sábado, 13 de abril de 2024

CLÁSSICO É UM LIVRO QUE CONTINUA VIVO COM O PASSAR DO TEMPO

 


Resenha do livro “MENINO DE ENGENHO”, de José Lins do Rego

Não sei bem o que eu esperava quando peguei para ler “Menino de Engenho”, livro considerado a obra-prima de José Lins do Rego e um dos grandes clássicos da literatura brasileira. Mas quando falamos de um “clássico” geralmente surge na mente a imagem de um livro velho e empoeirado, de páginas amareladas e letras miúdas, que convidam mais ao sono que à leitura. Nada poderia estar mais distante da experiência de ler “Menino de Engenho”! Ainda mais no caso do exemplar que li, com uma diagramação moderna e estilosa comemorando nada menos que a 100ª edição do livro pela José Olympio Editora.

A história já nos captura de imediato, desde as primeiras palavras, que nos arremessam em uma densa tragédia familiar:

“Eu tinha uns quatro anos no dia em que minha mãe morreu. Dormia no meu quarto, quando pela manhã me acordei com um enorme barulho na casa toda. Eram gritos e gente correndo para todos os cantos. O quarto de dormir de meu pai estava cheio de pessoas que eu não conhecia. Corri para lá, e vi minha mãe estendida no chão e meu pai caído em cima dela como um louco.”

Ao cabo de duas ou três páginas já estamos envolvidos pela trama, aliciados pela prosa direta de José Lins do Rego, elegante mesmo ao contar os casos mais escabrosos. Fui surpreendido diversas vezes pelos episódios que vão tecendo o enredo de “Menino de Engenho”: ora comoventes, ora estarrecedores, ora hilários.

Cheguei mesmo a derramar algumas lágrimas de puro êxtase literário, ao me dar conta de como aquelas páginas me permitiam viver e sentir uma vida tão longe de mim no tempo e no espaço. Vivenciei a leitura desse livro como um portal mágico, que me transportou para a vívida realidade de um engenho do Nordeste brasileiro de cem anos atrás. É como se essa porção de nossa história permanecesse viva e pulsante, bastando a qualquer um abrir as páginas de “Menino de Engenho” para acessá-la. Por essas e outras é que dou graças a Deus pela luminosa dádiva da literatura!

Encerro com dois trechos que me marcaram especialmente. O primeiro por retratar as desigualdades e injustiças de ontem, evocando o quanto isso repercute ainda hoje:

“O costume de ver todo dia esta gente na sua degradação me habituava com a sua desgraça. Nunca, menino, tive pena deles. Achava muito natural que vivessem dormindo em chiqueiros, comendo um nada, trabalhando como burros de carga. A minha compreensão da vida fazia-me ver nisto uma obra de Deus. Eles nasceram assim porque Deus quisera, e porque Deus quisera nós éramos brancos e mandávamos neles. Mandávamos também nos bois, nos burros, nos matos.”

E o segundo por expressar tão liricamente o arquétipo da perda da inocência:

“Perdera a inocência, perdera a grande felicidade de olhar o mundo como um brinquedo maior que os outros.”

Uma obra sensacional, que me encheu de orgulho de ser brasileiro.


  

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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

Facebook: https://www.facebook.com/fabioshivaprosaepoesia

Instagram: https://www.instagram.com/fabioshivaprosaepoesia/

 

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HISTÓRIAS DE MAINHA

“É claro que minha mãe é muito mais do que as anedotas contadas aqui. Ainda assim, acredito que será possível, mesmo para quem não a conhece pessoalmente, ter acesso a algo de sua essência pela leitura deste livro. Não se trata de uma biografia, e nem poderia, mas sim de algo como um lúdico holograma. Em cada piada, em cada risada, espero que você tenha acesso a uma alegria mais profunda, que talvez seja inexprimível por meio das palavras.” (Fabio Shiva)

Adquira já o seu exemplar:

R$ 40,00 (frete incluído)

PIX: editoranatesha@gmail.com

Envie o comprovante do PIX e o seu endereço para:

editoranatesha@gmail.com

 

book trailer:

https://youtu.be/AepVx2Rf0Vk


 

sexta-feira, 5 de abril de 2024

MEDO DE TIRO e outras histórias – Dashiell Hammett (Atmosfera Literária com Fabio Shiva)


