Muito
bom esse livro, obra que diverte e faz pensar. Dentre todos os autores
laureados com o Prêmio Nobel de Literatura que li até hoje, Pirandello é
certamente o que tem a veia cômica mais aflorada.
É
o próprio Mattia Pascal quem narra sua singular história: “já morri, sim, duas
vezes, mas a primeira, por engano, e a segunda... irão saber.”
Dado
como morto por todos que o conheciam, Mattia tem a oportunidade de começar uma
nova vida, sob uma nova identidade. Mas longe de ser a liberdade que ele
almejava, a condição de “morto” acaba se tornando uma nova e insuspeitada
escravidão... o que não o impede de desenvolver uma série de reflexões sobre a
vida e a morte.
Muito
interessante é o recurso utilizado pelo autor de apresentar, através do personagem
Paleari, alguns pensamentos bem profundos sobre o sentido da vida, mas que são
recebidos pelo um tanto obtuso Mattia Pascal com deboche e ironia, como se não
passassem de devaneios de um velho gagá. Recurso arriscado, que em mãos menos
hábeis talvez não surtisse o efeito desejado, de fazer pensar sem cometer o
grave crime de querer “dar aula” ao leitor, além de deixar a questão em aberto,
possibilitando novas reflexões.
Eu,
pessoalmente, obtive dessa leitura um ganho a mais, pois ao contrário da
maioria das pessoas, também já morri, não apenas duas, mas três vezes, graças a
um problema na parte elétrica do coração que obrigou os médicos a forçarem uma
parada e a reinicialização das batidas cardíacas por meio de choque elétrico.
Trata-se de um procedimento perigoso e de êxito incerto, mas felizmente dei um “restart”
no coração por três vezes e ainda estou aqui. Foram momentos difíceis para mim
e para minha família, mas hoje posso dizer que foram algumas das melhores
coisas que já me aconteceram, por me proporcionar, assim como ao caro Mattia, a
possibilidade de vivenciar de forma mais próxima a morte e, assim, obter uma
visão privilegiada sobre a preciosa dádiva da vida. Foi, aliás, graças a esses
episódios que passei a me chamar Fabio Shiva (tendo nascido Fabio Lopes
Barretto), como explico no poema “3 X CTI”:
Fabio
Lopes morreu.
Fabio
Barretto morreu.
Fabio
sem nome morreu.
Antes
eles do que eu!
\\\***///
MANIFESTO – Mensageiros
do Vento
Um
experimento literário realizado com muita autenticidade e ousadia. A ideia é
apresentar um diálogo contínuo, não de diversos personagens entre si, mas entre
as diversas vozes de um coral e o leitor. Seguir a pista do fluxo da
consciência e levá-la a um surpreendente ritmo da consciência. A meta desse
livro é gerar ondas, movimento e transformação na cabeça do leitor. Clarice
Lispector, Ferreira Gullar, James Joyce e Virginia Woolf, entre outros, são
grandes influências. Por demonstrarem que a literatura pode ser vista como uma
caixa fechada, e que um dos papéis mais essenciais do escritor é, de dentro da
caixa, testar os limites das paredes... Agora imagine esse livro escrito por
uma banda de rock! É o que encontramos no livro MANIFESTO – Mensageiros do
Vento, disponível aqui. Leia e descubra por si mesmo!
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590
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