Tess
Gerritsen é uma habilidosa construtora de thrillers
policiais que são marcados por uma inusitada combinação (ao menos nos dois
livros dela que eu li): uma história totalmente focada no ponto de vista
feminino e recheada com cenas escatológicas, com muito sangue e vísceras
expostas, e descritas com minúcia cirúrgica. O resultado é uma trama que
captura a atenção do leitor (eu mesmo larguei os outros livros que estava lendo
até chegar ao final desse Dublê de Corpo),
oscilando entre o horror e o fascínio, atraindo e ao mesmo tempo repelindo,
como a visão de um acidente grave na rua: você não quer olhar, mas ao mesmo
tempo sente uma curiosidade quase irresistível de ver o que aconteceu.
Sobre
a história em si, acho muito difícil contar algo que não seja spoiler. Inclusive li agora o resumo do
livro no Skoob, que considerei um spoiler
dos brabos! Por essas e outras é que só leio o texto da contracapa ou das
orelhas depois de ter lido o livro primeiro.
Dentre
as personagens femininas que marcam a história (os homens são praticamente
coadjuvantes, contrapontos dramáticos das mulheres), a que mais me chamou a
atenção foi a Dra. Joyce O’Donnell, psiquiatra especializada em serial killers
e morbidamente obcecada em conhecer a intimidade dos monstros. A autora carrega nas tintas ao descrever a personalidade
desprezível da Dra. O’Donnell, a ponto de me fazer desconfiar que ela está na
verdade fazendo uma crítica sarcástica à sua legião de leitoras e leitores
viciados em sangue e cenas macabras. Ou talvez o desprezo seja voltado para a
própria autora: imagino que dever ser cansativo escrever sempre e sempre o
mesmo tipo de história.
Eu,
pessoalmente, notei algumas perturbações na frequência de meus pensamentos
durante a leitura deste livro, como já tenho notado na leitura de livros
semelhantes. Certamente não é benéfica para a paz mental a exposição a cenas de
violência e maldade humana, mesmo fictícias. Comparo esse tipo de leitura a um
Lanche Feliz do McDonald’s: hambúrguer e batata-fritas processados com uma
infinidade de produtos químicos, acompanhados por um balde de Coca-Cola. Ler um
livro desses é como consumir um fast-food
mental: você pode achar delicioso, mas sabe que não é bom para a sua saúde!
(Antes
que alguém aponte um dedo acusatório em minha direção, como autor de histórias
cheias de sangue e violência, devo dizer que o problema não é a violência em
si, mas o uso que se faz dela na literatura em particular e na arte em geral. Psicose, filme de Alfred Hitchcock, é
extremamente sinistro, mas ao mesmo tempo uma obra de arte. E do mesmo modo o Mahabharata, grande épico indiano, é
espiritualmente inspirador e certamente a maior obra literária do mundo, mesmo
se tratando da narrativa de uma sangrenta batalha. Nos dois casos, não se trata
da violência pela violência, mas de algo além que se objetiva alcançar. É
basicamente uma questão de motivação.)
\\\***///
A MARCA – Fabio Shiva
Um
intrigante conto de mistério e assassinato que tem como pano de fundo a saga
dos Anunnaki... “A MARCA” foi originalmente publicada em “REDRUM – Contos de
Crime e Morte” (Caligo Editora, 2014), sendo um dos sete contos selecionados
para a antologia. Em 2016 a história foi republicada no livro duplo de contos
“Labirinto Circular / Isso Tudo É Muito Raro”, de Fabio Shiva (Cogito Editora).
E agora está disponível aqui. Boa leitura!
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5825862
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