 

Já li muitas vezes sobre como Dashiell Hammett elevou a literatura policial ao status de arte. Seus contos são tão vívidos que chegaram a evocar, para mim, o grande mestre brasileiro Machado de Assis! Heresia? Entusiasticamente afirmo que não!

https://youtu.be/TQaRl3njFWc

 

“Atmosfera Literária com Fabio Shiva” é um quadro do programa ATMOSFERA 102, da Rádio 102.7 FM (Além Paraíba – MG), todo sábado de 12h às 14h, com apoio da EDITORA NATESHA. Apresentação: Fernando Bamboo. Técnico de Som: Venilton Ribeiro.

https://www.radios.com.br/aovivo/radio-1027-fm/17615

 


terça-feira, 2 de abril de 2024

 


Conto de Fabio Shiva

 

Para Axel e Leonardo

 

Alauner é um habitante de outro mundo. Sua aparência é humana, de modo geral, mas há significativas diferenças entre a sua fisiologia e a nossa. Seus olhos estão sempre ardendo e lacrimejando e a sua cabeça dói devido ao pronunciado abaulamento do crânio, que lhe comprime o cérebro. Alauner também sofre de constantes dores nas costas e nos nervos, por conta do formato distorcido de sua coluna vertebral, que é encimada por uma impressionante corcunda.

Outras pessoas possuem condições diferentes. Um vizinho de Alauner, por exemplo, traz um rombo no peito, de onde vira e mexe algum órgão escapole e cai no chão. Em decorrência disso, o homem já está acostumado a se agachar a cada cinco passos para resgatar o coração ou um pulmão na calçada.

Apesar dessa diversidade, há algumas características comuns a todos os habitantes do planeta. Por lá ninguém tem ânus. O aparelho digestivo dá uma volta sobre si mesmo, fazendo com que os alimentos, depois de terem sido transformados em fezes, sejam excretados pela boca.

Tantas diferenças fisiológicas determinam que a sociedade de lá também seja muito distinta da nossa. Para citar um único exemplo, os livros apresentam as palavras em constante movimento, sem que jamais se forme uma só frase que faça sentido.

Certa noite, Alauner sonhou com o nosso mundo. Na manhã seguinte, muito impressionado, ele contou à esposa:

– Os livros de lá trazem textos fixos, com histórias e ensinamentos, iludindo o povo a confiar neles. As pessoas possuem um trato gastrointestinal deformado, que não lhes permite dar o devido valor aos alimentos e nem constatar diariamente que toda matéria está fadada à corrupção. Além disso, os habitantes desse planeta só apresentam dores e achaques quando estão velhos e doentes. Isso faz com que as pessoas se identifiquem fortemente com seus corpos, e raras são as que buscam alguma esperança de felicidade para além da prisão da carne.

Essas e outras coisas disse Alauner, enquanto sua esposa ouvia em horrorizado silêncio. Por fim ele suspirou, concluindo:

– Sonhei com o mundo onde a vida deu errado.

 

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O conto “O mundo onde a vida deu errado” foi selecionado no Prêmio de Literatura Unifor e publicado na antologia lançada pela Universidade de Fortaleza (março de 2024).




domingo, 31 de março de 2024

TRISTE FIM DE UMA INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA: “QUEIMEM OS LIVROS!”

 


Resenha do livro “INVESTIGAÇÃO ACERCA DO ENTENDIMENTO HUMANO”, de David Hume

Desde que decidi ler todos os volumes da Coleção Os Pensadores (ao menos da edição que tenho comigo), elegi antecipadamente alguns “favoritos”, que eu ansiava ler mais que os outros. E um desses era volume dedicado ao David Hume, que já havia conquistado a minha admiração por conta dos estudos de epistemologia na Faculdade de Comunicação Social da UERJ, na década de 1990.


Ocorre que Hume teve uma ideia sensacional, que acarretou grandes repercussões na filosofia e na construção do conhecimento científico desde então. Essa ideia, resumidamente, é a seguinte: as relações de causa e efeito que estabelecemos nos fenômenos na natureza são meras crenças e não possuem nenhuma veracidade intrínseca. Por exemplo, vemos a madeira queimando e, em seguida, vemos cinzas. Daí inferimos que toda madeira queimando se transforma em cinzas (ou seja, estabelecemos uma relação de causa e efeito). Mas daí chega o David Hume e diz: nada nos autoriza a supor que a natureza irá se repetir eternamente, por isso dizer que a madeira queimando se transforma em cinzas é simplesmente uma crença apoiada na experiência, mas não é um enunciado da verdade.

