quinta-feira, 9 de abril de 2020

SOMBRAS DA NOITE – Stephen King



O primeiro livro de Stephen King que li, aos 14 anos, foi “O Iluminado”. Foi uma experiência que me impactou profundamente. Ao lembrar dessa leitura agora, me dei conta de como é poderoso vivenciar pela primeira vez uma situação clichê – antes de saber que se trata de um clichê! No caso de “O Iluminado”, o impacto foi causado por um recurso muito utilizado em histórias de terror e suspense, mas que eu via ali pela primeira vez, que consiste em interromper a narrativa no auge da tensão e passar para alguma trama secundária. Hoje não me causa grandes emoções perceber esse efeito em algum texto, e eu mesmo o utilizo em meus escritos. Mas nada se compara à agonia que senti quando Danny entra afinal no quarto 217, uma mão gelada agarra seu pescoço... e a história pula para outra cena, e só vamos descobrir o que acontece páginas e mais páginas depois!

“O Iluminado”, resumindo, me deixou apaixonado por Stephen King. Uma paixão que virou amor quando li logo em seguida os contos de “Sombras da Noite”. Fiquei tão empolgado que queria que todos meus amigos lessem também. Só que a primeira pessoa para quem emprestei o livro nunca devolveu... E assim fiquei com um desejo encubado de reler as apavorantes histórias desse livro. Desejo que finalmente realizei, mais de trinta anos depois!

Essa segunda leitura foi muito instrutiva e me permitiu perceber de forma mais nítida a criativa contribuição de Stephen King para a literatura de terror, ao transportar os monstros, fantasmas e vampiros dos castelos góticos da Transilvânia para a América moderna, incorporando elementos tão contemporâneos quanto carros, caminhões, máquinas de passar roupa e até cortadores de grama como símbolos do medo.

“Sombras da Noite” continua sendo uma das obras mais representativas de Stephen King, que aqui está no auge de sua criatividade. Certamente a emoção que senti foi acentuadamente menor ao ler esses contos pela segunda vez. Mas a culpa é exclusivamente minha: ninguém mandou eu deixar de ser um moleque de 14 anos!



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“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser monstruoso.”


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