Resenha do
livro “ANTES DA QUEDA”, de Noah Hawley
Só quando sentei para escrever essa resenha foi que me dei conta da sincronicidade entre o primeiro livro que li esse ano e a recente tragédia (temo que seja a primeira de muitas) a abalar o segundo e funesto mandato de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. Pois já no primeiro capítulo de seu livro, Noah Hawley anuncia:
“(...) nenhum deles imagina que, dezesseis minutos depois, o avião vai cair no mar.”
Perceber essa sincronicidade me despertou para outras tantas: na ficção, a queda do avião suscita as mais estapafúrdias teorias da conspiração por parte de canalhas interessados em manipular a opinião pública em proveito próprio... e por aí vai. Mas não vou me deter nisso, pois tenho coisas bem mais interessantes para falar a respeito desse livro.
Começando por
minha motivação para lê-lo. E essa foi a série “Fargo” (https://www.youtube.com/watch?v=ZMPjvWDciOo),
que já está em sua 5ª temporada e que por sua vez foi inspirada no sensacional
filme dos irmãos Cohen (https://www.youtube.com/watch?v=ju75Sd4yAZw),
lançado em 1996. Pois bem, amei o filme, que já assisti ao menos três vezes.
Mas a série me deixou absolutamente mesmerizado, por conta da inusitada mistura
de personagens para lá de bizarros (e carismáticos), violência, humor macabro e
um toque de sobrenatural, em meio a intricadas tramas policiais. Fiquei doido
para ler qualquer coisa escrita pelo roteirista da série, Noah Hawley. E “Antes
da Queda” foi o primeiro livro dele que encontrei.
Para ser sincero, gostei bem mais da série que do livro. Mas vi alguns elementos que me encantaram em “Fargo” também aqui. Sem contar com essas instigantes passagens, que mais que fizeram a leitura valer a pena:
“Sua ideia era transformar os jornais em um clube de pessoas com a mesma opinião. Os primeiros espectadores seriam aqueles que vinham defendendo aquela filosofia havia anos. E, logo depois deles, as pessoas que passaram a vida inteira procurando alguém que dissesse em voz alta o que sempre haviam sentido. E, depois que tivessem angariado esses dois grupos, hordas de curiosos e indecisos os seguiriam.”
“O trabalho voltara a ser a única coisa que importava, só que Scott havia percebido que ele era o trabalho. Não há como separar você das coisas que você faz, pensou. Se você é uma fossa, seu trabalho só pode ser uma merda.”
“A verdade é que haveria dinheiro suficiente no mundo para que todos se sentissem completos, se pudéssemos apenas aprender a fazer o que qualquer criança sabe: dividir. Mas o dinheiro, assim como a gravidade, é uma força que se acumula, que se fecha cada vez mais em si mesmo e, às vezes, cria um buraco negro que conhecemos como riqueza. Isso não é simplesmente culpa dos seres humanos. Pergunte a qualquer nota de dólar e ela dirá que prefere a companhia de centenas de outras notas à de algumas. Melhor ser uma nota qualquer em uma conta de bilionário do que uma única nota suja no bolso rasgado de um viciado.”
“O mercado de arte, assim como o de ações, tem base em uma percepção de valor. Um quadro vale aquilo que alguém esteja disposto a pagar e esse número é influenciado pela percepção da importância do artista, por sua aceitação. Para ser um artista famoso cujos quadros são vendidos por muito dinheiro é preciso já ser um artista famoso cujos quadros são vendidos por muito dinheiro, ou alguém que o chancele como tal.”
“Mas, da mesma maneira que o nariz e as orelhas de um homem se tornam exagerados à medida que ele envelhece, os problemas psicológicos que o definem também se sobressaem. Todos nos tornamos caricaturas de nós mesmos quando vivemos o suficiente.”
“Einstein disse outra coisa: ‘Quanto mais a evolução espiritual da humanidade avança, mais certo me parece que o caminho para a religiosidade genuína não passa pelo medo da vida, pelo medo da morte, ou pela fé cega, mas pelo esforço em busca do conhecimento racional.’”
“Alguém dissera a ele uma vez: ‘É difícil ficar triste quando se é útil.’ E ele gostava daquela ideia, de que o serviço trazia felicidade. Era o egoísmo que levava à depressão, a perguntas cíclicas sobre o sentido das coisas. Isso sempre fora o problema de sua mãe. Ela pensava demais em si mesma e pouco nos outros.”
“Bem, o verdadeiro terror não vem da selvageria do inesperado, mas da corrupção de objetos e espaços rotineiros. Pegar uma coisa que vemos todos os dias, algo que menosprezamos por ser normal, como um quarto de criança, e transformá-lo em uma coisa sinistra, não confiável, é minar o próprio tecido da vida.”
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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de
“Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica),
“Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio”
(https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/).
Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).
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