O impacto dessa ideia de Hume foi fulminante. Immanuel Kant, outro grandão da filosofia (cujo volume na coleção Os Pensadores espero ler em breve), chegou a dizer que “Hume o havia despertado de seu sono metafísico”. Só no século vinte (ou seja, trezentos anos depois de Hume) é que o desafio lançado por Hume pareceu ter encontrado uma resposta à altura em Karl Popper, filósofo que propôs que a ciência se fundamentasse a partir de “ideias falsificáveis”. Citando um exemplo famoso, a ciência deveria dizer que “todos os cisnes são brancos”, sendo que a existência de um único cisne negro “falsificaria” toda a teoria científica.

Tudo o que escrevi até aqui nessa resenha é o que me lembro dessas aulas na UERJ, que assisti há trinta anos. Fico feliz com minha memória, que dá conta também de minha expectativa ao finalmente travar contato direto com a obra mais famosa de David Hume, “Investigação Acerca do Entendimento Humano”. Contudo a leitura em si, se não chegou a ser uma decepção total, foi bastante frustrante. O livro inteiro parece girar em torno dessa única (e genial, sem dúvida) ideia de Hume, que a explora em todas as suas minúcias. Mas não encontrei outras ideias que me empolgassem da mesma forma, nem de longe. Poderia ter ficado com o resumo das aulas de epistemologia.

Mas longe de mim dizer que a leitura foi uma perda de tempo. Pude detectar nessa obra um elo importantíssimo na solidificação do que hoje considero um “ateísmo dogmático” nas ciências. Já falei sobre esse assunto em várias resenhas de livros de filosofia e ciência. De modo bem resumido: com o conhecimento de que dispomos hoje, não seria científico afirmar que “Deus existe”. Mas do mesmo modo não seria científico dizer o contrário, que “Deus não existe”. Contudo, o pensamento científico, progressivamente orientado pelo cunho materialista (ou fisicalista, como se tem afirmado mais recentemente, depois que as concepções estritamente materialistas foram detonadas pelas descobertas da Mecânica Quântica e afins), chegou ao “ponto cego” de afirmar que só é verdade o que é provado pela ciência, desconsiderando desdenhosamente tudo o que diz respeito à espiritualidade. E é assim que temos hoje uma ciência totalmente divorciada da sabedoria da espiritualidade e que, por partir do pressuposto de que “Deus não existe” e de que “a vida não tem sentido”, se permite enveredar por estudos que só aumentam a nossa capacidade de nos aniquilar mutuamente e ao planeta inteiro conosco, quando poderia estar dedicada à erradicação da fome, da miséria e da infelicidade no mundo...

O assunto é vasto e complexo, e não tenho a menor pretensão de cobri-lo em uma humilde resenha. Menciono aqui de passagem, como registro da importância que foi, para mim, descobrir como Hume foi um passo importante nessa incrível jornada de um trevoso dogmatismo religioso (vivido durante a Idade Média, com a Igreja ditando os saberes) para esse atual e comparativamente luminoso dogmatismo científico, que coloca em risco a nossa própria existência no planeta. Que Deus me dê saúde para testemunhar os próximos capítulos dessa fascinante novela humana!

Ainda sobre Hume, não posso deixar de registrar a minha consternação ao constatar que ele encerra a sua obra-prima afirmando enfaticamente que os livros escritos de forma contrária ao que ele prega deveriam ser sumariamente queimados:

“Quando percorremos as bibliotecas, persuadidos destes princípios, que destruição deveríamos fazer? (...) Portanto, lançai-o ao fogo, pois não contém senão sofismas e ilusões.”

Penso que esse deve ser um dos finais mais tristes possíveis para uma obra de filosofia.


