Há muito tempo eu queria ler esse livro,
e graças à gentileza do amigo Anderson ele finalmente veio parar nas minhas
mãos. O livro é pequetito, cabe no bolso da camisa. O que confirma o dito de
que os melhores perfumes estão nos menores frascos...
Sobre os poemas, senti neles ecos de
beleza, mas era como se os lesse através de um véu. Nunca os problemas e
limitações da tradução são tão evidentes quanto no caso da poesia. E ainda mais
quando se trata de poesia rimada. Não é a tradução do poema, mas um novo poema
escrito em outra língua, apenas inspirado no original. Isso não implica em
demérito para o tradutor: é uma limitação inerente ao ato de traduzir.
Daí que não pude curtir tanto os poemas
de Rilke, justamente por saber que a sua
essência está inacessível numa tradução, por melhor que seja. Ai de mim! que
ainda não sei alemão... por enquanto tenho de me contentar com o eco da
beleza...
Mas não deixei de me divertir por conta
disso. Meu poema preferido foi “O Cisne”:
Este
sacrifício de avançar
pelos
feixes do irrealizado
lembra
um cisne, altivo a caminhar.
E
a morte – esse nada mais buscar
do
chão diariamente repisado –
lembra
a sua angústia de pousar
sobre
as águas que o recebem mansas
e
cedem sob ele, em suaves tranças
de
marolas, que cercá-lo vem;
enquanto
ele, calmo e independente
segue
sempre majestosamente
como
ao seu capricho lhe convém.
Cartas
a um jovem poeta
Aí é que o bicho pega! Toda a poesia que
estava inacessível jorra em corredeiras da prosa de Rilke em suas cartas ao
jovem Kappus. Lindo é pouco!
Para mim foi especialmente um motivo de
grande júbilo ler esse livro. É uma alegria muito grande perceber que as
grandes almas falam todas a mesma língua! A sabedoria maior do coração não
precisa de tradutor: cala fundo na alma e é assimilada no silêncio. O que Rilke
está dizendo poderia ter sido dito por Gandhi, Tagore ou John Lennon, só para
citar exemplos ao acaso. Perceber isso é inestimável!
Trechos
Para
penetrar uma obra de arte, nada pior do que as palavras da crítica, que somente
levam a mal-entendidos mais ou menos felizes. Nem tudo se pode saber ou dizer,
como nos querem fazer acreditar. Quase tudo o que sucede é inexprimível e
decorre num espaço que a palavra jamais alcançou. E nada mais difícil de
definir do que as obras de arte – seres misteriosos cuja vida imperecível
acompanha nossa vida efêmera.
O
seu olhar está voltado para o exterior. Eis o que não deve tornar a acontecer.
Ninguém pode dar conselhos nem ajudá-lo – ninguém! Só existe um caminho:
penetre em si mesmo e procure a necessidade que o faz escrever. Observe se esta
necessidade tem raízes nas profundezas do seu coração. Confesse à sua alma:
“Morreria, se não me fosse permitido escrever?” Isto, principalmente.
Basta,
no meu entender, sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter
o direito de fazê-lo.
É
esta uma das mais rudes provas do criador, que deve permanecer na ignorância
dos seus melhores dons, não os pressentir sequer, sob castigo de os privar da
sua pureza, da sua virgindade.
É
certo que as veredas da carne são difíceis, mas só o difícil nos interessa.
Quase tudo o que é grave é difícil; e tudo é grave.
Para
a maioria, isto apenas será possível num dia distante; mas “o homem solitário”
pode desde já lançar as bases, construir o futuro com as suas mãos que se
iludem menos. Por isso, prezado senhor, ame a sua solidão, suporte as penas que
dela vierem, e, se essas penas lhe arrancarem queixas, que sejam belas essas
queixas.
Os
homens possuem, para todas as coisas, soluções fáceis e convencionais, as mais
fáceis das soluções fáceis. Entretanto, é evidente que se deve preferir o
difícil: tudo o que vive lá cabe.
