Essa obra
humanista do séc. XVI (séc. que adorooooo!) escrita em 7 dias, quando visitava
um amigo na Inglaterra Thomas More, é uma
obra carregada de provocações, e com tema pouco comum, a loucura. Foi
considerada um dos fios da Reforma Protestante, um inteligente sermão, uma sátira
honesta, e no meu entender, uma tremenda brincadeira sem objetivo forjado, mas
que tornou-se um discurso a ética.
O próprio
autor declara que não querendo perder
tempo com ‘insípidas fábulas’ em sua viagem, resolveu se recrear e se divertir
escrevendo sobre algo que não envolvesse
nada sério...., uma pilhéria, uma fantasia como a loucura. Usou como inspiração
a lembrança de estudos antigos, e de amigos principalmente a de Thomas More...ao qual
dedicou a titularidade, por Mória (loucura em grego) ser tão parecido com o
sobrenome do amigo. ahaha
O
autor cria o personagem, “ a loucura”, que com vida própria se defende e dita sua defesa, baseada sempre
na razão. Irritada e indignada por nunca ser elogiada, essa revoltada dama,
resolve fazer sua própria defesa, se elogiando e mostrando o quanto está sempre
presente na vida da sociedade. Para isso ela envolve-se nos menores detalhes de todas as
ações humanas. Suas falas são tão cheias de emoções e sedução, que leva o
leitor a criar simpatia por essa tão sagaz protagonista.
Ela
se declara presente nos casamentos, na filosofia, nos jovens com suas buscas
incessantes pela verdade, nas seduções femininas, na ignorância, na esperança,
na ciência, nas artes, na religião, na política, na formação nas sociedades,
nas relações humanas e também no senso comum...
Alguns
dos ataques mais contundentes de Erasmo, além dos ao clero claro, é aos
acadêmicos e gramáticos e às suas loucuras, e argumenta que são os desejos
tolos e irracionais que fazem girar o mundo.O
livro se refere à loucura como sinônimo da ignorância humana, da ignorância do
monoteísmo, da crença em mitos utópicos, como bondade e a felicidade,
considerando também ridículas e absurdas as loucuras das superstições e da
adoração dos santos.
Mesmo
sendo teólogo e cristão, Erasmo crítica a religião, principalmente a católica,
e coloca a loucura presente mais do que
nunca nessa filosofia. Exemplificando para isso as guerras católicas, os
impostos cobrados aos fiéis, ao apego material dos bispos, satirizando seu
esplendor e o seu mundanismo. Sempre se respaldando, em frases famosas dos
próprios personagens religiosos, para amenizar a negra ironia. Foi muito
corajoso em expor a corrupção da Igreja, a mais forte e poderosa organização da
época.
Como
grande parte do livro, é dedicada ao discurso da loucura sobre a igreja e a
doutrina cristã, a falta de respeito com os textos sagrados fizeram, com que Erasmo fosse acusado de herege e ateu.
Nenhum membro do clero escapa a sátira
do autor, embora seu alvo especial fossem os monges.
"Os
monges consideram não saber ler um sinal de santidade. Zurram os salmos nas
igrejas como asnos. Não entendem uma só palavra do que dizem, mas imaginam ser
o som agradável aos ouvidos do santos. Os frades mendicantes fingem
assemelhar-se aos Apóstolos, mas não passam de vagabundos imundos, ignorantes e
ousados." ahahahahaha
Erasmo também ridiculariza de forma divertida, as tentativas cientificas de
desvendar os segredos da natureza e do desconhecido.
"Como
deliram deslumbrados quando inventam palavras para seu próprio uso, quando
medem o sol, a lua, as estrelas e as esferas com fitas métricas, quando
explicam a causa dos trovões, dos ventos, dos eclipses e de outros fenômenos
inexplicáveis, sem exatidão alguma, como se fossem os sectários particulares da
natureza criadora ou tivessem descido até nós do Conselho dos Deuses! Enquanto isso
a Natureza, magnificamente, ri-se deles e de suas conjecturas!"
Por
ser um viajante inveterado e um tremendo observador crítico das sociedades, ele
procura enumerar seus defeitos e sua estupidez para o leitor. Mesmo quando
relata a hipocrisia dos governantes e do clero, o faz de forma ousada, cercado
de um humor bem negro e com conhecimento de causa por seu convívio com
intelectuais, dirigentes, clero (viveu num convento e foi ordenado padre) e
aristocratas.
O
autor nos leva ao riso, quando relata que a alegria de vida, a felicidade, e os
melhores delírios e emoções são sinônimos de loucura. Como também quando
declara ser ela, a personificação da sinceridade e da verdade... e que a
bondade necessita dela para seguir a diante. Em
certo momento, a própria loucura faz uma autoanálise, e ataca os que se
envergonham de sua condição de super loucos, e não se reconhecem como
necessários.
A
Loucura afirma que, sem sua ajuda, a sociedade sucumbiria. E não é a pura
verdade? ahahahahaha
É
uma leitura deliciosa, mas muito complexa em detalhes, com linguagem de difícil
compreensão e muito rebuscada. Faltou
dizer muitaaaa coisa...e eu ameiiii!!!
Maravilhosa resenha!
ResponderExcluirComecei a ler esse há muito tempo, acabei deixando de lado justamente por ter achado a leitura muito complexa... mais um motivo para eu ter amado a resenha!