Resenha do livro “HOMENS
CRUÉIS”, de Marcial Lafuente Estefania
No outro dia, ao passar pela Mansão dos Livros (espaço para doação e troca de livros em Itapuã), encontrei uns dez bolsilivros em ótimo estado, sendo uns três ou quatro de guerra e espionagem e o resto de faroeste. Levei todos para casa, imaginando que meu pai iria ficar contente com essa nostálgica recordação do passado. E no mesmo dia já peguei para ler esse “Homens Cruéis”, de Marcial Lafuente Estefania.
Para quem não sabe o que é um bolsilivro, há 40 ou 50 anos era uma publicação bastante popular, vendida nas bancas de jornal de todo o Brasil. Favor não confundir com o Pocket Book ou Livro de Bolso, versão mais chique e robusta, que também era vendida nas bancas, mas geralmente trazia grandes best-sellers internacionais. O bolsilivro era subliteratura em todos os sentidos: publicação mirrada em papel de baixa qualidade, com narrativas simplórias escritas a toque de caixa para o entretenimento das massas iletradas.
Desnecessário dizer que eu amava ler bolsilivros quando era criança. Gostava dos de guerra e espionagem, mas os meus favoritos eram mesmo os de faroeste, filão principal que tinha no espanhol Marcial Lafuente Estefania um de seus autores mais famosos.
Meu reencontro com Estefania, 40 anos depois, se não trouxe de volta um lampejo do entusiasmo infantil (como eu secretamente esperava), ao menos propiciou um rico aprendizado e muitas reflexões. Como seria de se esperar, a trama é bem básica e recheada de violência. Calculei uma média de duas mortes e meia a cada três páginas, mais ou menos. A maioria dos personagens nem chega a receber a dignidade de um nome: são “vaqueiros”, “pistoleiros” e “homens barbudos” que entram na história só para receber um balaço certeiro no parágrafo seguinte. Impressiona especialmente a atuação do delegado federal, que parece possuir um estoque inesgotável de corda na sela de seu cavalo, de tanto que ele manda enforcar facínoras e malfeitores a torto e a direito, sem o menor vestígio de julgamento: apenas duas ou três frases separam a captura da execução.
O que parece distinguir os heróis dos vilões é uma mera questão de habilidade: o mocinho é sempre o mais rápido no gatilho. Uma descoberta curiosa foi que tanto morticínio acaba tendo uma qualidade reconfortante e até sedativa. Esse despropósito de assassinatos banais não gera a menor consequência, não passa de um entretenimento leve e rasteiro, uma fugaz distração às duras lidas do cotidiano.
E foi aí que tive um belo ganho, ao perceber que os bolsilivros eram uma diversão do povo, lidos por gente simples, por trabalhadores e estudantes, principalmente do sexo masculino. As mulheres tinham seu equivalente nas séries românticas “Júlia”, “Bianca”, “Sabrina” etc. Pois essa percepção trouxe imediatamente um questionamento: hoje, que não existem mais bolsilivros, qual é a leitura feita pelo tipo de pessoa que antigamente lia bolsilivros? A resposta é, muito provavelmente, nenhuma leitura. As pessoas que outrora se entretinham com narrativas estupefacientes de violência ou de amores hoje se valem de redes sociais como Tik Tok, Facebook e WhatsApp para preencher seu tempo ocioso de vida.
E daí surgiu de pronto outra pergunta: será que era melhor ocupar a mente com bolsilivros ou com Tik Tok? A resposta a que eu cheguei foi a de que sem dúvida era melhor ler bolsilivros. Mesmo com a qualidade irrisória das histórias, o mero ato de ler suscita a preciosa atividade da interpretação de texto, de que anda tão carente a nossa sociedade atual. Ler é recriar na mente do leitor o que foi imaginado pelo escritor. Assistir incontáveis vídeos em sequência no Tik Tok certamente desenvolve alguma habilidade que não é exercitada pela leitura, mas no geral essa atividade me parece muito mais passiva e menos estimulante do raciocínio que o arcaico e cada vez mais raro hábito da leitura.
Claro que posso estar enganado. Esse é, aliás, meu sincero e ardente desejo.
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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor
de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI -
Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).
Facebook: https://www.facebook.com/sincronicidio
Instagram: https://www.instagram.com/prosaepoesiadefabioshiva/
Para celebrar o seu décimo aniversário, a Caligo Editora está disponibilizando gratuitamente o PDF do romance policial “O SINCRONICÍDIO: sexo, morte & revelações transcendentais”, de Fabio Shiva. Lançado em 2013, o livro chama atenção pela originalidade da trama, que mistura xadrez e I Ching. Confira no link:
https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7847612
O SINCRONICÍDIO – Fabio Shiva
“E foi assim que descobri que a inocência é como a
esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”
Haverá um desígnio oculto por
trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas
um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os
diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o
inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para
morrer.
“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos
abraçar a escuridão.”
Suspense, erotismo e
filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma
história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo
(clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das Mutações.
Um romance de muitas possibilidades.
Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender
o leitor.
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