CONFIRA ESSA COLEÇÃO INCRÍVEL
SOBRE OS MISTÉRIOS DA CRIAÇÃO LITERÁRIA
NO SITE: http://www.tirodeletra.com.br/
Apresentação
Bernardo Ajzenberg
Como a
pedra e suas camadas, tudo aquilo que funda o gesto criador é fruto de
acumulação. Nada surge do nada. Se todo ofício tem sua carga de mistérios, é
inegável que certos empreendimentos fincam raízes que a terra esconde menos,
formam um tronco transparente e ramos cristalinos, a folhagem sempre
identificável. E que outros, por sua vez, nascem e vivem difusos, nos
interstícios do ar, do húmus, das paredes. Sem necessidade de qualquer
julgamento ou exclusão de mérito, cabe, no entanto, constatar as diferenças. E,
entre os ofícios da última leva – aqueles mais cavilosos, meio plúmbeos –,
está, sem dúvida, o de escritor.
Por que se
escrevem livros? Como se escrevem? Para quem se escrevem? Em sã consciência,
nem mesmo a mais sofisticada das mentes ousaria enquadrar tais interrogações de
modo definitivo com respostas cabais. No entanto, essas perguntas, velhas
perguntas, por mais que sejam irrespondíveis peremptoriamente, não se deixam
enterrar. O trabalho realizado neste projeto por José Domingos de Brito tem
importante valor, seja para escritores, seja para leitores, para quem se
interesse por literatura. Não somente por seu aspecto documental, de ampla
compilação, mas também pelas interrogações que suscita – e como são bem-vindas
as dúvidas, em se tratando de literatura! – ao lado dos esclarecimentos que
proporciona.
Neste
primeiro volume – Por que escrevo? –, o pesquisador não só reproduz as
“explicações” de escritores, como também indica material teórico sobre o tema.
E assim, como está em seu projeto, será feito com o tema como escrevo?, volume
com dicas e conselhos de escritores consagrados para novos escritores,
encerrando-se a coleção com mais quatro volumes que relacionam Literatura com
Cinema, Jornalismo, Sociedade e Religião, respectivamente.
Quaisquer
que sejam as perguntas, na verdade, as respostas dos autores sempre terão algo
de incompleto, certa hipocrisia, exageros e cinismo, um quê de fantasioso – e
até alguma mentira saborosa (por que não?). É incontornável, e é o que, no
fundo, lhes confere graça. Não porque escritores sejam necessariamente
falsários ou enganadores, mas porque seriam, sim, enganadores e falsários –
ludibriariam a si mesmos – se mantivessem uma única e linear resposta por muito
tempo a qualquer uma daquelas indagações.
Experimente
o leitor responder de pronto a seguinte questão, de aparência banal: “por que
leio?” ou esta: “como leio?”. Não é tão simples quanto possa parecer à primeira
vista. Provavelmente a resposta dada pela manhã sofrerá mudanças à tarde e será
reelaborada, pela segunda vez, na mesma noite. Mas, por trás dessas possíveis
ambigüidades ou ironias, uma leitura atenta das respostas reunidas neste livro
saberá filtrar delas a essência genuína – eis o desafio lançado pelos próprios
escritores com seus motivos mascarados –, o que confere à antologia um tom de
suspense intelectual.
Não se
trata de imaginar o ofício de escritor como algo acima do bem e do mal. Pelo
contrário, se nele existem lados obscuros, são os mesmos obscuros que costumam
povoar as mentes de qualquer mortal. A diferença é o modo de lidar com isso:
alguns fazem ciência, outros, esporte; e outros escrevem livros!
Bergson,
citado por Cyro dos Anjos num pequeno livro chamado A criação literária (1956),
via nos romancistas e dramaturgos uma exacerbação da chamada “função
fabuladora”, que todos temos em grau maior ou menor. Em busca de respostas para
a velha pergunta “para que escrever?”, Cyro cita ainda Eduardo Frieiro: “Para
quê? Para nada. Mas justamente esse nada – a ilusão literária – é tudo para
certa raça de imaginativos. É dessa ilusão que se alimentam os indivíduos de
curso lento, os introvertidos, os que aborrecem a vida frenética e cobiçosa dos
indivíduos voltados para fora e só pedem lhes seja permitido saborear
devagarinho as doçuras e branduras das coisas inúteis”. Não é curioso? Pois é
nesse tear que o pesquisador constrói suas peças.
José
Domingos de Brito é um colecionador de entrevistas e depoimentos, como ele
mesmo afirma. Trabalho de anos, também ele, com certeza, resultado de (muita)
acumulação e de verdadeira dissecação do ser literário. Tal pesquisa exaustiva,
que se planeja desdobrar em diversos volumes ao longo dos próximos meses, reúne
sem dúvida elementos que contribuem para consolidar a produção literária e sua
existência real no mercado cultural brasileiro. Tudo isso, sem considerar o
lado lúdico e divertido do empreendimento, o jogo de sutilezas e o
entretenimento com que presenteia o leitor, o estudioso ou o escritor, enfim,
quem sinta atração pela criação literária e seus mistérios.
Bernardo Ajzenberg
Romancista, jornalista e assessor executivo
do Instituto Moreira Salles
Romancista, jornalista e assessor executivo
do Instituto Moreira Salles
Fabinho amado!
ResponderExcluirInformações importantíssimas para quem quer se aventurar na escrita.
cheirinhos
Rudy