Para começar, faz
muito tempo que não faço uma resenha. Não foi falta de tempo ou de interesse,
apenas uma série de escolhas infelizes que fiz nos últimos tempos com relação
aos livros que lia. Nada me agradava. Fazia tanto tempo que não lia um livro
com tanta vontade que eu já começava a questionar se eu realmente gostava de
ler ou me dizia leitor para fazer parte de uma elite intelectual e bla bla bla.
Mas bastou que começasse a ler Os homens que não amavam as mulheres para
perceber que o que me faltava era um bom livro, e não a vontade de ler.
A principio, o livro
se destaca pelo imã que lhe impõe. Eu soltava o livro após horas pensando em
que outro momento poderia pega-lo de novo para ler. Passada esta primeira fase
de empolgação inicial, comecei a fazer algumas anotações sobre o mesmo. Por
conta do sucesso que o primeiro filme da trilogia fez, eu já sabia alguns
elementos que estariam presentes. Não
sabia, porém, que o livro se caracterizava por uma narrativa de cunho
policial-investigativo. O livro busca revelar o mistério que circundava a vida
Henry Miller. Sua sobrinha havia sumido misteriosamente 40 anos antes, e
durante toda sua vida ele tentou resolver a questão sem obter sucesso. Perto de
morrer, em uma última tentativa, contrata o jornalista Mikael Blomkvist para
ajuda-lo a decifrar o mistério que o corrói. Este junta-se a hacker Lisbeth Salender
para dar fim ao mistério. Ao mesmo tempo em que buscam os detalhes do crime e
investigam os membros da família da desaparecida Harriet Vanger, a história de
vida de ambos é apresentada.
As margens da escrita,
a tradução tenta aproximar a realidade do livro a nossa própria, utilizando
como referencia pontos como pelourinho. (Não tive acesso ao texto original, mas
não acredito muito que haja na Suécia um ponto com este nome ou que o autor o
tenha utilizado como referencial um ponto turístico de Salvador). Por mais que
entenda o intuito do tradutor, em uma tentativa de aproximar a realidade da
trama com a realidade brasileira, não sou a favor deste tipo de prática – empobrece
a história que é uma beleza, além de desconfigurar o texto original. O autor do
livro – Stieg Larsson – apresenta ainda informações a respeito da condição
feminina em seu país. Estatísticas que revelam a posição ocupada pelos crimes
cometidos contra as mulheres - que fazem parte da temática do livro e que se
serve para dar veracidade aos fatos ocorridos, tornando a trama real.
Ainda neste sentido,
o autor consegue, através da trama – sem que haja intenção explicita no texto,
mostrar como o papel da mulher no âmbito familiar e empresarial consegue
evoluir ao longo da história da sociedade. Como o enredo acontece no presente,
mas aborda um crime ocorrido nos anos 50, 60, é fácil para o autor trabalhar
por uma ordem cronológica dos acontecimentos, como padrões de comportamento em
épocas distintas que revelam a transitoriedade de perfis femininos e
masculinos.
Por outro lado, o
título original do livro – A garota da tatuagem de dragão – aponta para a
história da personagem Lisbeth é que será enfatizada, o que não ocorre de modo
satisfatório. Na trama, os personagens principais, aqueles que buscam resolver
o mistério da morte de Harriet, tentam ser apresentados de maneira
proporcionais até o momento em que se encontram para trabalharem juntos.
Contudo, é perceptível que a trama gira em torno do Jornalista Michael e não da
garota de nome Lisbeth. É como se a história fosse construída em torno de
Michael e a menina fosse um personagem acoplado a este, e não o contrário, como
faz prever o título do livro. (É bem provável que este esteja relacionado com a
trilogia e faça mais sentido após a leitura dos outros livros). Neste intento,
pouco se descobre sobre a personagem feminina – o que condiz com a descrição
introspectiva e fechada da mesma.
