Resenha do livro “TIROS
DE ARCABUZ” de Cícero Christófaro
Passei os últimos dias de 2021 na feliz companhia da Poesia de Cícero Chritófaro, apreciando sem pressa cada poema, por vezes rindo de uma traquinagem do poeta, por vezes balançando a cabeça em concordância diante da sabedoria de um verso, frequentemente me emocionando com o encanto e a beleza que fui encontrando. E ao longo da leitura fui me dando conta dessa rica multiplicidade das personas poéticas de Cícero, que por um capricho eu quis enquadrar em apenas três (mesmo percebendo que podem ser bem mais):
1) O menino Cicinho
Jocoso, matreiro e brincalhão, um menino de cabeça branca que brinca de
fazer poesia como brincaria de empinar pipa ou jogar bola, autor de versos
como:
“nasci
vivi
morri
nem por isso me dei mal”
2) Cícero, o homem
O poeta viril, que nos fala de seus amores, desejos e desencantos:
“maria
diz que não amo seus joelhos
Luiza
que não seus cabelos
Sara
que me esqueço das suas
sobrancelhas
Rute
reclama minhas olhadas às
esguelhas
para seus mamilos
são lindos
não fui eu quem os fez
Mariana
por sua vez
reclama que não olho seus pés”
3) O velho Christófaro
É o poeta sábio, vivido e hábil, que resume em poucos versos reflexões
profundas:
“em meio a meio à mentira
sonho e luto
sou espaço
entre a semente e o fruto”
E desde que notei essa tríplice personificação na Poesia de Cícero
Christófaro, foi se tornando irresistível a alegoria da Esfinge, com seu enigma
que pode custar a vida de quem não souber decifrá-lo:
“Qual é a criatura que pela manhã anda com quatro pernas, ao meio-dia com duas e à tarde com três?”
Édipo sagra-se herói ao responder “o homem”, percebendo na pergunta da Esfinge uma metáfora para o ciclo da vida humana: engatinhando na infância, caminhando com seus próprios pés na vida adulta e precisando de uma bengala na velhice. E tal como a Poesia de Cícero, essa bela história comporta muitos níveis de significação, ao gosto do leitor.
Eu, por mim, aposto que o Enigma de Cícero é solucionado no belo exemplo do homem que soube manter viva a sua criança interior e que, assim, consegue chegar à terceira idade com os olhos ainda brilhando pela perspectiva de novas e felizes descobertas. Aposto nesse exemplo, que tenho feito o possível para imitar.
Cícero Christófaro é um amigo querido que conheci através da “Cura Poética”, que começou como uma luminosa iniciativa da Verlidelas Editora (https://www.verlidelas.com/), com o segundo volume prestes a sair agora, no início de 2022. Por ocasião do lançamento da primeira antologia, em 2020, tive a oportunidade de ver o próprio Cícero se apresentando e declamando (https://youtu.be/kMfBDShZS_4).
Mas a “Cura Poética” acabou ganhando vida própria, como tinha de ser. O grupo inicial no WhatsApp, que foi criado unicamente para organizar o sarau de lançamento do livro (https://www.instagram.com/tv/CHy4zIZJuei/), acabou se tornando um espaço abençoado de compartilhamento de Poesia e Amor, fazendo lindamente jus ao nome. E foi então que a igualmente querida Sonia Regina Villarinho teve a feliz ideia de propor que os poetas do grupo declamassem os poemas uns dos outros, o que gerou uma série de vídeos encantadores, inclusive esse onde ela declama um de Cícero (https://youtu.be/uzz2jCI8UJQ).
Outra lembrança muito feliz foi o Sarau Pé de Poesia que teve como convidados de honra Cícero e outro queridíssimo, Marcos Peixe (https://www.instagram.com/p/CVEdFuQDx1Z/). Creio que foi nesse sarau que alguém declamou um poema de Cícero que muito me marcou. Não lembro qual a queridíssima irmã poeta que declamou, se foi Cristina Sobral, Dilu Machado ou Neuza de Brito Carneiro, mas o poema declamado ficou marcado a ferro e fogo, ou melhor dizendo, a tiro de arcabuz:
“Rival
é aquele que
beijou, beija, beijará ou beijaria
minha
ex, atual ou futura amada
matá-lo-ei
com tiros de arcabuz
comerei seu fígado com cuscuz
vendo seus restos mortais serem devorados pelos
urubus
ao lado da minha
ex, atual ou futura amada
VENDETA!”
Simplesmente sensacional. Assim é a Poesia de Cícero Christófaro.
\\\***///
Imagine um jogo que ensina as
crianças a rimar e fazer Poesia!
Disponível gratuitamente no
link abaixo:
https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/6446934
O jogo POESIA DE BOTÃO faz parte do projeto selecionado pelo Edital Arte
Todo Dia – Ano IV, da Fundação Gregório de Mattos (Prefeitura de Salvador), com
apoio de Athelier PHNX, Verlidelas Editora, Caligo Editora, Suporte Informática
e AG1. O propósito do jogo é convidar as crianças a vivenciar o universo da
Poesia de forma lúdica e atrativa, como uma “brincadeira de montar versos”. POESIA DE BOTÃO é especialmente
indicado para crianças já alfabetizadas, mas nada impede que adultos possam
brincar também e se beneficiar com o jogo.
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