Isso
já aconteceu um montão de vezes: me deparo com um livro de Agatha Christie que
sei que já li, mas não consigo lembrar da trama (nem da solução do mistério),
então leio novamente, e me divirto um bocado pela segunda (ou terceira) vez!
Com
a exceção de suas obras mais geniais e espetaculares, que possuem uma trama
única e muito difícil de esquecer (colocaria nessa lista “O Assassinato de
Roger Ackroyd”, “O Caso dos Dez Negrinhos” – atual “E Não Sobrou Nenhum”, “A
Casa Torta” e “Assassinato no Expresso Oriente” como meu Top 5), nos outros
livros de Agatha ocorre justamente o contrário: por mais que goste da leitura e
me divirta com o mistério, fica muito fácil esquecer a trama depois de algum
tempo e, principalmente, depois de ter lido vários outros livros semelhantes.
Como normalmente minha memória é muito boa para livros, creio que se trate mais
de uma característica dos livros policiais (especialmente do tipo “whodunit?”)
que uma deficiência mnemônica minha.
Contudo
essa releitura de “Cartas na Mesa” foi marcada por outra característica de
Agatha Christie que continuo esquecendo: o racismo. Três passagens do livro trazem
um racismo tão horroroso quanto gratuito, pois nada têm a ver com a trama.
Seria possível argumentar que o racismo não é da autora, mas dos personagens,
mas a coisa é tão injustificavelmente gratuita, volto a dizer, que não há
defesa possível, a não ser a época e o contexto em que o livro foi escrito.
Ainda assim, cada trecho infestado de racismo foi como um tapa na cara, que
reduziu enormemente a minha alegria em ler o livro.
Como
tudo na vida é relativo, o que foi motivo de tristeza também pode ser de
alegria, pois que bom perceber que a consciência coletiva está hoje tão mais
atenta para questões como racismo, sexismo, homofobia etc. Ao refletir sobre
“Cartas na Mesa”, acabei lembrando do programa dos Trapalhões, que marcou minha
infância, e que nos dias de hoje seria simplesmente impensável, pois é um tipo
de humor totalmente baseado no preconceito racial e de gênero. Que bom que no
decurso de minha curta vida pude testemunhar tantas mudanças no mundo!
Voltando
a Agatha e o racismo, fiquei curioso para ver o que se diz a respeito na
Internet. Achei mais curioso ainda ter encontrado alguns artigos que retratam
exatamente o que senti, escritos em inglês:
Nos
artigos escritos no Brasil que visitei, contudo, a posição é oposta, de crítica
ao que é considerado uma censura estúpida em nome do politicamente correto:
Vivemos
tempos interessantes, sem dúvida! Ninguém pode se queixar de tédio...
***
“–
Deve ser maravilhoso simplesmente sentar e escrever um livro inteiro.
–
Não é bem assim que acontece – retrucou Mrs. Oliver. – A gente realmente tem
que pensar, sabe? E pensar é sempre
maçante. E é preciso planejar as coisas. E depois, de vez em quando, a gente se
mete num beco sem saída que parece que nunca mais tem fim... mas tem! Escrever
não é especialmente divertido. É um trabalho duro como qualquer outro.”
\\\***///
A MARCA – Fabio
Shiva
Um
intrigante conto de mistério e assassinato que tem como pano de fundo a saga
dos Anunnaki... “A MARCA” foi originalmente publicada em “REDRUM – Contos de
Crime e Morte” (Caligo Editora, 2014), sendo um dos sete contos selecionados
para a antologia. Em 2016 a história foi republicada no livro duplo de contos
“Labirinto Circular / Isso Tudo É Muito Raro”, de Fabio Shiva (Cogito Editora).
E agora está disponível aqui. Boa leitura!
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5825862
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