quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

SUSPENSE INSTANTÂNEO EM PÓ: MISTURE ÁGUA MORNA E FICA PRONTO EM 3 MIN!

 


Resenha do livro “A ÚLTIMA FESTA”, de Lucy Foley


Vou começar falando sobre o que gostei nesse livro. Em três momentos específicos, a autora Lucy Foley apresentou ideias bem interessantes, que me fizeram parar para refletir. A melhor delas é sobre a dança:

“Ela fica completamente à vontade, dançando enquanto o restante de nós observa, sem se mexer. Está em total sintonia com o próprio corpo. Sempre desejei essa falta de inibição. Porque, no fundo, não é isso que a dança é? Não é preciso ser tão talentoso: não a menos que seja algo que se faça para ganhar a vida. É mais uma capacidade de se desvencilhar da própria vergonha.”


Ao ler esse trecho, rendi mais uma vez meu grato tributo à Biodança, sistema criado por Rolando Toro, que nos possibilita dissolver couraças emocionais e dar saltos existenciais por meio de vivências e de danças que promovem justamente essa libertação da vergonha e de outras escravidões psíquicas.

O segundo trecho foi uma crítica ferina de um dos personagens a outro, dizendo algo como “você nunca se preocupou em ser uma pessoa incrível, nem em realizar nada de importante. Sua única preocupação foi sempre adquirir coisas.” Achei essa crítica bem pertinente, ainda mais em nossos dias.


E o terceiro trecho, finalmente, nos aproxima do tema do livro, que é uma história de assassinato. Um dos personagens reflete sobre as fotos de vítimas de assassinato publicadas em jornais e sites, não as fotos da cena do crime ou do cadáver, mas das vítimas quando em vida, antes de o crime ser cometido. E nessa reflexão sugere que há uma certa “aura” mórbida ou melancólica no olhar dessas pessoas, como se algo já as estivesse marcando para um destino tão sombrio. Fiquei pensando nisso, pois houve uma época em que estudei o tema do serial killer e vi muitas dessas fotos de vítimas de monstros como Ted Bundy, John Wayne Gacy, Jeffrey Dahmer etc., e lembro que essas fotos me causaram justamente essa impressão de “catástrofe iminente”. Será que essa impressão foi causada por eu saber de antemão o triste destino daquelas pessoas, ou será que de fato havia algo no olhar delas que evocava essa sensação? Uma questão totalmente subjetiva, de difícil resolução.

Ao ler “A Última Festa”, também gostei do estilo narrativo da autora e de sua ácida descrição dos personagens. A trama apresenta bastante suspense, o que me manteve interessado na leitura. Contudo com esse mesmo excesso de suspense começam as (muitas) dificuldades do livro. Pois gerar expectativa e curiosidade em uma trama de suspense é relativamente fácil. Difícil é entregar respostas satisfatórias para as perguntas com as quais se criou tanta expectativa. E nesse ponto o romance de Lucy Foley fracassa completamente.


Pois o suspense na trama é artificial, como um café instantâneo ou mesmo um miojo desses que é só misturar com água morna e esperar 3 minutos que está pronto. Tem quem goste, evidentemente.

Mas o que quero dizer com “suspense artificial”? Bom, dentre outras coisas, a maior parte do mistério da história não está em descobrir quem é o assassino, mas quem foi a vítima! E isso não decorre naturalmente da própria história, mas é um mistério criado artificialmente pela autora, que deliberadamente suprime essa informação o máximo possível, evitando citar o nome da vítima e referindo-se a ela por termos neutros como “o corpo”, “o cadáver”, “a pessoa assassinada” etc. Ler essa história me fez pensar naquelas pessoas chatésimas que adoram contar uma história prolongando o suspense com esse mesmo recurso de suprimir uma informação básica de forma artificial: “Você não imagina quem encontrei hoje, vou lhe dar três chances de adivinhar...”

O problema desse recurso é que invariavelmente a resolução do enigma resulta em frustração. Em um suspense “genuíno”, em um bom romance de mistério (como os de Agatha Christie, com quem Lucy Foley tem sido tão imerecidamente comparada), a solução do enigma resulta na “catarse”, uma eclosão emocional altamente satisfatória. No caso da pessoa chata contando a história, quando ela afinal revela o motivo de tanto suspense, o resultado na maior parte das vezes é de desapontamento, seguido da mágoa pelo tempo que perdemos nos dedicando a uma charada tão besta.

E foi assim com “A Última Festa”. Todas as expectativas criadas artificialmente resultaram em decepção: “fez tanto mistério só pra no final contar algo tão sem importância?”

Mas o pior de tudo, e o imperdoável, foi que o mistério por excelência de todo romance policial, a pergunta que motiva toda a trama (“quem matou?”) teve nesse livro o desfecho mais fajuto que tive o desprazer de ler. Não vou entrar em detalhes para não cometer spoiler, mas basta dizer que a solução do mistério não depende em nada de pistas ou raciocínios.


Mas o pior mesmo é que isso não é o pior. No texto de apresentação à obra, a editora tasca a seguinte heresia:

“Pois o que Lucy Foley nos entrega em seu livro é uma revisitação moderna do clássico crime do quarto fechado, com todos os elementos obrigatórios somados a um toque incontestável de autenticidade.”

Confesso que cheguei a ficar deprimido ao ler isso. Ora, um “crime do quarto fechado” é um tipo particular de história policial onde além do assassinato em si temos um mistério a mais: o crime é cometido em um quarto trancado por dentro. Ou seja, além de descobrir o assassino temos que descobrir como ele saiu do quarto e conseguiu trancar o quarto depois. Sempre achei essa definição óbvia. Mas ver uma editora grande, com tradição e um nome a zelar, se referir dessa forma a uma história cujo crime é cometido a céu aberto (para não mencionar a solução chinfrim já mencionada)... Posso estar exagerando, mas meu sentimento foi de estar diante de (mais uma) incontestável evidência da galopante decadência da cultura e das artes na civilização moderna. E daí, quem está ligando?

Certamente não a multidão de leitores que transformou “A Última Festa” em um grande sucesso literário.


 

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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

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Instagram: https://www.instagram.com/fabioshivaprosaepoesia/

 

 

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O SINCRONICÍDIO: Sexo, Morte & Revelações Transcendentais – Fabio Shiva

Leia o PDF grátis:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7847612

 

Para celebrar o seu décimo aniversário, a Caligo Editora está disponibilizando gratuitamente o PDF do romance policial “O SINCRONICÍDIO: sexo, morte & revelações transcendentais”, de Fabio Shiva. Lançado em 2013, o livro chama atenção pela originalidade da trama, que mistura xadrez e I Ching.

 

“E foi assim que descobri que a inocência é como a esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”

Haverá um desígnio oculto por trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para morrer.

“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos abraçar a escuridão.”

Suspense, erotismo e filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo (clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das Mutações. Um romance de muitas possibilidades.

Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender o leitor.

 

Livro físico por R$ 29,90 com frete grátis:

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Book trailer:

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Baixe o PDF gratuitamente:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7847612

 

 

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