Nunca,
nem na morte, que é difícil, nem no amor, que também é difícil, aquele para
quem a existência é uma coisa grave terá o auxílio de qualquer luz, de qualquer
resposta já fornecida, de qualquer caminho previamente traçado. Não há regras
gerais para nenhum destes deveres que trazemos ocultos em nós e que
transmitimos àqueles que nos acompanham sem jamais os esclarecer. Na medida em
que estamos sós, o amor e a morte tocam-se.
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Aproveito para convidar você a conhecer o livro O SINCRONICÍDIO:
Booktrailler:
http://youtu.be/Umq25bFP1HI
Blog:
http://sincronicidio.blogspot.com/
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MANIFESTO – Mensageiros do Vento
LEIA AGORA (porque não existe outro momento):
Eita que lindoooo!!! Titularidade original ‘Briefe an einen jungen Dichter’ - Cartas a um jovem poeta, e por incrível que pareça tem sua titularidade traduzida idem a original ahaha, foi uma obra póstuma, editada 3 anos após sua morte...também li e amei, mas essa obra da sua resenha me parece que juntaram a ela alguns poemas. É tradução de quem, e que editora? Amei a junção....eu queroooooo!!! Coloca no PULA..ahaha
ResponderExcluirTenho uma história com esse autor. Cheguei a ele pelas mãos da russa escritora, transloucada e linda Lou Salomé... que eu amo. É que esse autor de nome de nascimento René foi amante de Salomé, aliás ela foi também amante de Nietzsche, Freud e outros...ahaha
Li uma obra de Salomé com a titularidade ‘Rainer Maria Rilke’, daí fiquei curiosa, descobri que ele era também escritor e fui em busca de suas obras. Fiquei tão encantada e obcecada pela busca, que no meu aniversário de uns anos atrás ganhei de presente de um amigo alemão muito especial, a terceira edição de sua primeira obra, editada em 1894 ‘Leben und Lieder’ – Vida e canções, que virou o meu xodó. Também li ‘Das Merien Leben’ - A vida de Maria.
Vários poetas traduziram esse autor, como Manuel Bandeira e Cecília Meirelles, mas concordo com você, eu também acho que as traduções carregam mais do tradutor do que do autor, principalmente em alemão, que é uma lingua que não tem uma tradução muito fidedigna, pela falta de correspondência...Sabia que ele foi secretário particular do escultor Rodin em Paris? Talvez seja por essa influência expressionista, com seu olhar em paralelo com a imagem x homem, que seus poemas se tornaram tão existencialistas e tão distantes do René meloso anterior, quando amava a fogosa Salomé. Ahah Eu e essa mania de xeretar a vida íntima dos autores...fofoca centenário...ahahh Bem...mas é melhor que ver BBB, ou saber pela revista Contigo, onde a mulher melão operou seu glúteo não é? ahah
Amo esse poema de Rilke feito para Lou Salomé....olha que lindo!
"Elimine meus olhos: eu poderei te ver,
Arranque meus ouvidos: eu poderei te ouvir,
E sem pés poderei caminhar até você,
E sem boca ainda poderei te invocar.
Corte meus braços, eu te segurarei
Com meu coração como se uma mão fosse,
Pare meu coração, e meu cérebro baterá,
E incendeie meu cérebro,
Então te carregarei em meu sangue."
Me disseram que lá pelos anos 2000 saíram duas traduções de Augusto Campos com uma coletânea de poemas de titularidade Novos Poemas, mas infelizmente eu ainda não encontreiiiii! Puxaaa, sua linda resenha fez minha vontade pela busca ser reeditada em meu coração..ahahh
Lua, amei seus comentários, você tem o dom de fazer rir e refletir com a mesma frase!!!
ExcluirNão lembro se ainda estou com esse livro aqui, se estiver é seu!!!
beijo!!!