Comunidade Resenhas Literárias: A DIFÍCIL E DOLOROSA DESCOBERTA DO DIAMANTE DENTRO DE SI

Resenha do livro “LAPIDANDO A VIDA”, de Conceição Santana

Ler esse livro de crônicas da querida Conceição Santana foi uma experiência única e muito rica. Como o próprio título sugere, o ato da escrita é para Conceição um constante burilamento. Não no sentido da busca (talvez estéril) de uma prosa perfeita. Mas sim, em uma conotação mais profunda, de tentar alcançar, através da escrita, um aprimoramento da própria vida.

Eu também considero o exercício da palavra (seja escrita ou falada) intensamente terapêutico. Muitas vezes, o simples fato de falarmos (ou escrevermos) a respeito de algo nos faz acessar camadas de significado que até então estavam escondidas. Isso é especialmente válido quando o objeto de nossa fala (ou escrita) é alguma situação difícil, que nos desagrada e/ou nos desafia. Exercer a palavra sobre aquilo que nos incomoda, desde que consigamos escapar da armadilha fácil da queixa e da vitimização, é um ato vital de empoderamento de conteúdos inconscientes a respeito de nós mesmos.

Esse uso terapêutico da palavra é a tônica de “Lapidando a Vida”, terceira obra dessa autora que também é médica. Cada crônica de Conceição é um mergulho de peito aberto em algum mar desconhecido. Às vezes as águas são calmas e acolhedoras, às vezes são gélidas, tormentosas, infestadas de tubarões. Isso não parece intimidar Conceição nem um pouco em suas investidas. Colhendo dores ou alegrias, ela segue se aprofundando em si mesma, movida por curiosidades quase científicas: ”o que é isso que estou sentindo?”, “como posso sair dessa dificuldade em que me encontro?”, “o que meus olhos me dizem diante do espelho?”

Por isso tudo achei perfeito o título “Lapidando a Vida”. Cada crônica desse livro é o resultado de uma “pedra bruta”, dessas que têm no caminho de nós todos, e que vai sendo lapidada até revelar o seu brilho e valor. E assim, nesse processo árduo e dorido, é que vamos burilando o diamante mais brilhante e valioso, que mora na jazida de nós mesmos.

Ao lapidar a própria vida, Conceição Santana ajuda seus leitores a resgatarem seu próprio brilho e valor. Somos beneficiados, nessa leitura, dos labores de Conceição em sua ourivesaria de sentimentos. Sem passar pelas mesmas agruras da autora, testemunhamos a vitoriosa conquista de suas pedras preciosas e então, sem o ônus do sofrimento, saímos enriquecidos.

Quem já leu e se encantou com “Simplesmente Pérola” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2022/04/transformar-o-sofrimento-em-beleza-e-um.html), livro anterior de Conceição Santana, vai gostar ainda mais de “Lapidando a Vida”. Da pérola para o diamante, Conceição segue brilhando, na literatura e na vida.