Peça em dois atos escrita em 1966, “O Santo Inquérito” certamente merece figurar, junto com “O Pagador de Promessas” (1960), obra-prima do autor, entre as maiores da dramaturgia brasileira. O tempo é a grande medida de uma obra de arte. Ao ler “O Santo Inquérito” em 2020, fiquei impressionado ao constatar como o texto continua vívido, impactante e, infelizmente, muito atual.
A peça é inspirada na história verídica de Branca Dias, que “realmente existiu e foi vítima da Inquisição” no Brasil de meados do século XVIII. O próprio autor traça, de forma sucinta e brilhante, as linhas gerais do drama que irá se desenrolar:
“Mais importante do que conhecer e seguir as leis e os preceitos ao pé da letra não é estar possuída de bondade? Se ela traz Deus em si mesma, e se Deus é amor, isso não a redime inteiramente? E é isto, justamente, que a perde, não percebe que os homens que a julgam agem segundo uma ideia preconcebida, que subverte a verdade, embora eles também não tenham consciência disso e se considerem honestos e justos. E, sem dúvida, o são, se os considerarmos segundo seu ponto de vista.”
Esse é um dos pontos mais marcantes da dramaturgia de Dias Gomes, que está igualmente presente em “O Pagador de Promessas”: seus vilões acreditam sinceramente serem “honestos e justos”, mesmo ao cometerem atos de extrema intolerância e crueldade. Esse é o fator que torna as histórias de Dias Gomes irresistivelmente asfixiantes, com uma ficção que evoca a mais pura e terrível realidade.
Esta peça, escrita na década de 1960 e contando uma história que se passa há quase três séculos, nos ajuda a compreender as tristes e calamitosas contradições do Brasil de 2020.
“Em nome de um Deus-misericórdia, praticam-se vinganças torpes, em nome de um Deus-amor, pregam-se o ódio e a violência.”
“O ódio não converte ninguém. Uma coisa é um Deus que se teme, outra coisa é um Deus que se ama. E não há nada mais próximo do ódio que o amor dos humildes pelos poderosos, o culto dos oprimidos pelos opressores.”
“Se um texto da Sagrada Escritura pode ter duas interpretações opostas, então o que não estará neste mundo sujeito a interpretações diferentes?”
“Cada pessoa conhece apenas uma parte da verdade. Juntando todas as pessoas, teríamos a verdade inteira. E a verdade inteira é Deus. Por isso as pessoas não se entendem, por isso há tantos equívocos.”
“A dor física não é tanta; dói mais o aviltamento. Vamos nos sentindo cada vez menores, num mundo cada vez menor.” [sobre a tortura]
“Quem cala, de fato, colabora.”
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FAVELA
GÓTICA liberado na íntegra no site da Verlidelas Editora:
https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica
Durante
esse período de pandemia, em meio a tantas incertezas, temos uma única
garantia: a de que nada será como antes. Estamos todos tendo a oportunidade
preciosa de participar ativamente na reconstrução de um mundo novo, mais
luminoso e solidário.
O
livro Favela Gótica fala justamente sobre “a monstruosidade essencial do
cotidiano”, em uma história cheia de suspense, fantasia e aventura. Ao nos
tornamos mais conscientes das sombras que existem em nossa sociedade, seremos
mais capazes, assim como a protagonista Liana, de trilhar um caminho coletivo
das Trevas para a Luz.
A
versão física de Favela Gótica está à venda no site da Verlidelas, mas – na
tentativa de proporcionar entretenimento a todos durante a quarentena – o autor
e a editora estão disponibilizando gratuitamente, inclusive para download, o
PDF de todo o livro.
Fique
à vontade para repassar o arquivo para amigos e parentes.
Leia
ou baixe todo o livro no link abaixo:
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https://www.skoob.com.br/livro/840734ED845858
Book
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Entrevista sobre o livro na
FM Cultura
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