Por Elenilson Nascimento
“A Viagem do Elefante” é o nome de um livro em que Saramago narra as aventuras e desventuras de um paquiderme transportado desde a corte de D. João III à do austríaco Arquiduque Maximiliano, e o seu conterrâneo, Lobo Antunes, tem um livro chamado “Memória de Elefante” (*que eu tenho aqui para começar logo a leitura). Mas “A Viagem...” do Saramago é o ponto de partida para o ótimo “José e Pilar”, filme de Miguel Gonçalves Mendes que retrata a relação entre o maravilhoso português e a sua amada Pilar del Río.
Partindo dessa relação com a esposa de quase 25 anos, podemos acompanhar a doce (e atarefada) intimidade do casal de maneira surpreendentemente intimista – e certamente a imagem batida (erroneamente) pela mídia do velho ateu e ranzinza é logo substituída por uma muito mais interessante: a de um escritor brilhante dando tapinhas na bunda da companheira e isso é algo que não apenas encanta por sua natureza prosaica e confortável, mas que também atua no sentido de humanizar ainda mais um autêntico ícone. Mostrando-se perfeitamente à vontade diante da câmera – numa espécie de despedia (*mérito exclusivo do Miguel Gonçalves).
O filme é lindo e, frequentemente, Saramago e Pilar parecem se esquecer de que estão sendo acompanhados pelos realizadores, protagonizando momentos que encantam pela franqueza e autenticidade. Se eu já adorava o casal, passei a idolatrar essa cumplicidade, esse amor e esse carinho num filme co-produzido pela O2 Filmes do brasileiro premiadíssimo Fernando Meirelles. O filme também adota como ponto de partida, como já foi dito acima, o laboratório, pesquisa e a concepção de “A Viagem do Elefante”, que seria seu penúltimo livro de Saramago (*ainda não li). Com isso, temos a oportunidade rara de testemunhar um gênio em pleno processo criativo – e não deixa de ser um alívio constatar que, de certa forma, este processo envolvia muito silêncio, pudores, discursos apaixonados, olhares perdidos, músicas e, claro, o inevitável jogo de paciência no computador.
Mostra também do dia-a-dia do casal em Lanzarote e Lisboa, na sua casa e em viagens de trabalho por todo o mundo. “José e Pilar” é um retrato único e surpreendente de um autor durante o seu processo de criação e da relação de um casal empenhado em mudar o mundo - ou, pelo menos, em torná-lo melhor. Revela ainda um Saramago desconhecido, desfaz ideias feitas e prova que gênio e simplicidade são compatíveis num olhar sobre a vida de um dos grandes criadores do século XX e a demonstração de que, como diz Saramago: "Tudo pode ser contado de outra maneira".
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