Li
esse livro pela primeira vez aos 18 anos, quando cursava a Faculdade de
Comunicação Social da UERJ. Foi uma leitura que me marcou profundamente. Tanto
que de todos os livros que li no curso, guardei apenas esse e mais dois ou três
para reler em algum momento do futuro. Mas foi só agora, durante a releitura,
que pude apreciar realmente o quanto esse livro influenciou minha vida.
Graças
a “Quem Tem Medo da Ciência?” adquiri um saudável ceticismo com relação ao que
poderia ser chamado de “onisciência científica”. A ciência é, idealmente, um
método de busca da Verdade a respeito do homem e da natureza. Contudo essa
busca é influenciada por uma série de fatores que nada têm a ver com ciência:
interesses políticos e financeiros, jogos de poder e muitas vezes,
infelizmente, opiniões preconcebidas e dogmas por parte dos cientistas que
conduzem as pesquisas.
Vou
citar um único exemplo, dentre os tantos abordados durante os cinco dias de
seminário no Colégio Internacional de
Estudos Filosóficos Transdisciplinares, realizado em outubro de 1989 no Rio
de Janeiro, que acabaram se transformando nesse livro. Stengers cita como foi
importante para a biologia o advento da bactéria como uma “testemunha fidedigna”,
que podia conferir o status de método científico ao seu estudo sistemático.
Isso gerou o que a autora chama de “operação de captura”, fazendo com que toda
a biologia fosse daí para a frente pautada pelos paradigmas ditados pela
biologia celular, que era o segmento dedicado ao estudo das bactérias. E quais
foram as consequências disso em outras áreas da biologia? A embriologia, por
exemplo, ficou em cheque, pois nada no estudo da bactéria podia explicar o
desenvolvimento embrionário (sabemos que depois da publicação do livro a
embriologia teve a oportunidade de exercer, por sua vez, uma “operação de
captura”, assumindo uma posição de destaque outrora ocupada pelo estudo das
bactérias).
Já
outro ramo da biologia, a etologia, que era diametralmente oposta à biologia
celular, passou a despertar cada vez menos interesse, o que acarretou diminuição
das verbas disponíveis para financiamento das pesquisas etc. Ora, a etologia é
o estudo dos animais em seu habitat natural, nada mais distante do controlado
estudo em laboratório das propriedades moleculares de uma célula. O despertar
de um progressivo interesse pela biologia molecular acarretou uma decadência no
estudo etológico.
Até
aí foi o livro, mas me permito ir adiante: o que teria acontecido se a situação
fosse ao contrário? Como teria avançado a ciência se o estudo in natura fosse considerado prioritário,
recebendo todo interesse e todo financiamento? Talvez tivéssemos caminhado para
uma apreciação mais precoce da importância da preservação da natureza para a
continuidade da existência humana, e não estivéssemos à beira da extinção
planetária por conta de inúmeros abusos cometidos contra o meio ambiente.
Isabelle
Stengers nos ensina que a objetividade científica é muito superestimada, para
dizer o mínimo. Todo fato é na verdade a interpretação de um fato. Não existe
ciência pura, isolada de uma ideologia que a justifique e conduza. Isso não
quer dizer que devamos execrar a ciência como algo maléfico ou não confiável
(como muitos têm feito atualmente, de forma irracional e potencialmente
autodestrutiva). Isso significa que devemos considerar a ciência um instrumento
para o conhecimento da Verdade, dentre outros instrumentos igualmente válidos e
complementares (como a espiritualidade e a arte), mas nunca como o único caminho,
verdade e vida. A verdadeira Sabedoria não pode nascer da compartimentalização
de saberes, mas da percepção holística que propicia a expansão da consciência.
Que
assim seja!
\\\***///
Agora
disponível gratuitamente no Wattpad, LABIRINTO CIRCULAR / ISSO TUDO É MUITO
RARO é um livro duplo de contos estruturados como seis pares de “opostos
espelhados”. São ao todo doze histórias que têm como fio condutor a polarização
entre o Olhar e a Consciência (representados nas capas do livro como as pupilas
sobrepostas e o cérebro, respectivamente) e que abordam, cada uma a seu modo,
alguns dos antagonismos essenciais: Amor e Morte, Cotidiano e Fantástico,
Concreto e Absurdo. Um exercício literário para mentes inquietas e
questionadoras.
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