A
ideia que motiva a história é bem interessante: após criar seis personagens, o
Autor decide abandoná-las, mas as personagens não se conformam em serem
esquecidas e acabam invadindo o ensaio de uma peça, insistindo para que o
Diretor encene o seu drama, o drama que foram criadas para vivenciar. O Diretor
acaba concordando, fascinado, e coloca os Atores de sua companhia teatral para
aprender e interpretar o drama vivido pelas seis personagens.
A
metalinguagem é a tônica dessa peça, possivelmente a obra mais conhecida de
Pirandello e que foi escrita em 1921. Ao ler o texto consegui visualizar um
espetáculo intrigante e envolvente, mas sobretudo denso e aflitivo, e raríssimas
vezes a comédia que Pirandello insiste em considerar sua obra, no longo
prefácio onde explica as motivações filosóficas e espirituais para escrevê-la.
Talvez ele tenha chamado de comédia apenas por astúcia, talvez o humor do texto
original tenha envelhecido e perdido seu toque cômico, como acontece
frequentemente.
É
certo que muitas vezes o texto demonstra estar datado, como quando o Diretor,
escandalizado, quer impedir que uma das personagens faça uma cena de nudez. Em
meus tempos de faculdade, quando eu costumava ir ao teatro no mínimo uma vez
por semana, cenas de nudez eram praticamente obrigatórias nas peças. Isso só
para exemplificar como o humor gira muito em torno da moral, e a moral varia na
mesma proporção que a moda, ou seja, o que era engraçado (ou indecente) em 1921
pode ser muito sério (como antônimo tanto de engraçado quanto de indecente)
quase cem anos depois. Por essas e outras é que prefiro sempre as tragédias: o
que é motivo de riso muda de ontem para hoje, mas os motivos essenciais para a
tristeza e o horror são os mesmos desde que o homem é homem.
Que
essa digressão não desmereça o brilho e a criatividade da peça de Pirandello,
que aliás foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1934. Uma leitura
de interesse e ganhos, especialmente para quem escreve ou atua. Como
curiosidade, uma última observação: alguns dos elementos do drama vivido pelas
seis personagens parecem saídos de uma peça de Nelson Rodrigues, que ainda
usava calças curtas quando “Seis Personagens à Procura de um Autor” foi
escrita.
E
viva o Teatro!
\\\***///
ESCRITORES PERGUNTAM,
ESCRITORES RESPONDEM
Escrever
para quê?
Doze
escritores dos mais diversos estilos e tendências, cada um de seu canto do
Brasil, reunidos para trocar ideias sobre a arte e o ofício de escrever. O
resultado é este livro: um bate-papo divertido e muito sério, que instiga o
leitor a participar ativamente da reflexão coletiva, investigando junto com os
autores os bastidores da literatura moderna. Uma obra única e atual,
recomendada a todos os que amam o mundo dos livros.
Disponível
no link abaixo, leia e compartilhe:
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5890058
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