O MESTRE E MARGARIDA - Mikhail Bulgakov
Li uma obra bárbara
desse autor do séc. XIX que me encantou ‘Diaboliada’ e logo fiquei curiosa para
ler mais. Como todo bom russo foi acusado de comunismo e teve seus trabalhos
censurados, mas aqui entre nós, ele ridicularizava mesmo o regime em suas
obras. Ahaha
Esse obra levou mais de 12 anos para ser
concluída começando a ser escrita em 1928, mas em 1930 o próprio autor queimou
os manuscritos de raiva por ter tido mais um de seus livros cabalísticos
censurados. Recomeçou a escrever em 1931 em etapas, pois estava ficando cego e
era necessária ajuda de sua esposa para escrever ditando, até seu término em
sigilo 1 mês antes de sua morte em 1940 aos 49 anos, porém só foi publicada 26 anos depois em 1966 como
parte da obra censurada. Muitas versões clandestinas foram publicadas, e a
versão integral só saiu em 1973. Morreu na miséria....aliás como muitos escritores hoje consagrados.
O enredo é incrível, conta a história da
visita do Diabo a Moscou stalista, numa época em que o país anunciava-se ateu. Pela cronologia e informações do autor na obra, ela se passa nos anos
20, e marca um demônio moralizador que pune a covardia e a mesquinhez, pois
segundo o autor essa é a pior das fraquezas do ser humano. A história faz
um paralelo entre Moscou dos anos 20 e o tempo de Cristo em Jerusalém, no período
da Páscoa. O Diabo de nome Wolando está sobre o manto de um assustador professor
de magia negra, que mesmo com fala mansa tem um ar aterrorizador, seguido por
uma comitiva muito estranha e satânica ... um homem que se veste de forma
grotesca, o gigante gato preto que anda sobre duas patas, um ruivo medonho com
um enorme dente canino, um homem misterioso, e uma bela jovem ruiva e nua...que
farão da cidade um inferno.
Os estranhos visitantes
se envolvem com o mestre, um escritor perseguido pelo governo, pela
publicação de um romance falando dos últimos dias da vida de Jesus e protagonizado
por Pôncio Pilatos, e sua amante colaboradora Margarida. Completamente
angustiado o mestre queima os manuscritos e acaba em um manicômio. Sua amante
tenta resgatá-lo e para isso se alia ao demônio, protagonizando cenas incríveis
da obra.
Uma Moscou cheia
de bruxas nuas voando em vassouras, magias, demônios, frente a uma Jerusalém escrita
com um rigor histórico ímpar, carregando as máculas de múltiplas torturas,
condenações, comprometimentos políticos, corrupção, demonstrando nesse paralelo
entre o real e o fictício, uma saborosa crítica velada política aos soviéticos.
É incrível como o autor consegue com suas
bárbaras descrições sobre Jerusalém levar o leitor a fazer parte dessa
paisagem. O autor sabia o que uma obra,
falando sobre figuras religiosas poderia causar numa terra onde o ateísmo era
imposto por lei. Por isso escreveu em segredo, aliás já tinha sido censurado
por toda uma vida por conta de suas críticas políticas. A obra traz ainda uma
linda e explicativa epígrafe, depois descobri que era de Goethe... "-...mas, quem é você, afinal? - Sou
a parte da força que quer sempre o mal, mas sempre faz o bem", e é isso
mesmo que trata a obra. A eterna luta do bem contra o mal...onde no desfecho os
dois tem a mesma visão, nem o bem é absoluto, nem o mal, porém a covardia é a
pior fraqueza humana nos dois polos. Um terror
maravilhoso que mistura, ficção, magia, religião, misticismo, pesquisa,
política.. Adoreiiii a obra e recomendooo muitoooo!!!
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