Penei
por longas semanas lendo esse livro, que me exasperou na mesma medida em que me
intrigou muitíssimo. A verdade é que nunca li nada parecido com “Os Servos da
Morte”. A narrativa é pesada e árida, mas nada parece acontecer, em meio a um
intenso clima de tragédia iminente. A sensação que tive, aliás, foi a de estar
assistindo a uma lentíssima tragédia grega, só que ambientada no sertão baiano.
Finda a leitura, ao pesquisar sobre o livro, descobri que muitos estudos
comparam essa obra de estreia de Adonias Filho a peças como “Édipo Rei” e “Antígona”.
Por
várias vezes pensei em desistir da leitura. Contudo, era nítido que aquilo que
eu não estava gostando de ler havia sido escrito com muito esmero e inegável
talento. Não pude deixar de ficar impressionado com passagens como:
“Como sombra
infinita, obscurecendo a sua alma, pesando no seu corpo, a estranha ideia de
que a paz estava no crime. Deveria pousar as mãos no cadáver de Paulino Duarte,
sentir-lhe o sangue parado, o roxo da podridão colorindo-lhe os lábios, para
que pudesse adquirir paz.”
“De repente,
verdadeiro choque na sua consciência, sentiu ver os dois corpos abraçados,
arfando, sobre o leito desfeito. Pensou, com ódio, na sua origem, na origem de
todos os homens. Pensou na vulgaridade daquele começo, necessário a tudo e
todos, como uma exigência terrível.”
“Por que a
podridão do corpo, a desagregação dos ossos, por que não aproveitá-los? Queria
a eternidade da carne, sempre vivendo, ainda que renovada por novas almas. Que
as almas dos recém-nascidos ocupassem os corpos feitos. Quantos sofrimentos
seriam evitados, quantas paixões negadas!”
“(...) os
homens geralmente preferem o destino das cobras, esse destino certo de
arrastar-se e morder, ao destino incerto e trágico do vento.”
“(...) sim,
havia o filho. Pensou amá-lo mesmo trazendo o sangue de Quincas, ela o amaria
como essas mulheres do sertão, tragicamente mães, amam os filhos dos bandidos
que passaram uma vez sobre os seus corpos.”
“Quer saber a
principal razão do meu medo? Quer saber? Esta de sentir o ódio guiar-me, exigir
de mim que pratique um crime capaz de humilhar a raça humana.”
“Nada vejo nos
homens capaz de obrigar-me a amá-los.”
Sobre
esse livro, o crítico Temístocles Linhares assinalou, certeiro: “Não
se pode lê-lo sem uma espécie de respeito.”
E
salve a nossa Literatura Brasileira!
\\\***///
Qual é o seu tipo de
monstro? Faça o teste e descubra!
“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as
outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não
existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser
monstruoso.”
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Shiva:
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