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quinta-feira, 6 de junho de 2013

ELOGIO DA LOUCURA – Erasmo de Rotterdam



Essa obra humanista do séc. XVI (séc. que adorooooo!) escrita em 7 dias, quando visitava um amigo na Inglaterra Thomas More, é uma obra carregada de provocações, e com tema pouco comum, a loucura. Foi considerada um dos fios da Reforma Protestante, um inteligente sermão, uma sátira honesta, e no meu entender, uma tremenda brincadeira sem objetivo forjado, mas que tornou-se um discurso a ética.  

O próprio autor declara que  não querendo perder tempo com ‘insípidas fábulas’ em sua viagem, resolveu se recrear e se divertir escrevendo  sobre algo que não envolvesse nada sério...., uma pilhéria, uma fantasia como a loucura. Usou como inspiração a lembrança de estudos antigos, e de amigos  principalmente a de Thomas More...ao qual dedicou a titularidade, por Mória (loucura em grego) ser tão parecido com o sobrenome do amigo. ahaha

O autor cria o personagem, “ a loucura”, que com vida própria  se defende e dita sua defesa, baseada sempre na razão. Irritada e indignada por nunca ser elogiada, essa revoltada dama, resolve fazer sua própria defesa, se elogiando e mostrando o quanto está sempre presente na vida da sociedade. Para isso ela  envolve-se nos menores detalhes de todas as ações humanas. Suas falas são tão cheias de emoções e sedução, que leva o leitor a criar simpatia por essa tão sagaz protagonista.

Ela se declara presente nos casamentos, na filosofia, nos jovens com suas buscas incessantes pela verdade, nas seduções femininas, na ignorância, na esperança, na ciência, nas artes, na religião, na política, na formação nas sociedades, nas relações humanas e também no senso comum...

Alguns dos ataques mais contundentes de Erasmo, além dos ao clero claro, é aos acadêmicos e gramáticos e às suas loucuras, e argumenta que são os desejos tolos e irracionais que fazem girar o mundo.O livro se refere à loucura como sinônimo da ignorância humana, da ignorância do monoteísmo, da crença em mitos utópicos, como bondade e a felicidade, considerando também ridículas e absurdas as loucuras das superstições e da adoração dos santos.

Mesmo sendo teólogo e cristão, Erasmo crítica a religião, principalmente a católica, e coloca a loucura  presente mais do que nunca nessa filosofia. Exemplificando para isso as guerras católicas, os impostos cobrados aos fiéis, ao apego material dos bispos, satirizando seu esplendor e o seu mundanismo. Sempre se respaldando, em frases famosas dos próprios personagens religiosos, para amenizar a negra ironia. Foi muito corajoso em expor a corrupção da Igreja, a mais forte e poderosa organização da época.

Como grande parte do livro, é dedicada ao discurso da loucura sobre a igreja e a doutrina cristã, a falta de respeito com os textos sagrados fizeram,  com que Erasmo fosse acusado de herege  e ateu.  Nenhum membro do clero escapa a sátira  do autor, embora seu alvo especial fossem os monges.
"Os monges consideram não saber ler um sinal de santidade. Zurram os salmos nas igrejas como asnos. Não entendem uma só palavra do que dizem, mas imaginam ser o som agradável aos ouvidos do santos. Os frades mendicantes fingem assemelhar-se aos Apóstolos, mas não passam de vagabundos imundos, ignorantes e ousados." ahahahahaha

Erasmo também ridiculariza de forma divertida, as tentativas cientificas de desvendar os segredos da natureza e do desconhecido.
"Como deliram deslumbrados quando inventam palavras para seu próprio uso, quando medem o sol, a lua, as estrelas e as esferas com fitas métricas, quando explicam a causa dos trovões, dos ventos, dos eclipses e de outros fenômenos inexplicáveis, sem exatidão alguma, como se fossem os sectários particulares da natureza criadora ou tivessem descido até nós do Conselho dos Deuses! Enquanto isso a Natureza, magnificamente, ri-se deles e de suas conjecturas!"

Por ser um viajante inveterado e um tremendo observador crítico das sociedades, ele procura enumerar seus defeitos e sua estupidez para o leitor. Mesmo quando relata a hipocrisia dos governantes e do clero, o faz de forma ousada, cercado de um humor bem negro e com conhecimento de causa por seu convívio com intelectuais, dirigentes, clero (viveu num convento e foi ordenado padre) e aristocratas.

O autor nos leva ao riso, quando relata que a alegria de vida, a felicidade, e os melhores delírios e emoções são sinônimos de loucura. Como também quando declara ser ela, a personificação da sinceridade e da verdade... e que a bondade necessita dela para seguir a diante. Em certo momento, a própria loucura faz uma autoanálise, e ataca os que se envergonham de sua condição de super loucos, e não se reconhecem como necessários.

A Loucura afirma que, sem sua ajuda, a sociedade sucumbiria. E não é a pura verdade? ahahahahaha

É uma leitura deliciosa, mas muito complexa em detalhes, com linguagem de difícil compreensão e muito rebuscada.  Faltou dizer muitaaaa coisa...e eu ameiiii!!!


Um comentário:

  1. Maravilhosa resenha!

    Comecei a ler esse há muito tempo, acabei deixando de lado justamente por ter achado a leitura muito complexa... mais um motivo para eu ter amado a resenha!

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