Iniciei a leitura de O jogo dos opostos (Leya, 368 páginas) sem muita expectativa. A capa é bonita e a sinopse bem feita. Ainda assim é preciso um pouco mais para me chamar a atenção e ao ler na capa “Um sobrevivente da guerra deve escolher a vingança ou o perdão?” o inseto da curiosidade me picou.
O livro conta a história de Paul Miller, uma pessoa comum e que se vê enredado pelos absurdos da Segunda Guerra. Fora do campo de concentração é amparado por Alice, que cuida dele até que consiga se reestabelecer fisicamente. Ele se sente grato e atraído pela mulher, mas enfrenta um grande dilema: ir embora ou ficar com a mulher em um lugar em que foi tão duramente castigado? Decidindo esquecer momentaneamente o passado e seus colegas de confinamento inicia a modernização do lugarejo em que agora vive e é eleito prefeito, mas as coisas se complicam quando o comandante responsável pelas torturas do campo reaparece. O que fazer então? Vingar a todos do passado ou seguir em frente?
Taí um enredo forte, mas nem de longe original. Mas nem só de enredo vive um grande livro. Como é bom se deparar com quem tem o dom e a arte de colocar as palavras certas nos lugares certos, é de arrepiar. Cada construção frasal revela cuidado, grande erudição e certa ironia de Norman Lebrecht, tudo é perfeito.
Explicando sobre o lugarejo:
“... Trata-se de um lugar onde não chegava sinal de rádio, e uma pessoa poderia se sentar a tarde toda em um bar ao ar livre sem ouvir nenhuma tossidela de combustão interna. ‘É o paraíso’, suspirou o líder do partido cristão junto à sua caneca de cerveja espumante. ‘O crucifixo de nossa civilização’, concordou o satisfeito candidato socialista.”
Sobre os visitantes do lugarejo, que nada entendem dos habitantes locais:
“Os aldeões sorriam timidamente perante esses cumprimentos piedosos, palavras perfumadas de gente da cidade que não conseguia ordenhar uma cabra para salvar uma criança moribunda. O que seus dedos brancos como papel sabiam da luta de arrancar a pela para extrair sustento da pedra dura, com seus traseiros gordos em uma latrina, na geada de dezembro?”
As palavras são ácidas, irônicas e acima de tudo bem empregadas, indispensáveis, como se nascidas para serem ditas daquela forma, naquele momento. Um deleite para apreciadores da língua (quero deixar aqui meus cumprimentos à tradutora Elisa Nazarian, que foi perfeita em seu detalhado ofício) e um prato apetitoso para quem quer se embrenhar no universo da literatura.
Leia mais em:
Vim agradecer a sua visita, deu uma olhada em seus blogs e sai daqui com uma lista de livros que preciso e quero ler. Obrigado.
ResponderExcluir