Quanto ao estilo de
escrita do autor, o mesmo não se prende a grandes descrições. As informações
prestadas, quando acertadas, são concisas e suficientes. Não há páginas e mais
páginas de detalhes meramente para ocupar páginas. Os personagens são
apresentados de forma concisa e com elementos próprios. O que ocorre, neste
ponto, é a utilização de grande número de figuras, buscando ampliar as
possibilidades de culpados pelo crime investigado – o que é bem feito. Os
chamados personagens secundários apresentam motivos contundentes para terem
cometido o crime e ampliam a história, fazendo com que o leitor levante
hipóteses junto aos “detetives”.
Quanto ao texto de
uma narrativa policial-investigativa, acho que o autor peca em determinados
momentos. A verdade é que para um bom autor, as pistas precisam estar implícitas
no texto e que em momento posterior, ao serem apresentadas ao leitor, o mesmo
reflita como deixou passar aquela informação. O que acontece no caso do livro
de Stieg Larsson é que, talvez pela falta de lapidação em torno da própria
escrita - vale lembra que ele morreu logo após entregar a série aos seus
editores - as pistas apresentadas se revelam de modo fácil. Parecem, em alguns
momentos, estarem dispostas diante do leitor. Possa ser que o olhar que eu
tinha sobre o livro as revelasse de forma fácil. Como o livro apresenta vários
detalhes, enormes histórias e personagens de uma mesma família, meus instintos
estavam ligados como aqueles cachorros de caça de filme norte americano ou
ingleses....os farejadores...rs. E todo detalhe apresentado era adotado como de
extrema importância. Deste modo, eu decifrei parte importante do mistério com
certa facilidade, o que implica dizer que eu sou um Sherlock Homes ou que o
autor fraquejou em determinados aspectos – e não acho que seja o primeiro caso.
Além disto, retomando
novamente a ideia de estar "cru" enquanto autor, o mesmo abandona as
ideias ao decorrer da narrativa. Personagens que caminham até determinado lugar
e resolvem voltar pelo mesmo caminho sem que haja nenhuma informação valida ou
de grande importância. Informações que retiram a característica também
presente de restrição de informações e na forma concisa de escrever.
Quanto ao mistério
resolvido pelos personagens, considero-o relativamente fraco, tendo em vista
que os investigadores passados haviam utilizado tantas possibilidades, recursos
e dinheiro empregado ao longo dos anos. O autor tenta apresentar a lógica de
que um novo olhar sobre o caso revolveria a questão, que foi o que aconteceu,
mas achei que um ou dois novos olhares completamente novos fizeram milagres que
outras pessoas não conseguiam. Contudo, estes elementos não permitiram que o
interesse pela trama se perdesse.
Me frustei também
pelo mistério ter sido resolvido neste primeiro livro, pois em minha cabeça ele
se estenderia pela trilogia... mesmo sem entender como isso aconteceria sem
deixar o leitor de saco cheio...rs. Acredito que o segundo livro seja uma
repercussão da primeira história ou o aprofundamento do tema apresentado.
Talvez – e ficará na
casa do talvez – haja um problema em abordar tantos temas simultâneos em uma
mesma narrativa. O livro aborda questões de gênero, de mercado financeiro,
jornalístico, religioso, de privacidade, de internet, de relacionamento. Enfim,
talvez a grande extensão do livro se dê pelos diferentes temas abordados, que
para serem bem colocados precisam ser contextualizados para não perderam a
lógica ou o papel dos personagens dentro da narrativa.
Por fim, uma
observação: Os personagens bebem café demais. E eu não aguentava mais tanto
café....rs. O povo faz café como se tira água da torneira. Vamos ver o que
ocorre no segundo livro, não é?
Solicito comentários desta resenha no meu blog, por motivos que não poderão ser revelados neste momento...rs
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Cara, eu adorei esse livro, também achei que o autor deu mole nas pistas porque eu também soube do final antes do fim rs
ResponderExcluirPelo que soube, o 2º livro é outro mistério, mas a Lisbeth tem mais importância...
Gostei da resenha, é a primeira que li aqui do blog, agora fique com vontade de ler as demais ^_^