escritor é, de dentro da caixa, testar os limites das paredes... Agora imagine esse livro escrito por uma banda de rock! É o que encontramos no livro MANIFESTO – Mensageiros do Vento, disponível aqui. Leia e descubra por si mesmo!

http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590


 

 

terça-feira, 3 de setembro de 2024

LIBERDADE, IGUALDADE E UM BOM SELVAGEM SONHANDO COM A DEMOCRACIA

 


Resenha do livro “DO CONTRATO SOCIAL”, de Jean-Jacques Rousseau

Comecei a ler “Do Contrato Social” na feliz expectativa de conhecer um pouco mais o pensamento do filósofo que inspirou o nome artístico de Renato Russo. E não me decepcionei. Rousseau é um pensador apaixonado e apaixonante, que pontua suas reflexões com tiradas brilhantes como:

“Advirto ao leitor que este capítulo deve ser lido pausadamente e que não conheço a arte de ser claro para quem não quer ser atento.”

“O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros. O que se crê senhor dos demais, não deixa de ser mais escravo do que eles. Como adveio tal mudança?”

“Vemos, assim, a espécie humana dividida como manadas de gado, tendo cada uma seu chefe, que a guarda para devorá-la.”

“O mais forte nunca é suficientemente forte para ser sempre o senhor, senão transformando sua força em direito e a obediência em dever.”

“As almas baixas não creem absolutamente na existência de grandes homens; vis escravos sorriem com ar de mofa ao ouvirem a palavra liberdade.”

“As boas leis contribuem para que se façam outras melhores, as más levam a leis piores.”


Muito boa é a edição da Coleção Os Pensadores, que traz na introdução desse primeiro volume dedicado a Rousseau um belo resuminho:

“Em síntese, a civilização é vista por Rousseau como responsável pela degeneração das exigências morais profundas da natureza humana e sua substituição pela cultura intelectual. A uniformidade artificial de comportamento, imposta pela sociedade às pessoas, leva-as a ignorar os deveres humanos e as necessidades naturais. Assim como a polidez e as demais regras da etiqueta podem esconder o mais vil e impiedoso egoísmo, as ciências e as artes, com todo seu brilho exterior, frequentemente seriam somente máscaras da vaidade e do orgulho.”

Achei especialmente interessante Rousseau destacar o “sentimento” (ou seria a intuição?) como uma forma privilegiada de conhecer a si mesmo e ao mundo:

“Rousseau (...) vê no intelecto uma faculdade que conduz o homem para fora de si mesmo. Rousseau aponta o sentimento, essa ‘outra faculdade infinitamente mais sublime’, como o verdadeiro caminho para a penetração na essência da interioridade.”

“Para Rousseau (...) a Natureza palpita dentro de cada ser humano, como íntimo sentimento de vida.”

Mas o melhor de Rousseau é mesmo a sua inflamada defesa da liberdade (e da igualdade):

“Ninguém como ele afirmou o princípio da liberdade como direito inalienável e exigência essencial da própria natureza espiritual do homem.”

Ninguém melhor, portanto, que o próprio filósofo para expressar o seu pensamento a respeito:

“Se quisermos saber no que consiste, precisamente, o maior de todos os bens, qual deva ser a finalidade de todos os sistemas de legislação, verificar-se-á que se resume nestes dois objetivos principais: a liberdade e a igualdade.”

E vejam só como Rousseau exemplifica a Igualdade:

“(...) quanto à riqueza, que nenhum cidadão seja suficientemente opulento para poder comprar um outro e não haja nenhum tão pobre que se veja constrangido a vender-se”.

A maneira de alcançar esses dois objetivos da liberdade e da igualdade, obviamente, é o Contrato Social:

“Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes.”

“Sendo todos os cidadãos iguais pelo contrato social, o que todos devem fazer, todos podem prescrever, enquanto ninguém tem o direito de exigir de outrem que faça aquilo que ele mesmo não faz.”

Quando Rousseau começa a examinar as minúcias de seu Pacto Social, alguns detalhes vão se destacando. Como por exemplo, descobrir que o que consideramos hoje como “democracia” seria classificado por Rousseau como “aristocracia”, como bem explica a nota de Lourival Gomes Machado:

“Ora, na democracia moderna o povo soberano escolhe um pequeno número de governantes aos quais confia a função dos magistrados.”

Esse sistema de “representantes do povo” é visto com extrema desconfiança por Rousseau:

“A ideia de representantes é moderna, vem-nos do Governo feudal, desse Governo iníquo e absurdo no qual a espécie humana só se degrada e o nome de homem cai em desonra. Nas antigas repúblicas e até nas monarquias, jamais teve o povo representantes, e não se conhecia essa palavra.”

Acho importante tomar consciência dessas distinções sutis (ou nem tanto) entre o que entendemos hoje como sendo uma democracia e a ideia que dela fazia um pensador como Rousseau, distinções essas que vão expondo outras mais graves:

“Em toda a verdadeira democracia, a magistratura não é uma vantagem mas uma carga onerosa, que não se pode justamente impor mais a um particular do que a outro.”

Nisso toca em minha mente uma campainha de alarme. Mas que tempos aflitivos que vivemos atualmente, em que não se pode tecer uma crítica ao sistema democrático sem que isso seja imediatamente visto como um flerte com a tirania e o autoritarismo (e o mais incrível é que existem, de fato, massas humanas bradando contra a democracia e clamando por ditaduras!). Digamos de forma eufemística que as mentalidades de hoje oferecem um mínimo de espaço de manobra para reflexões filosóficas... Por isso fique bem enfatizado o que foi dito acima: para Rousseau, nada era mais importante que a liberdade e a igualdade. E o próprio filósofo fez a inevitável ressalva:

“Tomando-se o termo no rigor da acepção, jamais existiu, jamais existirá uma democracia verdadeira.”

Encerro com gratidão por essa leitura, citando mais alguns eloquentes trechos de “Do Contrato Social”:

“Toda a justiça vem de Deus, que é a sua única fonte; se soubéssemos, porém, recebê-la de tão alto, não teríamos necessidade nem de governo, nem de leis.”

Malo periculosam libertatem quam quietum servitium.” [“Prefiro a liberdade perigosa à tranquila servidão.”]

“Afirmar que o filho de um escravo nasce escravo é afirmar que não nasce homem.”

“Entre todos os povos do mundo, não é em absoluto a natureza, mas a opinião, que decide a escolha de seus prazeres. Melhorai as opiniões dos homens, e seus costumes purificar-se-ão por si mesmos. Ama-se sempre aquilo que é belo ou que se julga belo.”



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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

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JÚBILO – Imago Mortis

JÚBILO! é o “álbum silencioso” do Imago Mortis, inicialmente concebido como um EP comemorativo do jubileu de prata (25 anos) da banda. A obra foi composta em julho de 2020, durante um dos piores períodos da pandemia do coronavírus, mas nunca chegou a ser gravada. A publicação do livro físico “DIÁRIO DE UM IMAGO: contos e causos de uma banda underground”, de Fabio Shiva, motivou o letrista a compartilhar o álbum nesse formato de “sombra de canções”, apenas com as letras. Uma experiência diferente, que vale a pena ser vivida. Boa catarse!

Leia o PDF grátis:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7971321

 

 

 

 

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