Este
ano decidi estudar de forma mais sistemática a chamada “literatura best-seller”.
Confesso que não tenho um objetivo muito específico com esse estudo, apenas o
de tentar responder, de forma genérica, o que torna um livro de ficção um
fenômeno de vendas nos dias de hoje. Claro está que a minha proposta é analisar
apenas a parte literária dessa equação, desconsiderando os investimentos de
Propaganda e Marketing obrigatoriamente envolvidos na fabricação de um
best-seller. Pelo momento, não estou interessado tanto na parte mercadológica,
mas na parte da escrita em si, visando compreender da melhor forma que eu puder
como cada obra dessas é concebida e estruturada, quais as suas intenções
explícitas e implícitas e que tipo de mensagem pode estar passando para o
leitor.
Esse
estudo foi motivado, na verdade, por uma aparente casualidade: a recente doação
de cerca de 300 livros para o projeto P.U.L.A. (Passe Um Livro Adiante), quase
todos best-sellers. Assim, intuitivamente selecionei alguns exemplares para
essa experiência, procurando não criar muitas expectativas na leitura e manter
a mente o mais aberta possível.
Para
começar essa aventura, achei bem apropriado esse livro do Sidney Sheldon,
talvez o primeiro “autor best-seller” (com esse rótulo específico) que li, aos
12 anos. Lembro nitidamente que fiquei grudado na leitura de “O Outro Lado da
Meia-Noite”, que devorei em dois dias insones. Depois li vários outros do mesmo
autor: “A Ira dos Anjos”, “O Reverso da Medalha”, “Se Houver Amanhã”, “A Outra
Face” e outros. Um detalhe curioso: desses livros todos não me lembro de quase
mais nada, com a exceção de duas cenas. A primeira é uma disputa de xadrez,
onde a bela heroína enfrenta ao mesmo tempo dois campeões mundiais, e a outra é
uma cena de sexo envolvendo creme de menta, as duas cenas igualmente marcantes
para minha influenciável mente adolescente.
“O
Céu Está Caindo” foi lançado em 2000, bem depois do auge criativo do autor. Me
pareceu uma obra bem inferior às que li durante a adolescência, mas é difícil
fazer esse tipo de comparação (ainda mais por não lembrar das histórias, apenas
de ter gostado muito delas). Creio que teria que reler algum de seus maiores
sucessos para ter uma noção mais clara.
O
que mais me chamou a atenção nesse livro foi o intenso uso de diálogos. Quase
não há descrições nas cenas, e o enredo vai sendo apresentado por meio de
conversas. Os diálogos não são especialmente marcantes, e até banais muitas
vezes. A impressão que me causou foi que a intenção era tornar a leitura o mais
fácil possível. É nítido que nos empenhamos a ler com mais disposição páginas recheadas
de travessões de diálogo que extensos parágrafos ao estilo de Saramago, por
exemplo.
É
bem marcante também o uso de uma “fórmula” ou “receita de bolo”, com uso e
abuso de clichês. Há alguns poucos elementos de surpresa quebrando a monotonia
de uma trama bastante previsível. O resultado é uma narrativa confortável,
sedativa, um equivalente literário da antiga “Sessão da Tarde”.
Um
dos elementos mais atrativos é o glamour que cerca a protagonista Dana Evans,
uma bela âncora de telejornal que dá uma volta e meia no mundo para fazer uma
investigação de assassinato. Achei digno de nota que há pequenas doses de
informação pontuando cada cidade visitada por Dana, que ajudam a passar a
impressão de que a leitura está sendo instrutiva de alguma forma. Contudo as
informações são inócuas, do tipo tópicos de almanaque, e não chegam a suscitar
nenhuma reflexão mais profunda ou trabalhosa.
Com
a exceção de uma: a cidade russa secreta de Krasnoyarsk-26, que dá o mote da
trama e que realmente merecia inspirar um livro. Tomei um choque ao saber que a
tal cidade existia mesmo, pois achei o ponto mais inverossímil da história!
\\\***///
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“Em nossa cidade
habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que
aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas
normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a
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