  

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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

Facebook: https://www.facebook.com/fabioshivaprosaepoesia

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MANIFESTO – Mensageiros do Vento

http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590

 

Um experimento literário realizado com muita autenticidade e ousadia. A ideia é apresentar um diálogo contínuo, não de diversos personagens entre si, mas entre as diversas vozes de um coral e o leitor. Seguir a pista do fluxo da consciência e levá-la a um surpreendente ritmo da consciência. A meta desse livro é gerar ondas, movimento e transformação na cabeça do leitor. Clarice Lispector, Ferreira Gullar, James Joyce e Virginia Woolf, entre outros, são grandes influências. Por demonstrarem que a literatura pode ser vista como uma caixa fechada, e que um dos papéis mais essenciais do escritor é, de dentro da caixa, testar os limites das paredes... Agora imagine esse livro escrito por uma banda de rock! É o que encontramos no livro MANIFESTO – Mensageiros do Vento, disponível aqui. Leia e descubra por si mesmo!

http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590

 

  

domingo, 24 de março de 2024

O MINISTÉRIO DA LITERATURA ADVERTE: ESSE LIVRO TEM GOSTO DE PLÁSTICO!



Resenha do livro “AS OUTRAS PESSOAS”, de C. J. Tudor

O plástico foi inventado em 1862, com o nome de parkesina. Mas foi só a partir de meados do século vinte, com a fabricação de diversos tipos de polímeros a partir do petróleo, é que o plástico passou a ser utilizado em larga escala em nossa sociedade. Não demorou para surgirem os primeiros alertas sobre o quanto essa nova substância poderia ser nociva para o meio ambiente. Pouco ou nada adiantaram os avisos: a humanidade continuou alegremente produzindo milhões de toneladas de plástico, em sua maioria transformados em lixo após um breve período de uso. Hoje um dos indícios alarmantes da poluição pelo plástico é a contaminação dos oceanos pelo chamado microplástico, que está presente inclusive na maioria dos peixes e frutos do mar consumidos pelas pessoas. Quais as consequências disso a médio e longo prazo? Só Deus sabe.


Essa triste lembrança de nosso (não tão) lento e inexorável envenenamento por plástico saltou em minha mente desde as primeiras páginas de “As Outras Pessoas”. Trata-se do novo sucesso literário de C. J. Tudor, autora do best-seller “O Homem de Giz”. Senti desde o começo da leitura um inconfundível e desagradável “gostinho” de plástico, que só foi ficando mais e mais pronunciado até o final do livro.

Mas o que quero dizer com “um livro com gosto de plástico”? Trata-se de uma trama evidentemente artificial, com o suspense sendo construído não a partir de episódios e acontecimentos, mas pela intencional e explícita supressão de partes importantes da narrativa pela autora. Notei esse mesmo tipo de “suspense artificial” em outro best-seller recente, “A ÚLTIMA FESTA”, de Lucy Foley (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2024/01/suspense-instantaneo-em-po-misture-agua.html). Será que esse estilo de escrita virou moda entre os jovens leitores de hoje? Custo a crer, mas tudo indica que sim.

Além disso, “As Outras Pessoas” segue conectando seus personagens em uma trama frouxa e para lá de inverossímil. Li pulando parágrafos inteiros, com um desgosto crescente, e só não abandonei de todo porque fiquei curioso com a novidade do elemento “sobrenatural” inserido na história tipicamente policial. Não chegou a ser uma surpresa chegar ao final do livro e descobrir que a parte “policial” foi a que teve explicações fajutas, enquanto a parte “sobrenatural” foi simplesmente a que ficou sem explicação alguma...

Não é que o livro seja ruim, veja bem. O problema é meu, que não curto muito o sabor do plástico.


  

 

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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

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JÚBILO – Imago Mortis

 

JÚBILO! é o “álbum silencioso” do Imago Mortis, inicialmente concebido como um EP comemorativo do jubileu de prata (25 anos) da banda. A obra foi composta em julho de 2020, durante um dos piores períodos da pandemia do coronavírus, mas nunca chegou a ser gravada. A publicação do livro físico “DIÁRIO DE UM IMAGO: contos e causos de uma banda underground”, de Fabio Shiva, motivou o letrista a compartilhar o álbum nesse formato de “sombra de canções”, apenas com as letras. Uma experiência diferente, que vale a pena ser vivida. Boa catarse!

