Que
obra estupenda! Um estudo colossal sobre a Capoeira, verdadeiro manancial de
ensinamentos para todos que desejam se aprofundar nas origens, história e
fundamentos dessa linda arte!
Como
nada nesta vida acontece por acaso, esse livro foi um fiel e precioso
companheiro durante um momento muito difícil, em que devido a dores no ciático
fiquei impedido de frequentar as aulas de capoeira de Mestre Tyko Kamaleão na
Casa da Música. Mais do que o ciático, doeu a alma, bem lá no fundo, ao ser
privada tão bruscamente dessa gostosa brincadeira que a vinha libertando, “um
milímetro por dia”, no sábio ensinamento de Mestre Tyko Kamaleão. Fiquei muito
triste e revoltado a princípio, mas à medida em que fui compreendendo que a
Capoeira estava trazendo para mim um novo aprendizado, fui deixando de me
rebelar contra esse meu momento, fui passando a aceitá-lo como uma oportunidade
e um desafio, e assim comecei o meu processo de cura. Que passou certamente
pela leitura de “Capoeira Angola”. Eu não estava podendo gingar, mas nada me
impedia de continuar aprendendo Capoeira!
O
que mais chama a atenção nesse livro incrível é a profusão e minúcia dos
conhecimentos transmitidos. Por exemplo, ao falar do período em que a Capoeira
era combatida pela polícia (como contravenção prevista no código penal de 1890,
sujeita a pena de prisão de três a seis meses, com agravantes) o professor
Waldeloir conta a história da polícia no Brasil, desde a sua criação (os
policiais eram chamados inicialmente de “quadrilheiros”, por estarem
responsável por áreas urbanas divididas em “quadras”)! Ou então, ao analisar
alguns corridos de capoeira, o autor examina a etimologia de cada uma das
palavras utilizadas no canto, com abundância de citações em alemão e francês!
Essa
minúcia possibilita um rico e profundo aprendizado sócio-etnográfico, que vai
muito além da Capoeira. Por exemplo, gostei muito de aprender a origem da palavra
“aquinderreis”, que surgiu de “acudam aqui d’el-Rei”, expressão do tempo do
Brasil Colônia que era usada quando se estava sendo atacado por alguém e se
precisava de ajuda armada (pois somente em nome do Rei era permitido portar
armas). Na época em que o livro foi publicado (1968), esse termo já era muito
pouco utilizado, apenas pelos capoeiristas anciões, que diziam “fulano gritou
aquinderreis”, no sentido de que “fulano pediu socorro”. Pois hoje, em 2018, é
provável que já nenhuma pessoa viva se utilize dessa expressão. Esse tipo de
aprendizado emociona o escritor em mim, pois revela a nossa língua como uma
entidade viva, em constante mudança e evolução.
Só
para citar um dos ensinamentos diretamente ligados à Capoeira, com esse livro
aprendi que a palavra “Berimbau” deriva de “boro ‘mbumba”, sendo que “boro”
significa “falar” e “’mbumba” era uma espécie de receptáculo sagrado para o
espírito dos antepassados. “Berimbau”, portanto, é o instrumento que nos
permite “falar com os mortos”, ou seja, entrar em sintonia direta com a
ancestralidade. Está explicado o arrepio de êxtase que todo capoeira sente ao
som do gunga!
“Capoeira
Angola” é uma obra irrepreensível, sob todos os aspectos. A tal ponto que, em
determinado momento da leitura, comecei a alimentar a certeza de que o autor
era negro (o que confirmei apenas agora, ao ver sua foto na Internet). Explico:
a sensação que tive foi que o livro foi escrito antecipando e já se precavendo
contra todo o tipo de ataque racista, por se tratar de obra acadêmica versando
sobre cultura, religiosidade e tradições de matriz africana. O professor
Waldeloir Rego me lembrou um pouco um de meus heróis, o cientista indiano Jagadish
Chandra Bose (citado na “Autobiografia de um Iogue” de Paramahansa Yogananda e
também em meu romance “O Sincronicídio”), que descobriu a vida secreta das
plantas e dos metais, e que enfrentou com galhardia o racismo dos cientistas
europeus, que não davam crédito aos seus estudos apenas devido à tonalidade de sua
pele.
Pois
então. Isso me motivou uma fecunda reflexão, bastante pertinente a nossos dias,
quando forças retrógradas ganham ascensão no cenário nacional e mundial, e discursos
racistas, machistas e homofóbicos são apoiados por boa parte da população. Esse
livro me fez pensar que resistência é superação. Graças à luta contra o
machismo, por exemplo, as mulheres provaram seu valor, tornando-se de modo
geral mais eficazes que os homens em todos os campos. Assim como, graças à luta
contra a escravidão, surgiu a arte da libertação, também chamada de Capoeira!
Gratidão
a Mestre Tyko Kamaleão pelo empréstimo dessa obra magnífica e por me ensinar
tanto, na roda e na vida! Viva meu mestre!
Livro
disponível em PDF no link:
Sobre
Waldeloir Rego:
\\\***///
O SINCRONICÍDIO –
Fabio Shiva
“E foi assim que descobri que a inocência é
como a esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”
Haverá
um desígnio oculto por trás da horrenda série de assassinatos que abala a
cidade de Rio Santo? Apenas um homem em toda a força policial poderia
reconhecer as conexões entre os diversos crimes e elucidar o mistério do
Sincronicídio. Por esse motivo é que o inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia
de Homicídios, está marcado para morrer.
“Era para sermos
centelhas divinas. Mas escolhemos abraçar a escuridão.”
Suspense,
erotismo e filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo.
Uma história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo
(clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das
Mutações. Um romance de muitas possibilidades.
Leia
e descubra porque O Sincronicídio
não para de surpreender o leitor.
Livro físico:
https://caligo.lojaintegrada.com.br/o-sincronicidio-fabio-shiva
eBook:
https://www.amazon.com.br/dp/B07CBJ9LLX?qid=1522951627&sr=1-1&ref=sr_1_1
Gostei da postagem!
ResponderExcluirBeijos e um excelente dia!
Valeu, querida!
ExcluirBeijos