Resenha do livro “COMO
ESCREVER DIÁLOGOS”, de Silvia Adela Kohan
Esse livro chegou pelo correio, como uma linda surpresa de meu querido Manoji Axel Guedes. E chegou em boa hora, quando estou prestes a iniciar a revisão de um novo romance em que a narrativa se dá principalmente através dos diálogos. Achei o livro muito útil e pretendo relê-lo de tempos em tempos.
Mesmo quem não pretende escrever diálogos pode gostar de ler esse livro, desde que seja apaixonado por literatura. Uma primeira e muito importante reflexão a respeito dos diálogos na ficção, à qual nem sempre damos a devida importância, é sobre o quanto os diálogos dos romances e contos se distanciam das conversas que realmente acontecem na vida real.
Vou citar como
exemplos bem marcantes as considerações de dois talentosos escritores a respeito.
O britânico de origem polonesa Joseph Conrad considera os diálogos literários
monstruosamente falsos, pois na vida real a maioria das pessoas nunca escuta o
que as outras estão dizendo, o tempo todo pensando no que vai dizer em seguida.
Já o cubano de origem franco-suíça Alejo Carpentier abomina igualmente os
diálogos da ficção, por serem totalmente diferentes do caos de interrupções, hiatos
e continuações desconexas de uma conversa real, que pula de assunto a assunto a
cada dois minutos.
A essas reflexões mencionadas em “Como Escrever Diálogos”, acrescento um questionamento do brasileiro Luiz Ruffato, que assisti em uma entrevista concedida por ele no Curta! (meu canal favorito). Ruffato pontua que as falas de personagens trabalhadores, humildes, geralmente são escritas de forma caricatural, com ênfase nos erros de português. Mas as falas dos personagens de classe média e alta são escritas em português sem erros, sendo que as pessoas de classe média e alta também cometem erros em seu falar. Como escritor, eu sempre desgostei desses diálogos que arremedam o falar do povo (embora, devo acrescentar, sejam recomendados no livro de Silvia Adela Kohan). Mas nunca havia atinado nessa seletividade elitista de reproduzir as falas do povo de forma caricatural e as falas dos abastados de forma melhorada. Considero esse pensamento do Ruffato um ganho para toda a vida, por isso é que compartilho aqui nessa resenha sobre o tema.
Para dar uma
palhinha do livro, cito uma lista elaborada pela autora com “14 passos
concretos para a criação de bons diálogos”:
“1. Definir a intenção do relato.
2. Fazer fichas
completas dos personagens: sabendo quem são eles, saberemos como falam.
3. Decidir se a
ambientação prepara o diálogo ou se do diálogo surge a ambientação: saber a causa
de nossa escolha.
4. Dosar a informação:
não acumular informações importantes na forma de um inventário, de modo
explicativo e direto, mas diluí-las ao longo dos diversos discursos.
5. Só pontuar o
diálogo com interjeições e interrogações se for realmente necessário.
6. O diálogo deve
ser real para nós e verossímil para o leitor.
7. Não recorrer à
nossa experiência pessoal, mas à personalidade inventada, que não pertence à
realidade e é independente do escritor.
8. Não fazer os personagens
dialogarem em vão, por mais tempo do que o episódio requer.
9. Não abusar do
verbo “dizer”. Limitar o uso dos verbos dicendi no estilo direto, sempre que sua eliminação
não leve a equívocos.
10. Não informar
sobre a biografia dos personagens pelo diálogo, a menos que um dos personagens
necessite dessa informação: seria um mecanismo falho, pois os que conversam
entre si já sabem, em princípio, quem é o seu interlocutor.
11. Avaliar se,
numa cena, faltam diálogos ou há diálogos em excesso.
12. Atenção aos
dialetos. Se vamos utilizá-los, é importante garantir que o leitor poderá
interpretar corretamente o significado das falas.
13. Intercalar o
verbo “dizer” – “eu disse”, “ele disse”, “ela dizia” – com outros verbos mais
precisos, sobretudo quando o personagem faz ou diz algo de um determinado modo.
14. Tentar mostrar
as emoções que assaltam o falante, e não simplesmente mencioná-las.”
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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor
de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI -
Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).
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Instagram: https://www.instagram.com/prosaepoesiadefabioshiva/
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ESCRITORES PERGUNTAM, ESCRITORES RESPONDEM
Escrever para quê?
Doze escritores dos mais
diversos estilos e tendências, cada um de seu canto do Brasil, reunidos para
trocar ideias sobre a arte e o ofício de escrever. O resultado é este livro: um
bate-papo divertido e muito sério, que instiga o leitor a participar ativamente
da reflexão coletiva, investigando junto com os autores os bastidores da
literatura moderna. Uma obra única e atual, recomendada a todos os que amam o
mundo dos livros.
Disponível no link abaixo,
leia e compartilhe:
Ora muito bem! Gostei :))
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Permito-me vaguear sem restrição
.
Beijo, e uma excelente semana.
Gratidão, querida!
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