 

Leia o PDF grátis:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7971321

  

quarta-feira, 13 de março de 2024

O PODEROSO FEITIÇO DE AGATHA CHRISTIE PARA ILUDIR O LEITOR

 


Resenha do livro “NOITE DAS BRUXAS”, de Agatha Christie


Com saudade de ler a Rainha do Crime, caí na cilada de experimentar um desses sucedâneos que vêm sendo publicados de uns anos para cá, com autores contratados pelos herdeiros de Agatha Christie tentando esticar e fazer render um pouco mais o seu legado.

O livro que tentei ler (e abandonei na página 66) foi “Os Crimes do Monograma”, de Sophie Hannah (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2024/02/o-irreconhecivel-bigodao-de-hercule.html). Para tirar o gosto ruim dos olhos, resolvi reler pela segunda ou terceira vez esse clássico indiscutível da Dama: “Noite das Bruxas”.

Não lembro se já havia lido esse livro duas ou três vezes antes, mas me lembro bem de que na primeira leitura de “Noite das Bruxas” fui docemente ludibriado por Agatha, como em tantas outras vezes. Chega a ser impressionante a simplicidade com que ela faz o seu “feitiço”, superando facilmente desafios como o reduzido elenco de suspeitos. Palmas para Agatha!



De resto, a leitura me marcou pela sugestão de um clima mórbido e melancólico, insinuado pela crueldade e frieza dos crimes cometidos no livro e que são o mote do mistério a ser solucionado. Algumas frases também marcaram:

“Não acontece às vezes a gente dar umas mordidas numa bela maçã vermelha e suculenta e, já no fim, ver algo nojento se levantar e sacudir sua cabeça para nós?”

“Diante do que se lê e se ouve hoje em dia, parece que grande parte da sociedade está se acostumando, lenta mas seguramente, com o crime.”


Ainda não vi a recente adaptação de Kenneth Branagh para o cinema, mas, pelo trailer (https://youtu.be/CLpH3-rcHdQ?si=iOdVcmh6vf43TeG5), parece que se trata de uma história completamente diferente.


   

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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

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O SINCRONICÍDIO: Sexo, Morte & Revelações Transcendentais – Fabio Shiva

Leia o PDF grátis:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7847612

Para celebrar o seu décimo aniversário, a Caligo Editora está disponibilizando gratuitamente o PDF do romance policial “O SINCRONICÍDIO: sexo, morte & revelações transcendentais”, de Fabio Shiva. Lançado em 2013, o livro chama atenção pela originalidade da trama, que mistura xadrez e I Ching.

“E foi assim que descobri que a inocência é como a esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”

Haverá um desígnio oculto por trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para morrer.

“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos abraçar a escuridão.”

Suspense, erotismo e filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo (clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das Mutações. Um romance de muitas possibilidades.

Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender o leitor.

 

Livro físico:

https://bit.ly/43G7Keq

 

E-book:

https://www.amazon.com.br/dp/B09L69CN1J

 

Book trailer:

http://youtu.be/Vr9Ez7fZMVA


 

Baixe o PDF gratuitamente:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7847612

 

sexta-feira, 1 de março de 2024

SÓ COM MUITO CINISMO PARA SER UM BOM DETETIVE EM UMA NAÇÃO DE ASSASSINOS

 


Resenha do livro “ASSASSINO BRANCO”, de Philip Kerr

Gostei demais desse livro, que me pegou totalmente de surpresa. São muitas camadas possíveis de leitura e reflexão que podemos fazer, e isso em uma história de suspense arrebatador, que nos faz virar compulsivamente as páginas.

“Assassino Branco” é o segundo volume da trilogia “Berlim Noir”, do escritor escocês Philip Kerr. Foi realmente um achado a ideia de ambientar tramas policiais noir na Alemanha Nazista. Nesse volume dois estamos no ano de 1938, pouco antes da infame “Noite dos Cristais”, que de certa forma dá o mote do enredo. Kerr surpreende na vívida reconstrução histórica, que nos faz vivenciar o ambiente progressivamente asfixiante do nazismo em ascensão, com a perspectiva da guerra cada vez mais iminente e a banalização da violência, da truculência, da estupidez arrogante.


O detetive Bernie Gunther é outro achado. Mesmo contra a vontade, ele prospera nos círculos da polícia nazista, por possuir uma qualidade rara nesse meio: a inteligência. E para defender a própria sanidade, ele se vale da ironia, do sarcasmo e do cinismo. O que nos brinda com tiradas como:

“Ter muito dinheiro não é garantia de bom gosto, mas pode tornar sua falta muito mais óbvia.”

