segunda-feira, 2 de agosto de 2021

OS MELHORES CONTOS DE O. HENRY


 

Alguns escritores conseguem a proeza de escrever histórias vívidas e fascinantes, enquanto suas próprias vidas são praticamente desprovidas de episódios dignos de nota. Via de regra, no entanto, os escritores mais interessantes são justamente aqueles que viveram situações extraordinárias, possibilitando-os desenvolver um ponto de vista diferenciado a respeito da vida e do mundo. Dentro desse lema de “viver para contar”, poucos escritores podem se gabar de uma vida tão cheia de altos e baixos quanto O. Henry.

Nascido William Sydney Potter em 1862, nos Estados Unidos, durante a guerra civil americana, ele se mudou da Carolina do Norte para o Texas no início da vida, buscando um clima mais benéfico para tratar da tuberculose. Aqui temos, aliás, um dos primeiros temas recorrentes em sua vida, pois no futuro tanto sua primeira esposa quanto sua filha morrerão vitimadas pela tuberculose, ao longo de um intervalo de muitos anos.

No Texas, Potter chega a trabalhar um tempo em um rancho, onde talvez tenha surgido a inspiração para seu personagem mais famoso, Cisco Kid, que em sua pena foi descrito como um bandido, mas depois virou herói em inúmeras adaptações para o cinema e os quadrinhos.

Então Potter conhece a jovem Athol Estes, apaixona-se, foge para se casar com ela (a família é contra), tem um primeiro filho que morre poucas horas após o parto, depois uma filha (que só morrerá de tuberculose depois de adulta), começa a trabalhar em um banco, enquanto paralelamente escreve para a revista “The Rolling Stone” (que acaba falindo pouco tempo depois). Daí ele é acusado de dar um desfalque de mil dólares no banco, chega a ser preso, mas o sogro paga a fiança, então na véspera do julgamento ele foge para Honduras, onde vive por seis meses. Esse período em Honduras o inspira a cunhar a famosa expressão “República das Bananas”, que desde então vem sendo muito utilizada para se referir, ai de nós!, ao Brasil...

A notícia de que sua amada Athol está à beira da morte o faz voltar para os Estados Unidos, onde ele é preso e condenado a cinco anos de prisão (sairá ao cabo de quatro anos, por bom comportamento). E é na cadeia que ele começa a escrever para valer, adotando como pseudônimo o nome de um dos guardas do presídio, um tal de Orrin Henry (o próprio Potter negará essa versão, afirmando ter escolhido o nome ao acaso em uma página da coluna social). Um amigo se encarrega de levar os contos de O. Henry para os jornais e revistas, de forma que ninguém fica sabendo que esse autor, que começa a fazer imenso sucesso, escreve suas histórias de dentro de uma cela.

Depois de ter vivido isso tudo, Potter ainda se casou de novo, foi abandonado pela esposa em decorrência de problemas com a bebida que o levaram à morte, após ter perdido todo o dinheiro ganho com seus escritos. Ninguém pode negar, portanto, que O. Henry levou uma vida tão rica de drama e aventuras quanto suas mais instigantes histórias.

E que tipo de escrita nasceu de uma vida tão intensa? O. Henry destacou-se como um contista prolífico e especialista em surpreender o leitor com finais inesperados (ainda não havia sido cunhado o termo “plot twist”), aliados a uma narrativa espirituosa, bem-humorada e frequentemente sentimental. Essa combinação, se fez a crítica torcer o nariz, agradou em cheio ao público. As histórias de O. Henry geralmente trazem heróis da classe trabalhadora e o seu cenário predileto é a cidade de Nova Iorque. Consta que uma de suas técnicas favoritas era ficar no saguão de um hotel, observando as pessoas e ocasionalmente conversando com elas. Era assim que se inspirava para escrever um conto por semana, durante anos a fio. Desde 1920 existe nos Estados Unidos o “O. Henry Award” um respeitado prêmio destinado a contos surpreendentes.

Faltou falar de minha opinião pessoal nessa leitura: achei os contos interessantes e divertidos, talvez um pouco ingênuos para o gosto de nossos tempos. Mas “A última folha” (talvez pela sincronicidade de ler uma história sobre uma epidemia de pneumonia que assola Nova Iorque estando, mais de um século depois, em meio à pandemia do coronavírus) me arrancou uma lágrima de emoção na última frase. Gratidão, O. Henry, por sua vida e obra, que mais me estimulam a “viver para escrever”!


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