Por Elenilson Nascimento
Nessa quarta parte da antologia "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", organizado por Ítalo Moriconi, as produções dos anos 70 que refletem um momento histórico caracterizado inicialmente pelo autoritarismo e por uma censura rígida são mostradas nesse capítulo – com repetições de autores e faltando muitos outros. Nos “diabólicos”, sofridos e repressivos anos 70 a literatura rompeu (em parte) o compromisso com a realidade, com o intelectualismo e com o hermetismo modernista da Semana de Arte Moderna dos anos 20 e partiu para ser marginal, diluidora, anticultural, pós-moderna, sem constituir um movimento unificado, escritores jovens (e não tão jovens assim) se declararam marginais e pipocaram de norte a sul do país, espalhando que a literatura perderia a pompa e a solenidade e decretando o fim da modernidade e início da polêmica pós-modernidade para uns, e contemporaneidade para outros.
Segundo Ítalo Moriconi, organizador da antologia: “Os anos 70 marcam um momento de apogeu do conto no Brasil, depois do salto de qualidade na década anterior. Intensificam-se ímpetos revolucionários e dilaceramentos pessoais, agora num contexto de violência política e social até então inédito no país. O conto confirma-se como instrumento adequado para expressar artisticamente o ritmo nervoso e convulsivo desta década passional. Entra na moda um novo e carinhoso retrato de escritor, o “contista mineiro”, descendente legítimo das gerações de Carlos Drummond, Fernando Sabino e Otto Lara Resende. Diante do consumismo e da internacionalização em que mergulha a classe média, a arte do conto busca trazer à tona o outro lado – o lado violento e obscuro da realidade. O contista brasileiro dos anos 70 quer desafinar o coro dos contentes”.
Mas eu senti falta de outros autores também importantes neste período que foram literalmente esquecidos nessa antologia. Cadê os textos de Nelson Rodrigues, Guimarães Rosa, Carlos Castañeda, Henfil, Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal, Ruy Guerra, Ariano Suassuna, Plínio Marcos e muitos outros? Nesse período, explorando todas as possibilidades do papel, folhetos, jornais, revistas, manuscritos, guardanapos de bares e porque não dizer aos muros, muitos autores deram voz aos nossos sentimentos.
Um período onde a literatura foi desenvolvida sob a mira dos fuzis militares, numa manifestação de denúncia e de protesto, uma explosão de palavras geradora de textos espontâneos, mal acabados muitas vezes, ou na maioria das vezes, irônicos, coloquiais, que falam dos mundos imediatistas dos próprios escritores, zombando da cultura e escarnecendo a própria literatura. Cabe chamar a atenção que dentre estes escritores, muitos deles fizeram uma literatura de excelente qualidade, como é o caso dos aqui selecionados neste livro. E, sobretudo, os esquecidos pelo organizador.
+ Clique aqui e leia a continuação da Part 4 da resenha – Anos 70 (Violência e paixão).
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