E aí chegamos aos assassinatos, que são especialmente brutais para conseguir chamar a atenção em uma época de tanta brutalidade: belas adolescentes arianas são encontradas mortas após um ritual de tortura que sugere ritos satânicos. Convocado para deslindar os crimes, Gunther se empenha de corpo e alma na missão, mesmo questionando a ambiguidade moral de perseguir um assassino em uma nação que exalta e celebra o assassinato:

“Qual a importância de mais um psicopata entre tantos?”

Em outras palavras, como estabelecer os imprescindíveis limites entre “certo” e “errado”, que nos definem como humanidade, quando a maioria das pessoas (ou ao menos das pessoas em posições de poder) defende as maiores vilanias como atos de heroísmo e a canalhice como sinônimo de virtude? Essas reflexões suscitadas por um romance ambientado na Alemanha de 1938 não deixam de evocar um espaço-tempo bem mais recente: esse parágrafo poderia estar muito bem descrevendo o Brasil de 2018. E aí nos deparamos com essa pérola, que para mim sintetiza o brilho de “O Assassino Branco”:

“A vida é apenas uma batalha para manter uma pele civilizada.”

Ainda tive um ganho a mais com essa leitura, que quero registrar aqui. Em dado momento, fiquei impressionado com a finesse da construção da trama, unindo diversos elementos colocados no início do livro às complexas consequências que afloram no final. E pensei, cheio de admiração: “Deve ter dado um trabalho e tanto escrever esse livro.” Pois bem, pouco depois me vi entretido em solicitar a criação de imagens por meio da Inteligência Artificial, e notei um curioso fenômeno: os desenhos, belíssimos, foram progressivamente me causando tédio. Isso me deu um vislumbre de nossa interação com as obras criadas por IA em um futuro próximo: à medida em que seu uso for se banalizando, ficaremos cada vez mais indiferentes e apáticos diante de uma arte destituída por completo de sua “aura” (no sentido dado por Walter Benjamin). Veremos.


 

 

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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

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O SINCRONICÍDIO: Sexo, Morte & Revelações Transcendentais – Fabio Shiva

Leia o PDF grátis:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7847612

Para celebrar o seu décimo aniversário, a Caligo Editora está disponibilizando gratuitamente o PDF do romance policial “O SINCRONICÍDIO: sexo, morte & revelações transcendentais”, de Fabio Shiva. Lançado em 2013, o livro chama atenção pela originalidade da trama, que mistura xadrez e I Ching.

“E foi assim que descobri que a inocência é como a esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”

Haverá um desígnio oculto por trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para morrer.

“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos abraçar a escuridão.”

Suspense, erotismo e filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo (clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das Mutações. Um romance de muitas possibilidades.

Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender o leitor.

 

Livro físico:

https://bit.ly/43G7Keq

 

E-book:

https://www.amazon.com.br/dp/B09L69CN1J

 

Book trailer:

http://youtu.be/Vr9Ez7fZMVA


 

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

O GRANDE GATSBY – F. Scott Fitzgerald (Atmosfera Literária com Fabio Shiva)


 

Esse livro alcança uma das mais altas metas que um romance pode ter, que é expressar a vida em sua totalidade. Ao término da leitura, impactados e comovidos, julgamos ter compreendido algumas das intenções do autor, ter captado alguns ricos simbolismos e metáforas, mas o impacto maior vem justamente da parte que nos escapa, que não conseguimos identificar ou definir, mas que ainda assim reverbera em nosso espírito... ao menos para mim, é assim que reconheço uma autêntica obra de arte!

https://youtu.be/dSxndjUVw5k

 

 

“Atmosfera Literária com Fabio Shiva” é um quadro do programa ATMOSFERA 102, da Rádio 102.7 FM (Além Paraíba – MG), todo sábado de 12h às 14h, com apoio da EDITORA NATESHA. Apresentação: Fernando Bamboo. Técnico de Som: Venilton Ribeiro.

