domingo, 31 de março de 2013


O MESTRE E MARGARIDA - Mikhail Bulgakov


Li uma obra bárbara desse autor do séc. XIX que me encantou ‘Diaboliada’ e logo fiquei curiosa para ler mais. Como todo bom russo foi acusado de comunismo e teve seus trabalhos censurados, mas aqui entre nós, ele ridicularizava mesmo o regime em suas obras. Ahaha

Esse obra levou mais de 12 anos para ser concluída começando a ser escrita em 1928, mas em 1930 o próprio autor queimou os manuscritos de raiva por ter tido mais um de seus livros cabalísticos censurados. Recomeçou a escrever em 1931 em etapas, pois estava ficando cego e era necessária ajuda de sua esposa para escrever ditando, até seu término em sigilo 1 mês antes de sua morte em 1940 aos 49 anos, porém  só foi publicada 26 anos depois em 1966 como parte da obra censurada. Muitas versões clandestinas foram publicadas, e a versão integral só saiu em 1973. Morreu na miséria....aliás como muitos escritores hoje consagrados.



O enredo é incrível, conta a história da visita do Diabo a Moscou stalista, numa época em que o país anunciava-se ateu. Pela cronologia e informações do autor na obra, ela se passa nos anos 20, e marca um demônio moralizador que pune a covardia e a mesquinhez, pois segundo o autor essa é a pior das fraquezas do ser humano.  A história faz um paralelo entre Moscou dos anos 20 e o tempo de Cristo em Jerusalém, no período da Páscoa. O Diabo de nome Wolando está sobre o manto de um assustador professor de magia negra, que mesmo com fala mansa tem um ar aterrorizador, seguido por uma comitiva muito estranha e satânica ... um homem que se veste de forma grotesca, o gigante gato preto que anda sobre duas patas, um ruivo medonho com um enorme dente canino, um homem misterioso, e uma bela jovem ruiva e nua...que farão da cidade um inferno.

Os estranhos visitantes se envolvem com o mestre, um escritor perseguido pelo governo, pela publicação de um romance falando dos últimos dias da vida de Jesus e protagonizado por Pôncio Pilatos, e sua amante colaboradora Margarida. Completamente angustiado o mestre queima os manuscritos e acaba em um manicômio. Sua amante tenta resgatá-lo e para isso se alia ao demônio, protagonizando cenas incríveis da obra.

Uma Moscou cheia de bruxas nuas voando em vassouras, magias, demônios, frente a uma Jerusalém escrita com um rigor histórico ímpar, carregando as máculas de múltiplas torturas, condenações, comprometimentos políticos, corrupção, demonstrando nesse paralelo entre o real e o fictício, uma saborosa crítica velada política aos soviéticos.

 É incrível como o autor consegue com suas bárbaras descrições sobre Jerusalém levar o leitor a fazer parte dessa paisagem.  O autor sabia o que uma obra, falando sobre figuras religiosas poderia causar numa terra onde o ateísmo era imposto por lei. Por isso escreveu em segredo, aliás já tinha sido censurado por toda uma vida por conta de suas críticas políticas. A obra traz ainda uma linda e explicativa epígrafe, depois descobri que era de Goethe... "-...mas, quem é você, afinal? - Sou a parte da força que quer sempre o mal, mas sempre faz o bem", e é isso mesmo que trata a obra. A eterna luta do bem contra o mal...onde no desfecho os dois tem a mesma visão, nem o bem é absoluto, nem o mal, porém a covardia é a pior fraqueza humana nos dois polos. Um terror maravilhoso que mistura, ficção, magia, religião, misticismo, pesquisa, política.. Adoreiiii a obra e recomendooo muitoooo!!!

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