É
com muita alegria que inicio mais um ano com a resenha de um livro que eu mesmo
escrevi. Oxalá essa prática se torne uma tradição! Novamente, como no ano
passado foi o caso de “Favela Gótica” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2019/01/favela-gotica-fabio-shiva.html), não me cabe falar dos
possíveis méritos ou deméritos da obra, mas sim das circunstâncias, motivações
e pequenos segredos que fizeram com que o livro fosse escrito.
E
começo com uma confissão: durante muitos anos, não podia ouvir as músicas do
Imago Mortis, músicas que ajudei a compor e cujas letras escrevi. Enquanto
estava redigindo o livro, me determinei a ouvir algumas das músicas, para
mergulhar mais intensamente no passado. Durante as audições, sentia uma
angústia tão intensa que não conseguia conter as lágrimas. E agora que o livro
está pronto, diante do relato de pessoas que acharam a leitura muito engraçada
e divertida, só posso dar graças ao poder da Literatura de nos ajudar a
transcender e ressignificar as dores da Vida.
“Tudo
o que dá para rir, dá para chorar: é questão de hora e lugar”. Esse é
um ditado que se aplica bem ao processo de escrita de “Diário de um Imago”.
Adquiriu uma força irresistível, para mim, a ideia de contar como uma comédia a
história da banda de heavy metal que se propôs a fazer a música mais triste do
mundo, capaz de levar uma pessoa ao suicídio, e que quis transformar em riffs,
acordes e melodias a própria experiência da morte. Além de trazer um pouco de
leveza a temas tão sinistros, o humor me permitiu também escapar de uma
armadilha muito comum a esse tipo de livro, que é ficar advogando a própria
importância, alardeando as próprias “glórias mofadas”.
Um
livro contando a história do Imago Mortis estava sendo plasmado há muito tempo,
impulsionado para a existência pelo desejo de muitas mentes. O primeiro
idealizador de uma biografia da banda foi o querido amigo Mauro B. Fonseca, que
há cerca de dez anos chegou a esboçar uma narrativa, que acabou sendo muito
útil. De lá para cá os vocalistas Alex Voorhees e Tufi Sami também se
empolgaram com a ideia, anotando suas próprias recordações e pedindo depoimentos
a personagens importantes como Eliton Tomasi, Janna Souza, Reinaldo José,
Hioderman Zartan e Fausto Mucin, entre outros. O empurrão que faltava aconteceu
em 2018, quando tomei conhecimento da dissertação de mestrado de Bruno Pael dos
Santos, defendida na Universidade Federal da Grande Dourados (MS), com o
título: “A Morte Como Acontecimento Semiótico: a perspectiva simbólica da banda
de heavy metal Imago Mortis” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2019/12/a-morte-como-acontecimento-semiotico.html). Se as músicas da ópera
rock “VIDA” foram consideradas importantes o suficiente para serem objeto de
estudo de uma dissertação de mestrado, então a história por trás da composição
dessas músicas também merecia ser contada.
A
partir do momento em que eu finalmente senti que precisava escrever esse livro,
foram imprescindíveis as colaborações das pessoas já citadas e também de
ex-membros do Imago: Fabrício Barretto, Alex Guimarães, Flavio Duarte e André
Delacroix. Não posso deixar de fazer um agradecimento especial a dona Lícia
Barretto, minha mãe, cujo ponto de vista sobre nossas estripulias de banda
rendeu algumas das passagens mais hilárias do livro. Quanto à interação dos
antigos imagões, acabou rendendo uma bela surpresa, que foi a música “O
Mistério da Vida” (https://youtu.be/1o8wDrhA0NU).
Do
ponto de vista estritamente literário, algumas experiências foram cruciais na
composição desse livro. Devo muito à leitura de “Limonov”, de Emmanuel Carrère,
livro que me foi presenteado pela querida Maria Inês Menezes e que me instigou
com o conceito do “romance de não ficção”. Mais ainda, os livros do próprio
Eduard Limonov, relatos autobiográficos de extremo sincericídio, provocaram
minha admiração e inveja: será que um dia eu teria coragem de escrever algo
parecido?
As
peças que faltavam no quebra-cabeça vieram através de alguns textos biográficos
que escrevi por encomenda, como Ghost
Writer. Nesses textos, era comum o cliente querer cortar ou consertar qualquer
“defeito” em sua personalidade e/ou ações. Por mais que eu argumentasse que
eram essas pequenas imperfeições que tornavam a história e o próprio personagem
do cliente mais cativantes, via de regra a decisão era abolir ou enfeitar tudo
o que pudesse ser tido como fraqueza. Isso reforçou a minha determinação de não
fazer assim ao contar a minha própria história.
E
assim foi. Escrevi “Diário de um Imago” tomado por um frenesi de exibicionismo
de algumas das características menos apreciáveis em mim mesmo (bem como em meus
desafortunados companheiros de banda). Só no dia seguinte ao da publicação do
livro na Amazon (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) foi que cessou essa
espécie de auto-hipnose, e exclamei horrorizado: “O que foi que eu fiz? Agora vão
ficar sabendo de todos os podres de meu passado!” Bom, como se diz, agora é
tarde...
É
por isso que encerro essa resenha com um agradecimento especial à minha linda
esposa e companheira, Fabíola Campos, que mesmo depois de ficar sabendo de
tanta tosqueira a meu respeito continuou casada comigo!
\\\***///
Qual é o seu tipo de
monstro? Faça o teste e descubra!
“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas
as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não
existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É
claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser
monstruoso.”
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Gótica”, segundo romance de Fabio Shiva:
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