Resenha do livro
“O TUPI QUE VOCÊ FALA”, de Claudio Fragata e Maurício Negro
Recebemos esse lindo livro infantil como um mimo do I Encontro de Mulheres Sereias de Itapuã, no qual minha esposa Fabíola teve a alegria de participar. Li o livro na mesma hora e fiquei encantado pela proposta, ao mesmo tempo tão simples e tão necessária: mostrar para as crianças (de todas as idades) o quanto a língua tupi está presente no vocabulário dos brasileiros. E a melhor maneira de evidenciar essa presença é meramente repetir as palavras citadas no livro:
Guri, Jabuticaba, Jabuti, Sagui, Tamanduá, Siri, Sucuri, Jacaré, Capivara, Arara, Urubu, Tucano, Paca, Tatu, Caju, Guaraná, Pitanga, Maracujá, Abacaxi, Samambaia, Sabiá, Paçoca, Piranha, Taquara, Perereca, Taturana, Peteca, Pororoca, Boboca, Saci, Pipoca, Amendoim, Curumim.
Ler “O Tupi Que Você Fala” (https://youtu.be/OAYXG8OQH5M?si=bRVJVjXieEVthgge) me fez evocar a impactante leitura de “O Casamento Entre o Céu e a Terra” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2023/08/ou-o-futuro-sera-ancestral-ou-nao.html), coletânea de histórias indígenas recontadas por Leonardo Boff.
E daí lembrei de um fato surpreendente, que só fui conhecer há bem pouco tempo: em meados do século XVIII, a língua mais falada no Brasil não era o português, mas a chamada “língua geral”, que era basicamente uma variação da língua tupi original. E isso era tão forte e presente nas relações comerciais e sociais que um português que viesse para o Brasil precisaria de intérprete da “língua geral” para poder se comunicar por aqui... E tudo mudou a partir de 1757, quando o Marquês de Pombal promulgou uma série de leis conhecidas como Diretório dos Índios, proibindo que se falasse o tupi no território brasileiro. Essas leis foram reforçadas pelo uso da violência contra os infratores até que, finalmente, a língua tupi foi praticamente erradicada do Brasil.
Isso me fez pensar em uma antiga série de gibis da Marvel, intitulada “O Que Aconteceria Se...?”, com especulações sobre futuros alternativos, caso algum detalhe crucial fosse alterado na cronologia dos super-heróis. Por exemplo: “O que aconteceria se a aranha radioativa tivesse picado a Mary Jane e não o Peter Parker?” ou “O que aconteceria se o Capitão América não tivesse sido congelado?”
Foi o suficiente para que eu passasse bons momentos imaginando “o que aconteceria se essa lei do Marquês de Pombal não tivesse sido promulgada?” Ou, mais simplesmente: “O que aconteceria se os brasileiros continuassem falando tupi até hoje?”
Curiosamente, ao invés de respostas, essas questões suscitaram apenas novas perguntas:
- Será que esse isolamento linguístico (pois seríamos o único país do mundo a falar tupi e não um dos tantos que falam português) desenvolveria um senso de identidade mais forte?
- Será que teríamos nos curado de nosso “complexo de vira-lata”, associando nossa identidade nacional com os habitantes originais do Brasil, os povos indígenas, e não mais nos vendo como refugos e degradados do império europeu?
- Será que termos uma língua indígena como idioma nacional teria despertado uma relação de mais respeito e reverência com a natureza?
- Será que estaria ocorrendo ainda o genocídio indígena?
- Seríamos hoje tão vulneráveis ao fascínio de ideologias nazifascistas?
- Como seria a nossa literatura? E nossas escolas? E nossa sociedade?
Depois de tantos devaneios, uma pergunta permaneceu: será que ainda temos como resgatar de alguma forma essa herança tupi, patrimônio brasileiro que foi sequestrado de nossa cultura?
Ato contínuo, fui procurar cursos on-line para aprender Tupi. Felizmente, há vários:
https://youtu.be/EvwFGaTKZy0?si=InutXbazk1dLDVjH
https://youtu.be/ctGZ4jr3XFw?si=KSn_9BPN8Zo-kRXZ
https://youtu.be/qKoc_Uiy6Yw?si=6UVLRqINsvxP4zmr
HA’EVEte! [Gratidão!]
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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor
de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI -
Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).
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Instagram: https://www.instagram.com/prosaepoesiadefabioshiva/
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