Resenha do
livro “JOYLAND”, de Stephen King
Li meu primeiro
livro de Stephen King, “O Iluminado”, aos 14 anos. Foi uma emoção inesquecível,
que só posso comparar à leitura de “E Não Sobrou Nenhum”, de Agatha Christie, aos
11 anos, que me deixou uma semana sem dormir direito. Com Stephen King foi uma
experiência ainda mais intensa, talvez porque o universo do menino Danny estava
muito mais próximo de minha experiência pessoal que os personagens e cenários
de Agatha Christie. Mas não só por isso: o elemento do suspense, e o recurso de
interromper a narrativa no ponto mais eletrizante, me deixaram completamente
fascinado. Lembro até hoje do momento em que Danny finalmente vai abrir a porta
do quarto 217, e a história pula para o que a mãe de Danny estava fazendo etc.
São muito vívidas até hoje as emoções que experimentei diante desse truque tão
básico da literatura de suspense, do qual eu tomava consciência pela primeira
vez...
Depois de “O
Iluminado”, li vorazmente tudo o que pude de Stephen King, que logo virou meu escritor
favorito (desbancando Graciliano Ramos, que ocupou esse posto por alguns meses,
desde que li “Memórias do Cárcere”, também aos 14 anos). E a cada livro que eu
lia, ao mesmo tempo em que me divertia imensamente com a história, ia
procurando entender como a mágica era feita, vendo a mim mesmo como um autêntico
Aprendiz de Feiticeiro. “Os Estranhos”, que li aos 20 anos, foi o primeiro livro
de King que não me encantou completamente, e o primeiro em que consegui vislumbrar
com mais nitidez diversas manobras dos “bastidores”. Depois desse tive várias
outras pequenas e grandes decepções (e aprendizados) com essa minha paixão da
adolescência, e acabei deixando Stephen King de lado por um bom tempo.
Felizmente, outros amores literários surgiram, esses bem mais duradouros: Rubem
Fonseca, Anthony Burgess, Umberto Eco, Jorge Amado...
De alguns anos
para cá, revolvi revisitar esse autor tão querido, e de tempos em tempos pego
algum livro de Stephen King para ler. Dessas leituras mais recentes, fico feliz
em dizer que a que mais gostei foi “Joyland”, publicado originalmente em 2013.
O cenário da história é um parque de diversões, o que por si só já é atrativo. O
narrador protagonista, Devin Jones, que aqui rememora o período em que
trabalhou no parque Joyland, antes de ingressar na faculdade, é um dos tantos
alter ego escritores de Stephen King. Uma desilusão amorosa, o fantasma de uma
moça assassinada (com o seu assassino ainda à solta) e lampejos de
paranormalidade complementam a trama, que flui com facilidade.
Achei a pegada
da narrativa um tanto “suave” (um termo um tanto estranho para se aplicar a uma
história de terror e suspense), como se King estivesse deliberadamente evitando
emoções mais fortes, decidido a contar uma história movida por emoções mais
amenas. O efeito não foi ruim. Afinal, nem só da intensidade de uma montanha
russa vive um parque de diversões: há também o encanto mais calmo da roda
gigante.
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Fabio
Shiva é músico, escritor e produtor
cultural. Fundador da banda Imago Mortis. Coautor e roteirista de ANUNNAKI -
Mensageiros do Vento, primeira ópera rock em desenho animado produzida no
Brasil. Publicou livros de gêneros diversos: romance policial, ficção
especulativa, contos, crônicas, infantojuvenil e poesia, além de várias
antologias poéticas como organizador. Ghost Writer com seis livros
publicados. Idealizador e proponente de diversos projetos aprovados em editais
públicos, como Oficina de Muita Música!, Gaia Canta Paz, Pé de Poesia, Doce
Poesia Doce, Poesia de Botão, Gincana da Poesia e P.U.L.A. (Passe Um Livro
Adiante). Autor convidado na Bienal do
Livro Bahia 2022 e da FLIPO Castro Alves 2025. Desde 2023 atua à frente da
Natesha Editora.
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