sábado, 4 de dezembro de 2021

“A POESIA É A ARTE DE CANTAR A VERDADE ATRAVÉS DA BELEZA”

 


Resenha do livro “A FLECHA E O VENTO” de Cristina Sobral

Antes de ler “A Flecha e o Vento”, eu já era fã de carteirinha da poderosa Poesia de Cristina Sobral, com a qual travei contato inicialmente através de sua luminosa participação no primeiro volume da antologia “Cura Poética” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2020/11/cura-poetica-fabio-shiva-e-sergio.html). Mas foi a partir da amizade que começou a ser cultivada e, principalmente, das intensas inserções poéticas que Cris veio fazendo em nossas reuniões semanais do Gaia Canta Paz (https://www.facebook.com/GaiaCantaPaz), é que fui sentindo na pele (literalmente) a força da Poesia que ela expressa no mundo: perdi a conta das vezes em que me emocionei até as lágrimas ao ouvi-la declamando um de seus viscerais e lúcidos poemas. E a cada novo poema seu que fui conhecendo, foi sendo confirmada essa impactante certeza: a Poesia de Cristina Sobral, como uma flecha certeira, mira sempre o âmago das coisas. E sempre com uma lindeza tamanha, com tal leveza, que pega a gente de surpresa e arrebata o nosso fôlego. Só ao sentirmos os olhos transbordando é que nos damos conta do quanto ficamos emocionados “pela força de um poema” (citando o verso final de “Canção Para Não Morrer Esse Ano”, aventura coletiva na qual novamente tivemos a alegria de contar com o brilho de Cris: https://youtu.be/uRhuaDL1ahw).


Há muitos anos tive a ventura de receber um precioso ensinamento a partir da atenta leitura de Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade. Eu me perguntava: o que há nos poemas desses dois, para alçá-los tão acima da maioria dos mortais? Depois de muitas reflexões, afinal a revelação chegou, como um raio: na Poesia de Drummond e de Pessoa (e de muitos outros que fui identificando desde então) existe sempre algo de muito profundo sendo dito, além do superficial esplendor das palavras. Não há nada de errado em tecer versos como um relato pessoal das próprias dores e amores, mas é somente quando conseguimos vincular essas alegrias e sofrimentos pessoais ao Sentimento do Mundo é que nos capacitamos a ser portais da Poesia tal como foram Pessoa e Drummond. “Amarra o teu arado a uma estrela”, como bem resumiu outro desses abençoados poetas do Sublime.

Mais recentemente, eu mesmo tentei exprimir essas percepções na forma de um poema, que contém a minha pessoal “Definição da Poesia”:

“A Poesia é a Arte

de cantar a Verdade

através da Beleza


e conter o Todo na parte

dessa certeza que arde

em cada delicadeza.

 

A Poesia é o grito

lançado no Infinito,

em que a dor do Amor se faz presa,

 

como o menino mais bonito

carregando uma chama acesa

na noite fria da incerteza.”

 

Como já deve ter ficado claro, são essas as vibrações que afloram em minha alma diante da Poesia de Cristina Sobral. Tal como em Drummond e Pessoa, seus versos tão bem escandidos estão impregnados de profundas cogitações e sentimentos. Por trás da exuberante aparência, fulgura radiosa essência. E é por isso que só posso concordar entusiasticamente com Walter Queiroz Jr., que denomina Cristina Sobral uma “sacerdotisa da palavra” em sua apresentação de “A Flecha e o Vento”. Pois ao ler os seus poemas, sentimos vividamente o sopro do Sagrado.

Em “A Flecha e o Vento” abundam exemplos de tudo quanto foi dito até aqui, começando pelo próprio título, tão rico de múltiplos significados poéticos. Sabendo que muitas outras interpretações são possíveis, compartilho aqui a minha: a “Flecha” é a intenção humana, simbolizada pela habilidade do arqueiro. E o “Vento” (palavra que significa “Espírito” em diversas tradições espirituais) representa o divino, o cosmos, o mundo, a natureza. A impulsão da flecha pode ser auxiliada ou atrapalhada pela força do vento, e cabe ao arqueiro sábio levar isso em consideração…

Nesse livro Cristina Sobral utiliza o formato ao mesmo tempo singelo e desafiador do haicai para dar vazão à sua Poesia. Estrutura poética originária do Japão, o haicai é formado por apenas três versos, com uma distribuição rígida de sílabas: cinco sílabas no primeiro verso, sete sílabas no segundo e cinco novamente no terceiro. Dizendo isso de outra forma, temos uma redondilha menor nos versos 1 e 3 com uma redondilha maior entre elas. Um pensamento brincalhão sugere que o haicai é, portanto, um delicioso “sanduíche de redondilha”…

O fato de ser tão curtinho não torna o haicai mais fácil de se escrever. Muito pelo contrário. Sua própria concisão exige esmero e lapidação das ideias, para se atingir o efeito emocional esperado. Tal como a Cerimônia do Chá, outra invenção do lirismo japonês, o haicai é uma simplicidade aparente que guarda profundidades inesgotáveis.

Dito isso tudo, penso que deve ter sido inevitável, natural e simples esse livro de haicais na jornada poética de Cristina Sobral. Penso que uma força da natureza, como a gravitação universal, deve ter movido a gestação desse livro. Pois nada mais perfeitamente adequado para exercer o seu sacerdócio poético que a “fórmula mágica” do haicai!

Li esse livro ao longo de algumas semanas, lentamente, saboreando. Logo desisti da ideia de sublinhar os poemas mais marcantes, pois acabaria riscando o livro inteiro. E foi assim que tive a ideia de, para encerrar essa resenha, sortear três haicais de Cris Sobral para dar um gostinho desse maravilhamento, abrindo as páginas ao acaso. E assim fiz:

 

“sobras no prato

em um outro ponto

a fome é fato”

 

*

 

“tempos infindos

a dor do feminino

indo e vindo”

 

*

 

“sopro do vento

a sutil melodia

fora do tempo”




\\\***///

 


Imagine um jogo que ensina as crianças a rimar e fazer Poesia!

Disponível gratuitamente no link abaixo:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/6446934

 

O jogo POESIA DE BOTÃO faz parte do projeto selecionado pelo Edital Arte Todo Dia – Ano IV, da Fundação Gregório de Mattos (Prefeitura de Salvador), com apoio de Athelier PHNX, Verlidelas Editora, Caligo Editora, Suporte Informática e AG1. O propósito do jogo é convidar as crianças a vivenciar o universo da Poesia de forma lúdica e atrativa, como uma “brincadeira de montar versos”. POESIA DE BOTÃO é especialmente indicado para crianças já alfabetizadas, mas nada impede que adultos possam brincar também e se beneficiar com o jogo.

https://youtu.be/UUm0XQfaslM


 



6 comentários:

  1. Que lindeza, parabéns querida Cris Sobral
    E viva a poesia,e sua forma de cantar e encantar

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  2. Minha dileta amiga Cris sempre nos encantoucom seus versos em forma de poesia ou prosa, interpretando-os com magia e tamanha originalidade que só ela sabe fazê-lo, exalando pureza e elegância de estilo. Cris: vc é luz e beleza em sua criatividade. Abraço afetuoso.

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