Tempos atrás,
descobri esse livro na prateleira do P.U.L.A. (Passe Um Livro Adiante), nosso projeto
de doação e troca de livros que ficou sediado de 2016 a 2020 na Casa da Música,
no Abaeté (Salvador-BA). Levei o livro para casa feliz da vida, mais do que
desejoso de lê-lo antes de passá-lo adiante, pois Simenon é um de meus autores
favoritos. A edição em outro idioma não me desestimulou: a princípio, julguei
que o livro estava no original em francês, língua na qual já me aventurei de
forma autodidata, tendo lido já uma meia dúzia de três ou quatro livros.
Contudo um olhar mais atento me revelou que o que eu tinha em mãos, na verdade,
era uma versão italiana do livro!
E esse foi o meu primeiro aprendizado com essa leitura, a respeito da similaridade entre o francês (La Vérité sur Bébé Donge) e o italiano (La Verità su Bébé Donge), que em tradução literal para o português seria “A Verdade sobre Bebê Donge”. Não consegui descobrir se esse livro foi lançado em português, mas achei uma versão em espanhol com o apelativo título de “La Verdad sobre Mi Mujer”.
Apelativo, mas certeiro. Pois apesar da narração em 3ª pessoa, a trama se concentra exclusivamente no ponto de vista de François Donge, que só começa a realmente conhecer a “verdade” sobre sua esposa depois que ela tenta assassiná-lo com uma dose de arsênico no café. E à medida em que vai sendo revelada a “verdade” complementar sobre o próprio François, como um marido infiel e distante, não pude deixar de cogitar sobre o quanto essa obra tem de elementos biográficos de seu autor, Georges Simenon.
Há uma anedota bastante conhecida a respeito de Simenon, segundo a qual certa vez ele se gabou numa entrevista de ter feito sexo com mais de dez mil mulheres. Consultada a respeito, sua esposa retrucou: “Mentira dele, foram no máximo duas mil e quinhentas.”
(E aqui cabe um parêntese a respeito de algo que muito me intriga, que é essa aparente necessidade que Simenon tinha de falsear e exagerar sua própria vida: especialistas apontam inúmeras incorreções dessa natureza na autobiografia dele. O que não consigo entender é como um escritor tão talentoso, que revela uma compreensão muito profunda da natureza humana em seus textos, padecesse de tamanha insegurança.)
Voltando à trama do livro, aqui não aparece o célebre comissário Jules Maigret, mas um de seus auxilares, o inspetor Janvier, faz uma discreta participação.
E voltando à questão de ler em italiano, acabei só me motivando mesmo ao encontrar uma edição italiana de um livro de Dennis Lehane, outro de meus autores favoritos, na Mansão dos Livros, outro projeto de doação e troca de livros que funciona aqui em Itapuã, perto do Rumo do Vento. Não quis começar pelo Lehane, cuja prosa acho complexa em qualquer idioma, mas iniciei com o excelente “O Oficial e o Espião”, do Robert Harris (http://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2021/04/o-oficial-e-o-espiao-robert-harris.html).
Compartilho aqui a técnica que utilizei para ler em outro idioma, que me foi ensinada por minha maravilhosa professora de inglês, tia Miriam: leia tentando entender o contexto geral, sem se prender a palavras isoladas e evitando consultar o dicionário. Essa técnica me ajudou muito a ler em inglês (que hoje leio e entendo com facilidade), em espanhol, em francês e, agora, em italiano. Recomendo!
Sobre o aprendizado específico do italiano, achei curioso encontrar algumas palavras mais próximas do inglês que de nosso português, como foi o caso de palavras como “geloso”, que está mais próximo do inglês “jealous” que do português “ciumento”, bem como de “ombrellone”, “guarda-sol”, que lembra bastante o inglês “umbrella”.
Como já deve ter dado para perceber, amo aprender novos idiomas! Penso que a diversidade de línguas, assim como a diversidade de costumes e culturas, expressa diferenças específicas que só realçam o todo formado pela humanidade. Cada língua espelha uma visão diferente do todo, e é muito lindo estudar e aprender com essas nuances.
Quanto ao meu exemplar de “La Verità su Bébé Donge”, já deixei no Cantinho dos Livros, outro espaço de doação e troca de livros em funcionamento em Itapuã, no segundo andar do Mercado Municipal. Que belezura ver tantos espaços de incentivo à leitura florescendo em meu bairro!
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FAVELA
GÓTICA liberado na íntegra no site da Verlidelas Editora:
https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica
Durante
esse período de pandemia, em meio a tantas incertezas, temos uma única
garantia: a de que nada será como antes. Estamos todos tendo a oportunidade
preciosa de participar ativamente na reconstrução de um mundo novo, mais
luminoso e solidário.
O
livro Favela Gótica fala justamente sobre “a monstruosidade essencial do
cotidiano”, em uma história cheia de suspense, fantasia e aventura. Ao nos
tornamos mais conscientes das sombras que existem em nossa sociedade, seremos
mais capazes, assim como a protagonista Liana, de trilhar um caminho coletivo
das Trevas para a Luz.
A
versão física de Favela Gótica está à venda no site da Verlidelas, mas – na
tentativa de proporcionar entretenimento a todos durante a quarentena – o autor
e a editora estão disponibilizando gratuitamente, inclusive para download, o
PDF de todo o livro.
Fique
à vontade para repassar o arquivo para amigos e parentes.
Leia
ou baixe todo o livro no link abaixo:
https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica
Link do livro no SKOOB:
https://www.skoob.com.br/livro/840734ED845858
Book
trailer
Entrevista sobre o livro na
FM Cultura
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