Resenha do
livro “O TEMPO E O VENTO – Parte II: O RETRATO”, de Erico Verissimo
Amei tanto ler “O Continente”, primeira parte da monumental saga “O Tempo e o Vento”, que demorei para criar ânimo de ler a segunda parte. Afinal, não havia como a continuação superar a grandiosidade das histórias de Capitão Rodrigo e Ana Terra... Aliás, como seria possível essa narrativa prosseguir sem a figura inigualável do Capitão Rodrigo???
O próprio Erico Verissimo deve ter pensado o mesmo, tanto que recorreu a um expediente originalíssimo em “O Retrato”: não temos mais o capitão Rodrigo Cambará, mas o seu descendente e homônimo, o doutor Rodrigo Cambará. Bisneto do famoso capitão, o doutor Rodrigo é um personagem muito interessante, que me evocou as famosas variações de Bach, que reinventam e criam novidade e fascínio a partir de um mesmo tema fundamental.
O tema do “Capitão Rodrigo”, penso eu, é uma bem dosada mistura de qualidades e defeitos, igualmente intensos e entusiasticamente bem vividos, que insuflam irresistível carisma a esse que é indubitavelmente um dos grandes personagens da literatura brasileira. Em “O Retrato”, temos uma bela e igualmente fascinante variação desse tema na figura do doutor Rodrigo Cambará, que é quase uma reencarnação do célebre bisavô.
Isso em meio a um cenário de efervescência política, com Verissimo diagnosticando com a costumeira argúcia alguns dos principais males que afligem desde sempre o povo brasileiro, como a sua vocação para o militarismo e para o autoritarismo:
“Se o Brasil não eleger Rui Barbosa a 1º de março, então tudo estará perdido, o País cairá nas mãos dos militares e a República de Castilhos será transformada numa ditadura nefasta.”
Palavras estranhamente proféticas, considerando-se que “O Retrato” foi publicado em 1951...
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Fabio
Shiva é músico, escritor e produtor
cultural. Fundador da banda Imago Mortis. Coautor e roteirista de ANUNNAKI -
Mensageiros do Vento, primeira ópera rock em desenho animado produzida no
Brasil. Publicou livros de gêneros diversos: romance policial, ficção
especulativa, contos, crônicas, infantojuvenil e poesia, além de várias
antologias poéticas como organizador. Ghost Writer com seis livros
publicados. Idealizador e proponente de diversos projetos aprovados em editais
públicos, como Oficina de Muita Música!, Gaia Canta Paz, Pé de Poesia, Doce
Poesia Doce, Poesia de Botão, Gincana da Poesia e P.U.L.A. (Passe Um Livro
Adiante). Autor convidado na Bienal do
Livro Bahia 2022 e da FLIPO Castro Alves 2025. Desde 2023 atua à frente da
Natesha Editora.
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