 

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domingo, 25 de fevereiro de 2024

COM DIFICULDADES, CADA UM DE NÓS VOLTARÁ A SER UMA CRIANÇA-ESTRELA

 


Resenha do livro “A CRIANÇA-ESTRELA”, de Oscar Wilde (traduzido e adaptado por Leonardo Triandopolis Vieira)

Cada vez admiro mais o espírito inquieto e intrépido do querido Leonardo Triandopolis Vieira, sempre às voltas com instigantes empreendimentos literários. Quando não está escrevendo suas próprias e originalíssimas histórias, que desafiam classificação (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2023/12/androides-nao-podem-sonhar-com.html), Leonardo embarca em surpreendentes aventuras coletivas (numa das quais tenho a alegria de participar, mas isso ainda é surpresa, por enquanto vide: https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2024/01/na-escuridao-do-sentido-o-encontro.html). Entre uma coisa e outra, dedica-se a resgatar e/ou recriar clássicos de nossa literatura, como “Evocações” de Cruz e Souza e “O Uraguai” de Basílio da Gama. E ainda tem tempo de intentar belos esforços como esse de “A Criança-Estrela”, recontando em português um dos contos mais celebrados de Oscar Wilde. Nisso tudo sinto o inequívoco pulsar de uma genuína vocação literária, de um chamado autêntico sendo atendido com a nobre força de uma alma inteira. Bravo! Bravíssimo, meu querido “Irmão Cidade”! Que a jornada literária a Triandopolis seja encetada por mais e mais leitores sedentos de algo puro e verdadeiro.


Achei sensacional a proposta de traduzir para o português e adaptar para a realidade do sertão nordestino essa história originalmente ambientada no rigoroso inverno europeu. O que dá margem a reflexões sempre bem-vindas sobre os relativismos do mundo da dualidade: morrer de calor excessivo ou de frio intenso, no fundo, dá no mesmo. O que importa é a persistência da vida que encontra seus caminhos em meio às adversidades.

 

É impossível falar dessa versão de “A Criança-Estrela” sem mencionar as belas e abundantes ilustrações feitas por Inteligência Artificial, que ajudam sobremaneira a ambientar a história no cenário do agreste nordestino. A riqueza das ilustrações e a elegância da diagramação agregam grande deleite estético à experiência da leitura.

Quanto à história em si, é linda e comovente, com o toque inconfundível da ironia de Oscar Wilde. Em minha leitura pessoal, optei por transmutar essa ironia em um combustível a mais para a edificante mensagem central do conto. E fechei o livro, agradecido, com a convicção reforçada de que não importam os movimentos do mundo, fundamentalmente: cada um de nós é uma autêntica “Criança-Estrela”, cumprindo o seu penoso, demorado e muitas vezes aparentemente impossível destino de, enfim, brilhar.

É como diz um de meus ditados favoritos: per aspera ad astra. Com dificuldades, até as estrelas. Que assim seja!


   

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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

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JÚBILO – Imago Mortis

JÚBILO! é o “álbum silencioso” do Imago Mortis, inicialmente concebido como um EP comemorativo do jubileu de prata (25 anos) da banda. A obra foi composta em julho de 2020, durante um dos piores períodos da pandemia do coronavírus, mas nunca chegou a ser gravada. A publicação do livro físico “DIÁRIO DE UM IMAGO: contos e causos de uma banda underground”, de Fabio Shiva, motivou o letrista a compartilhar o álbum nesse formato de “sombra de canções”, apenas com as letras. Uma experiência diferente, que vale a pena ser vivida. Boa catarse!

 

Leia o PDF grátis:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7971321

 

B – Ricardo Labuto Gondim (Atmosfera Literária com Fabio Shiva)


 

Uma ideia muito bacana, de escrever um livro como se fosse o roteiro de um filme B dos anos 1950. E o melhor de tudo: é uma história que acontece no Brasil, escrita por um autor brasileiro. Viva viva viva! A nossa nova literatura!

 

“Atmosfera Literária com Fabio Shiva” é um quadro do programa ATMOSFERA 102, da Rádio 102.7 FM (Além Paraíba – MG), todo sábado de 12h às 14h, com apoio da EDITORA NATESHA. Apresentação: Fernando Bamboo. Técnico de Som: Venilton Ribeiro.

https://www.radios.com.br/aovivo/radio-1027-fm/17615

 

YouTube:

https://youtu.be/ocK2hdTqgkg

 

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