Resenha do livro “A INCRÍVEL E TRISTE HISTÓRIA DA
CÂNDIDA ERÊNDIRA E SUA AVÓ DESALMADA”, de Gabriel García Márquez
Se você nunca leu uma história de realismo mágico e desconhece o que seja a literatura fantástica, acho que dificilmente encontrará uma obra que explique o que é tudo isso em poucas páginas de forma melhor que essa pequena obra-prima. “A Incrível e Triste História da Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada” consiste em seis contos e mais uma noveleta, que é justamente a história que dá título ao livro. Os textos foram escritos ao longo de um hiato de 11 anos, entre 1961 e 1972.
Quero registrar o nome das histórias, pois acho que transmitem um pouco de seu sabor mesmo para quem não as leu ainda: “Um Senhor Muito Velho com umas Asas Enormes” (1968), “O Mar do Tempo Perdido” (1961), “O Afogado Mais Bonito do Mundo” (1968), “Morte Constante para Lá do Amor” (1970), “A Última Viagem do Navio-Fantasma” (1968), “Blacaman, o Bom Vendedor de Milagres” (1968) e “A Incrível e Triste História da Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada” (1972).
“(…) e assim remava tão ensimesmado que não soube de onde chegou, de súbito, um pavoroso bafo de tubarão, nem por que a noite se fez densa como se as estrelas tivessem morrido de repente, e era porque o transatlântico estava ali, com todo o seu inconcebível tamanho, mãe, maior que qualquer outra coisa grande no mundo e mais escuro que qualquer outra coisa escura da terra ou da água, trezentas mil toneladas cheirando a tubarão, passando tão perto do bote que ele podia ver as costuras do precipício de aço, sem uma só luz nos infinitos olhos de boi, sem um suspiro nas máquinas, sem uma alma, e levando consigo seu próprio âmbito de silêncio, seu próprio céu vazio, seu próprio ar morto, seu tempo parado, seu mar errante no qual flutuava um mundo inteiro de animais afogados (…)”
Rememoro ainda certa
passagem de um dos contos, que embora narrada de forma leve e lúdica, representa
simplesmente uma das cenas mais horripilantes que já li em um livro! Não entro
em detalhes para não cometer spoiler, mas repare bem: a cena é contada de forma
até engraçada, graças ao gênio de García Márquez, contudo a ideia que ela descreve
é sinistra e assustadora em um nível raramente atingido por nomes como Allan
Poe, Lovecraft ou Stephen King.
Recorro a essa
forma enviesada de escrever essa resenha por uma relutância natural de
responder de forma direta à pergunta: mas afinal, o que é a literatura
fantástica? Do que trata mesmo o realismo mágico? Hesito em responder essas
perguntas da mesma forma que hesitaria em responder essas outras: o que é a
vida? O que pode ser definido como realidade?
Posso dizer apenas (e não é pouco) que quanto mais leio realismo mágico e literatura fantástica, mais me convenço de que são formas privilegiadas de expressar, pela Arte, a totalidade da vida. Seja lá o que for a vida, ela é fantástica! E sem dúvida alguma a realidade (independente do que seja) pode ser chamada de mágica!
Encerro agradecendo pela feliz oportunidade de ter lido García Márquez logo em seguida a Shakespeare. Nunca antes havia atentado na singular similaridade entre esses dois gênios: eles são igualmente únicos e incomparáveis, por trazerem o âmago de sua Poesia interior para dar vida à sua forma muito especial de fazer Literatura. E viva o Bardo! E viva Gabo!
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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor
de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/).
Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).
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