Resenha do
livro “PERRY RHODAN: O SEGREDO DO COFRE DE TEMPO (P-012)”, de Clark Darlton
A série Perry
Rhodan me fascinou durante o começo de minha adolescência, quando li (e
colecionei com zelo) os primeiros duzentos e tantos episódios da saga. Durante
a pandemia, tive a feliz ideia de revisitar esses livros tão queridos, junto
com meu pai, que foi quem me apresentou a Perry Rhodan, presenteando-me com os
exemplares que ele já possuía da série e depois comprando novos volumes, que na
época eram vendidos quinzenalmente nas bancas de jornais. Pois bem, de 2021
para cá meu pai já leu mais de 500 (!!!) livros da série Perry Rhodan, enquanto
eu... acabo de terminar, a custo, o volume 12, depois de meses enrolando para
vencer essas poucas páginas.
O que terá
acontecido? É certo que não tenho como reviver hoje todo o entusiasmo que a
saga galática de Perry Rhodan me suscitou, em meus 11 anos. Contudo quero
continuar lendo, pois lembro muito bem de alguns momentos da série que desejo
revisitar (e também por conta de um projeto que venho desenvolvendo com muito
carinho).
O volume
anterior, “Mutantes em Ação”, foi o pior até aqui, e tem grande responsabilidade
em ter diminuído o meu entusiasmo, por conta de elementos gritantemente
xenofóbicos da narrativa, que meu eu leitor infantil não havia percebido, mas
que chocaram seu alter ego atual. Felizmente, o volume 12 melhora bastante
nesse quesito, tendo sido escrito por Clark Darlton, um dos principais autores
da saga. Já de cara, temos essa passagem que me deu muito alívio ler:
“— Seria facílimo para vocês arrasarem os
invasores — disse ele, pensativo — porém eu não o recomendaria. Algumas naves
escaparão, inevitavelmente, levando as novas do ocorrido até Topsid. E existem
armas para se contrapor mesmo à mais bem armada espaçonave. Os tópsidas
planejariam vingança, e algum dia voltariam com reforços. O mais indicado seria
entrar num entendimento com eles.
— Um tratado de paz com as lagartixas?! —
reclamou Bell.
— Por que não? As raças inteligentes do
Universo possuem formas externas diversas, sem serem melhores ou piores por
isso. Os arcônidas têm alianças com seres semelhantes a aranhas, e seus
melhores amigos pertencem a uma raça que vive nos mares de um mundo aquático.
Não, meu caro, a forma orgânica pouco importa; o que conta é o caráter.”
E logo em
seguida fiquei ainda mais satisfeito, ao reencontrar elementos filosóficos muito
inspiradores (que permeiam toda a série), como o expresso nesses trechos:
“O tempo da diferenciação racial passou; o
homem só poderá aspirar à sucessão dos arcônidas quando se tornar terrano.”
***
“— Talvez possamos chegar a um
entendimento amistoso com eles. Crek-Orn parece ser um homem sensato.
— Homem? — reclamou Bell, indignado. —
Como tem coragem de dar a uma lagartixa o título de homem?
— Você jamais aprenderá a raciocinar em
termos galácticos — reprovou Rhodan, gravemente. — Que importa a aparência
externa quando se trata de eliminar barreiras?”
Apesar dessa
nítida melhoria conceitual, contudo, não consegui me empolgar com a leitura. O
motivo agora foi bem outro: é que a aventura me pareceu fácil demais e até
injusta, com o exército de Mutantes de Perry Rhodan fazendo os tópsidas de
lagarto e sapato... Acho que houve um certo exagero na concepção dos mutantes,
talvez devido à força irresistível que essa ideia teve na época (lembrando que
essas primeiras histórias foram escritas no começo da década de 1960, antes
mesmo dos famosos X-Men da Marvel). A impressão que tive é que alguns
personagens mutantes foram criados só para atender demandas específicas da
trama, como nesse caso:
“Tanaka Seiko é um detector natural. Pode
captar ondas radiofônicas e interpretá-las, desde que tenham sido emitidas por
seres inteligentes. Portanto poderá captar essas ondas radiofônicas cósmicas
que dão origem à cúpula energética em torno da arca. Se conseguir desviá-las,
teremos acesso livre aos documentos, que retornarão instantaneamente ao
presente. Eis o princípio do problema todo.”
Bom, o que
importa é que terminei a leitura. Posso seguir adiante e encarar o volume 13 da
saga: “A Fortaleza das Seis Luas”.
“— Muitas vezes o paradoxal é que é o
verdadeiro, quando se raciocina na quinta dimensão — observou Rhodan.”
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Fabio
Shiva é músico, escritor e produtor
cultural. Fundador da banda Imago Mortis. Coautor e roteirista de ANUNNAKI -
Mensageiros do Vento, primeira ópera rock em desenho animado produzida no
Brasil. Publicou livros de gêneros diversos: romance policial, ficção
especulativa, contos, crônicas, infantojuvenil e poesia, além de várias
antologias poéticas como organizador. Ghost Writer com seis livros
publicados. Idealizador e proponente de diversos projetos aprovados em editais
públicos, como Oficina de Muita Música!, Gaia Canta Paz, Pé de Poesia, Doce
Poesia Doce, Poesia de Botão, Gincana da Poesia e P.U.L.A. (Passe Um Livro
Adiante). Autor convidado na Bienal do
Livro Bahia 2022. Desde 2023 atua à frente da Natesha Editora.
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