Resenha do livro “ASSASSINO BRANCO”, de Philip Kerr
Gostei demais desse livro, que me pegou totalmente de surpresa. São muitas camadas possíveis de leitura e reflexão que podemos fazer, e isso em uma história de suspense arrebatador, que nos faz virar compulsivamente as páginas.
“Assassino Branco” é o segundo volume da trilogia “Berlim Noir”, do escritor escocês Philip Kerr. Foi realmente um achado a ideia de ambientar tramas policiais noir na Alemanha Nazista. Nesse volume dois estamos no ano de 1938, pouco antes da infame “Noite dos Cristais”, que de certa forma dá o mote do enredo. Kerr surpreende na vívida reconstrução histórica, que nos faz vivenciar o ambiente progressivamente asfixiante do nazismo em ascensão, com a perspectiva da guerra cada vez mais iminente e a banalização da violência, da truculência, da estupidez arrogante.
O detetive Bernie Gunther é outro achado. Mesmo contra a vontade, ele prospera nos círculos da polícia nazista, por possuir uma qualidade rara nesse meio: a inteligência. E para defender a própria sanidade, ele se vale da ironia, do sarcasmo e do cinismo. O que nos brinda com tiradas como:
“Ter muito dinheiro não é garantia de bom gosto, mas pode tornar sua falta muito mais óbvia.”
E aí chegamos aos assassinatos, que são especialmente brutais para conseguir chamar a atenção em uma época de tanta brutalidade: belas adolescentes arianas são encontradas mortas após um ritual de tortura que sugere ritos satânicos. Convocado para deslindar os crimes, Gunther se empenha de corpo e alma na missão, mesmo questionando a ambiguidade moral de perseguir um assassino em uma nação que exalta e celebra o assassinato:
“Qual a importância de mais um psicopata entre tantos?”
Em outras palavras, como estabelecer os imprescindíveis limites entre “certo” e “errado”, que nos definem como humanidade, quando a maioria das pessoas (ou ao menos das pessoas em posições de poder) defende as maiores vilanias como atos de heroísmo e a canalhice como sinônimo de virtude? Essas reflexões suscitadas por um romance ambientado na Alemanha de 1938 não deixam de evocar um espaço-tempo bem mais recente: esse parágrafo poderia estar muito bem descrevendo o Brasil de 2018. E aí nos deparamos com essa pérola, que para mim sintetiza o brilho de “O Assassino Branco”:
“A vida é apenas uma batalha para manter uma pele civilizada.”
Ainda tive um ganho a mais com essa leitura, que quero registrar aqui. Em dado momento, fiquei impressionado com a finesse da construção da trama, unindo diversos elementos colocados no início do livro às complexas consequências que afloram no final. E pensei, cheio de admiração: “Deve ter dado um trabalho e tanto escrever esse livro.” Pois bem, pouco depois me vi entretido em solicitar a criação de imagens por meio da Inteligência Artificial, e notei um curioso fenômeno: os desenhos, belíssimos, foram progressivamente me causando tédio. Isso me deu um vislumbre de nossa interação com as obras criadas por IA em um futuro próximo: à medida em que seu uso for se banalizando, ficaremos cada vez mais indiferentes e apáticos diante de uma arte destituída por completo de sua “aura” (no sentido dado por Walter Benjamin). Veremos.
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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor
de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).
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O SINCRONICÍDIO: Sexo, Morte & Revelações
Transcendentais – Fabio Shiva
Leia o PDF grátis:
https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7847612
Para celebrar o seu décimo aniversário, a Caligo Editora está disponibilizando gratuitamente o PDF do romance policial “O SINCRONICÍDIO: sexo, morte & revelações transcendentais”, de Fabio Shiva. Lançado em 2013, o livro chama atenção pela originalidade da trama, que mistura xadrez e I Ching.
“E foi assim que descobri que a inocência é como a esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”
Haverá um desígnio oculto por
trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas
um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os
diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o
inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para
morrer.
“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos
abraçar a escuridão.”
Suspense, erotismo e
filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma
história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo
(clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das
Mutações. Um romance de muitas possibilidades.
Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender
o leitor.
Livro físico:
E-book:
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