Essa longa
linda obra escrita nos anos 40, mostra um Drummond maduro, sem humor, e um tanto melancólico, declarando em versos críticos, as
amarguras dos anos da ditadura do Brasil, com os ares sombrios da 2ª Guerra. O
autor mostra toda sua indignação, tristeza e inconformismo com a violência, e a imensidão da sua credibilidade em se ter uma ideologia.
Um autor exposto em 55 poemas com versos livres e estrofes
irregulares, que faz uma reflexão
sobre a guerra, a ditadura Vargas, o
abandono e o cotidiano dessa época. Dentro
desse contexto miserável e sombrio, consegue o autor nos remeter a um mundo de
esperança e suas linhas perfazem, praticamente uma militância da luta pela
liberdade...a tal consciência da importância coletiva da ideologia perdida, que persegue pelas páginas.
A evolução dos poemas segue a mesma linha histórica da
guerra, começando pelo silêncio da opressão e terminando pela morte. Sua
titularidade diz muito da obra, e principalmente o poema A Flor e a Náusea, que
faz um imenso resumo do que vamos encontrar pela obra. A rosa da titularidade indica a esperança do poeta pelo desabrochar de uma nova realidade, e a
expressão “do povo”, entrelaça-se a sua almejada ideologia socialista, abraçada as críticas de um universo materialista desumano (capitalismo), nascendo da
época.
Segundo críticos e estudiosos, o autor faz é um retrato
psicológico vivo, de uma época importante no Brasil e no Mundo, e é vista como a
obra mais politizada desse poeta.
Os
poemas se entrelaçam num duelo entre a política x tristeza...entre a força da
luta e a melancolia x o desencanto com o mundo. O pessimismo e o inconformismo do
poeta, se confrontam com sua esperança num ioio constante, trazendo um testemunho claro da dor coletiva e da
miséria, a partir do materialismo e da desumanidade que o ser humano se
envolveu no mundo moderno.
Adoreiiii a reflexão sobre um
passado feliz, que faz sobre a “Canção de Exílio” de Gonçalves Dias, com sua
nova leitura...’Nova Canção do Exílio”.....”Um sabiá...Na palmeira,
longe....Estas aves cantam....Outro canto.” Linda metalinguagem...deixando transparente seu existencialismo, a partir de suas indagações sobre seu próprio eu, e o seu
realismo social.
Não resisto...
A Flor e a Naúsea
Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Uma flor nasceu na rua!
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
Ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Uma flor nasceu na rua!
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
Ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Lindooooo!!!
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