É
sempre muito interessante ler uma peça de teatro, pois a imaginação do leitor é
ativada de forma diferente da que acontece na leitura de um romance, por
exemplo. É que o romance é uma parceria direta entre autor e leitor, enquanto
que a peça de teatro é uma obra mais coletiva, onde interagem o diretor, os
atores, o cenógrafo, o iluminador, o figurinista, o responsável pela trilha
sonora etc. Assim, o texto de uma peça geralmente contém muito menos
informações para “direcionar” a imaginação do leitor, que assim tem a
oportunidade de preencher por conta própria todos esses espaços vazios que na
encenação da peça correspondem à contribuição coletiva mencionada acima.
Esse
exercício imaginativo fica muito mais interessante quando o texto tem a carga
dramática e poética de um Federico Garcia Lorca, e ainda mais quando sabemos
que a versão em português foi traduzida por poetas do quilate de Cecília
Meireles em “Yerma” e Carlos Drummond de Andrade em “D. Rosita”. O texto mais
célebre e provavelmente a obra-prima de Lorca, “A Casa de Bernarda Alba”, tem a
curiosidade extra de ter sido traduzido pelo filho de outro grande poeta, Alphonsus de Guimaraens Filho.
As
três peças tratam essencialmente do Feminino, sempre do ponto de vista do
conflito entre o Individual e o Social, ou seja, falam de mulheres que buscam
se reconhecer e se expressar em um mundo masculino que lhes impõe de fora uma
Feminilidade com a qual elas podem ou não se identificar. Talvez, melhor
dizendo, a Musa de Lorca cante a Feminilidade frustrada. De forma bem resumida
e esquemática, “Yerma” tem como tema a maternidade frustrada, enquanto “D.
Rosita” fala do matrimônio frustrado e “Bernarda Alba” trata da sexualidade
frustrada. Tudo sempre com uma vívida carga dramática, onde nada sobra e tudo é
essencial. Tudo é poesia trágica em Lorca.
Sou
muito grato pela oportunidade de conhecer um pouco da obra desse grande autor, graças
ao querido amigo e professor Carlinhos Santos da Silva, que me presenteou com o
livro. E que já tratei de passar adiante, tão logo acabei de ler. Afinal livro na
estante não serve para nada: não passa de uma pobre árvore desperdiçada! Livro
vivo é livro que está sendo lido, e que depois de ler a gente passa para algum
amigo, ou mesmo desconhecido!
\\\***///
MANIFESTO – Mensageiros
do Vento
Um
experimento literário realizado com muita autenticidade e ousadia. A ideia é
apresentar um diálogo contínuo, não de diversos personagens entre si, mas entre
as diversas vozes de um coral e o leitor. Seguir a pista do fluxo da
consciência e levá-la a um surpreendente ritmo da consciência. A meta desse
livro é gerar ondas, movimento e transformação na cabeça do leitor. Clarice
Lispector, Ferreira Gullar, James Joyce e Virginia Woolf, entre outros, são
grandes influências. Por demonstrarem que a literatura pode ser vista como uma caixa
fechada, e que um dos papéis mais essenciais do escritor é, de dentro da caixa,
testar os limites das paredes... Agora imagine esse livro escrito por uma banda
de rock! É o que encontramos no livro MANIFESTO – Mensageiros do Vento,
disponível aqui. Leia e descubra por si mesmo!
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590
Nenhum comentário:
Postar um comentário