Resenha do
livro “BEIJO”, de Ed McBain
Devo muito a Ed McBain. Mais especificamente, a uma sacola com duas ou três dúzias de pocket books desse autor, a maioria dos quais da série do 87º DP, que adquiri pela bagatela de dois por um real em uma inesquecível feira de livros na Cinelândia, há quase duas décadas. Dentre esses livros estava “Kiss”, título original desse “Beijo”, que tantos anos depois tive a oportunidade de reler, agora na tradução brasileira da excelente Coleção Negra da Editora Record.
“Beijo” foi uma boa escolha como representante da extensa série do 87º DP. A principal característica dessa série é retratar minuciosamente a rotina de trabalho de uma delegacia policial nos Estados Unidos, chegando ao ponto de apresentar fac-símiles de boletins de ocorrência e outros documentos oficiais. Mas o charme da série vai muito além desse toque de realismo dado pela papelada burocrática.
Ed McBain é
sobretudo um grande contador de histórias. Além de sua vasta produção de
romances policiais, também escreveu para o cinema. É de sua autoria (sob outro
pseudônimo, Evan Hunter), por exemplo, o roteiro do aclamado filme “Os
Pássaros”, dirigido por Alfred Hitchcock (https://youtu.be/crWsGM_u894). Suas histórias são concisas e
elegantes, com bastante suspense, reviravoltas satisfatórias e finais
surpreendentes. Dentre as muitas coisas que devo a Ed McBain está a melhor
definição de escrever ficção que já vi: “The subtle art of understatement” [“A
sutil arte do eufemismo”].
E esse eufemismo se faz presente no próprio título de “Beijo”. Uma simples palavra, mas com tantas camadas de sugestões de significados. Alguém desavisado poderia imaginar se tratar de uma história de amor (o que não deixa de ser, de forma irônica e até perversa). Mas logo vêm à mente outros contextos contraditórios para essa mesma palavra: “beijo” evoca também a traição de Jesus, por exemplo.
Outra característica marcante dos livros da série do 87º DP é sempre apresentarem dois temas principais, que de alguma forma acabam se entrelaçando ao final da história. No caso de “Beijo”, temos como primeiro tema o julgamento do assassino do pai do detetive Steve Carella, um dos heróis policiais da série, aliás o principal deles. Há vários outros, que se alternam no protagonismo a cada episódio. Um dos motivos para “Beijo” ser um bom representante da série como um todo é uma cena que parece ter sido escrita como apresentação dos personagens (creio que a intenção foi essa): uma reunião dos detetives do 87º Distrito Policial, em que estão presentes, além do próprio Carella, o calvo precoce Meyer Meyer, o loiro parrudo Coton Hawes, o negro parrudo Arthur Brown, o problemático Bert Kling, o cínico Andy Parker, o azarado Bob O’Brien e o chefe dessa turma, o tenente Byrnes. Até mesmo o Gordo Ollie Weeks (Fat Ollie Weeks no original), implicante policial de outro distrito que vira e mexe dá o ar da graça nas histórias do 87º DP, também aparece em “Beijo”, o que acabou por me convencer que McBain escreveu mesmo esse livro com a intenção de fazer uma espécie de “programa piloto” da série (https://youtu.be/l-B5TDt3UjY).
O segundo tema
do livro gira em torno da bela Emma Bowles e as sucessivas tentativas de
assassinato que ela sofre. Em algum momento dessas tentativas, um beijo
acontece...
Voltando à minha dívida com Ed McBain. Eu estava escrevendo o meu primeiro livro, o romance policial “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/), e me deparei com uma grande dificuldade: como descrever o cotidiano de uma delegacia de polícia? Cheguei a entrevistar dois policiais (sendo que um deles acabou me dando informações falsas, provavelmente por não acreditar na pureza de minhas intenções ao lhe fazer aquelas perguntas). Mas ainda assim não me sentia seguro. Até que um belo dia, após a leitura do enésimo livro da série do 87º DP, me dei conta de que eu podia saber muito pouco sobre a rotina de trabalho de uma delegacia policial “de verdade”, mas conhecia suficientemente bem a rotina de trabalho não só do 87º DP como de diversos outros policiais de tantos romances que venho devorando vorazmente desde que li meu primeiro livro de Agatha Christie, aos 11 anos. Essa descoberta foi uma verdadeira libertação. Destravei e pude avançar em meu Sincronicídio até a sua apoteótica conclusão. Por isso tudo, e também pelas muitas horas de boa diversão, thank you very much, Mr. Ed McBain!
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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).
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Instagram: https://www.instagram.com/fabioshivaprosaepoesia/
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O SINCRONICÍDIO: Sexo, Morte & Revelações Transcendentais – Fabio Shiva
Leia o PDF grátis:
https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7847612
Para
celebrar o seu décimo aniversário, a Caligo Editora está disponibilizando
gratuitamente o PDF do romance policial “O SINCRONICÍDIO: sexo, morte &
revelações transcendentais”, de Fabio Shiva. Lançado em 2013, o livro chama
atenção pela originalidade da trama, que mistura xadrez e I Ching.
“E foi assim que descobri que a inocência é como a esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”
Haverá um desígnio oculto por
trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas
um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os
diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o
inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para
morrer.
“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos
abraçar a escuridão.”
Suspense, erotismo e
filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma
história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo
(clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das
Mutações. Um romance de muitas possibilidades.
Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender
o leitor.
Livro físico:
E-book:
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