domingo, 9 de dezembro de 2012

A fórmula do gordo

Gosto assim, ó... grandão!

Não sou de comentar tudo o que leio, pois leio muito e me falta tempo. Mas acabei de ler o último romance do Jô Soares e, como já era o que eu esperava, achei legal escrever algo a respeito. Ressalto que, ao atribuir ao romance um formato previsível, não o desabono. O livro, como os outros três que lhe antecedem, é muito bom, divertido, inteligente e dinâmico (sem ser desleixado). Certamente, estou me referindo somente aos romances, vez que não gostei tanto de livros como O astronauta sem regime ou aquele em parceria, o Humor nos tempos de Collor.

Jô Soares escritor tem uma fórmula infalível de escrever romance histórico-político-cômico-policial-etc. Há um protagonista cativante, sempre extremado em um aspecto de caráter. De apoio, uma trupe de amigos com tudo a que se tem direito, o sensato, o bufão, a garota esperta e mais liberal para a época e por aí vai. Personagens históricas confabulam com as invetadas. A pesquisa histórica e geográfica é rigorosa e os encaixes não são tão forçados (exceto, talvez, no caso de O homem que matou Getúlio Vargas, onde um Forrest Gump brasileiro se intromete nos principais acontecimentos de sua época). Mesmo assim - exageros de demonstração de cultura desnecessários à parte - é uma obra divertida, ainda mais contando com ilustrações fruto de pesquisa e bons arranjos gráficos. Aliás, desde O homem que..., Jô Soares tomou gosto pelo uso de imagens em seus livros. Isso enriquece a obra.

Enfim, As Esganadas - seu recente livro - foge à regra dos demais em poucos elementos. De plano, pelo título: curto. Depois, pela identidade e motivação do assassino desde o início (lembrando que em O Xangô de Baker Street eAssassinatos da Academia Brasileira de Letras esses pontos apenas são elucidados ao final). E, como os demais, ainda traz a característica do tipo peculiar, como personagem. Enquanto personagens como Dimitri Borja (O homem que...) e Camilo Rapozo (Assassinatos...) possuem "defeitos" como a polidactilia e o nanismo, em As Esganadas o assassino - agente funerário Caronte Barroso - é acometido pela rara síndrome de Nagali, que lhe deixa sem cabelos, unhas, dentes e impressões digitais: um bagaço humano.

A presença lusitana continua forte. Se, em seu primeiro romance, Sherlock Holmes tinha sotaque e raciocínio portugueses, o detetive esperto (mas de provérbios erráticos) de As Esganadas é portuga da gema, amigo de longa data do poeta Fernando Pessoa - com quem, aliás, se meteu numa famosa encrenca.

A produção do livro segue o mesmo padrão das demais, o que ajuda a manter um padrão uniforme na coleção. Todos os quatro foram publicados pela Companhia das Letras, um trabalho competente. Dessa vez, se ofereceu a possibilidade de compra on line de exemplares autografados pelo autor, o que é bacana - sem dúvidas - para leitores, como eu, que moram em locais onde grandes autores jamais apareceriam para uma sessão de autógrafos.

A primeira vez que Jô Soares falou de seu romance, foi pouco após enviá-lo ao prelo, em um chá com os ocupadíssimos membros da Academia Brasileira de Letras. Durante a sobremesa, ele confidenciou, junto a um jornalista da revista Piauí sobre a obra e seu enredo. Ali, entretanto, ele falseou um pouco, pois o trauma de Caronte não era devido às ações de sua esposa, mas, sim, de sua mãe.

Como parte do hype de lançamento, foi gravado vídeo, pela Companhia das Letras, onde o autor, em seu escritório, lê trecho da obra. Além disso, considerando que - em regra - a cada início de capítulo, o personagem radialista Rodolpho d'Alencastro traz alguma notícia sobre o Caso das Esganadas (aproveitando o momento para um famoso reclame da época), um ótimo vídeo publicitário foi ar para divulgar o lançamento do romance, em tom de rádio da época. Veja abaixo (dependendo da configuração de seu navegador, os vídeos não são exibidos).

Ao final de cada obra, Jô Soares sempre citou suas referências bibliográficas, exceto em Assassinato.... Em O Xangô..., a lista de referências é a maior. Já em O homem..., também foi grande, considerando as incontáveis referências históricas, ainda mais envolvendo pesquisa de imagens para ilustrar o volume. No caso de As Esganadas, a bibliografia foi pequena. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o autor afirmou ter utilizado bastante a pesquisa on line, em especial a valiosa ferramenta que é o "São Google" (em suas próprias palavras). O autor, pois, acompanha o tempo, pondo mais de lado os tomos empoeirados e se enveredando pela pesquisa na internet.

Minha contribuição às finanças do Gordo.

Kleiton Gonçalves é autor do Blog do Neófito. Visite-nos.

4 comentários:

  1. Kleiton!
    A escrita do Jô é bem isso que relatou. Esse livro específico não tive oportunidade de ler, embora tenha lido outras 2 obras dele.
    cheirinhos
    rudy

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  2. Fábio, o gordo é muita massa e muito massa... (trocadilho besta, hein?). Valeu pelo comentário.

    Rudy, que bom que gostou da postagem. Um cheiro pra vc tb!

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    Respostas
    1. Fala amigo Kleiton!

      Queremos ver mais de suas ótimas resenhas por aqui hem meu véio!!!

      abração!!!

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