Sou fã das edições lançadas pela finada editora Círculo do Livro, surgida no mercado no início da década de setenta, pondo à venda volumes com ótimo acabamento (papel grosso, em encadernação capa dura colorida) e a preços acessíveis. As vendas funcionavam pelo sistema de clube. Assim, cada sócio podia indicar alguém, que recebia catálogos da editora com a obrigação de comprar, ao menos, um determinado número de livros em um determinado período. Atualmente, é fácil encontrar publicações dessa editora por preços excelentes, em sebos. Uma de minhas últimas aquisições foi Ed Mort e Outras Histórias, de Luís Fernando Veríssimo. Acho que já conhecia ao menos metade das crônicas ali presentes. Mas alguns dos trabalhos ainda inéditos para mim chamaram atenção.
Vi, em alguns contos e crônicas, o que considero "embriões" de grandes sucessos do autor. Assim, por exemplo, no conto O Clube vi o que se tornaria o excelente romance O Clube dos Anjos, lançado pela Ed. Objetiva na Coleção Plenos Pecados. Em Os Diamantes Chegaram, notei semelhanças com os absurdos que compõem a trama do famoso conto Os Quarenta. Esses são apenas dois exemplos. É legal, para quem é fã de Veríssimo, procurar, em seus trabalhos mais antigos, diversas ideias posteriormente retomadas noutros trabalhos.
Sobre o personagem que dá título à coletânea de contos, já ganhamos programas para TV (um na Globo, com Luís Fernando Guimarães; outro no canal Multishow, com Fernando Caruso), longa metragem com o Paulo Betti e quadrinhos ilustrados por Miguel Paiva, dos quais já falei noutro blog. Para quem não conhece o personagem, Ed Mort é a versão subnutrida para as histórias norte-americanas de detetive, recheadas de clima noir, damas fatais e mistérios quase não solucionáveis. Basicamente, Dashiell Hammett verde-amarelo sol forte sol e maresia.
Eu estava lendo meu jornal favorito ― o JB de 22 de dezembro de 1976 ― encostado na porta, quando a avistei. Custei a acreditar que aquilo que ela estava fazendo com o corpo se chamava caminhar. Tinha os seios como eu gosto, um de cada lado. Os cabelos soltos ondulavam ao vento. O que era estranho, porque não estava ventando. Boca carnuda, e a carne era de primeira. Vinha na minha direção. Despi-a, lentamente, com os olhos. Estava tendo um pouco de dificuldade com o feixe do sutiã quando ela parou na minha frente. (Ed Mort Vai Longe)
Foi quando ela entrou na sala. Entrou em etapas. Primeiro a frente. Cinco minutos depois chegou o resto. Ela já tinha começado a falar há meia hora, quando consegui levantar os olhos para o seu rosto. Linda. Tentei acompanhar a sua história. Algo sobre um marido desaparecido. Pensei em perguntar se ela tinha procurado bem dentro da blusa, mas ela podia não entender. Era uma cliente. Ofereci a minha cadeira para ela sentar e sentei na mesa. Primeiro, para poder olhar o decote de cima. Segundo, porque não tinha outra cadeira. (A Armadilha)
Ela estava de luto. Coitada. Pensei em pular da cadeira, beijá-la brutalmente, apertá-la contra mim, esfregar suas costas com ardor e dizer: “Meus pêsames”. Mas resisti. (A Volta de Ed Mort)
Ela sorriu. Compreendi, finalmente, o que Deus queria dizer quando criou os dentes. Convidei-a a sentar. Meus móveis eram escandinavos. Caixotes de bacalhau norueguês. Ela vestia calças tão apertadas que daria para ver as imperfeições de sua pele, se houvesse alguma. (Ed Mort Vai Fundo)
Mais crônicas do Veríssimo?
Não conhecia esse livro
ResponderExcluirMas ele parece ser um achado muito grande
Bem interessante
Beijos
@pocketlibro
http://www.pocketlibro.blogspot.com.br
Kleiton!
ResponderExcluirAmo de paixão o Ed Mort.
Gostei porque ficou como uma homenagem pela saída do Veríssimo da UTI.
Angela!
Valeu a visita, obrigada!
cheirinhos
Rudy
Obrigado a vocês pelos comentários.
ResponderExcluirAbraços