segunda-feira, 8 de julho de 2019

VOCAÇÃO PARA O MAL – Robert Galbraith (J. K. Rowling)



Fui curiosamente atraído para a leitura desse livro, antes mesmo de saber que Robert Galbraith é um pseudônimo de J. K. Rowling, autora da célebre série Harry Potter. Li os três primeiros livros do Harry Potter e gostei muito, mas gostei ainda mais de “Morte Súbita”, romance da mesma autora com uma temática mais “adulta”. E a oportunidade de agora ler uma obra dela no original (“Career of Evil” no título em inglês), ainda mais se tratando de uma história policial, um gênero que amo, tudo isso fez com que me atirasse à leitura cheio de expectativas.

Mas, como eu mesmo gosto de dizer, “a expectativa é a mãe da frustração”. A leitura valeu muito, principalmente, pelo “sotaque” tipicamente britânico, com uma narrativa recheada de expressões e gírias londrinas entremeadas por transcrições fonéticas de diálogos de outras regiões da Inglaterra e da Escócia, tudo retratado de forma muito vívida. Muitos desses diálogos ocorrem em pubs, em meio a porções de “fish and chips” (peixe com batatas fritas, prato típico de Londres) embrulhadas em jornal e longos goles de “pint” (metade de um quarto de galão de cerveja). Valeu por uma “city tour” a Londres!

A história em si, que faz parte de uma série de aventuras do detetive Cormoran Strike e de sua intrépida ajudante Robin Ellacott, é uma curiosa mistura de “thriller de serial killer” com “romance para mocinhas”. É louvável a tentativa de se inovar em um território tão batido, mesmo que seja pela mistura de clichês. Mas fiquei com a impressão de que “a massa não deu liga”, pois achei improváveis tanto o perfil do assassino quanto a lentíssima história de amor entre Cormoran e Robin.

Ainda assim, é inegável que Rowling escreve muito bem, mesmo com uma história fraca. As quase 500 páginas em formato tijolão fluíram com facilidade, embaladas pela narrativa envolvente da autora. Mas o mérito maior do livro é apresentar uma intrigante patologia psicológica chamada em inglês de BIID (Body Integrity Identity Desorder) e em português de TIIC (Transtorno de Identidade de Integridade Corporal), que é o desejo de ter alguma deficiência ou o sentimento de que algum membro do corpo não pertence a si mesmo, gerando o forte impulso de ter esse membro amputado (https://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_de_identidade_de_integridade_corporal). Como sempre, a realidade é muito mais estranha e perturbadora que a mais insana ficção.


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“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser monstruoso.”

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