terça-feira, 26 de maio de 2015

Mistérios da Criação Literária


CONFIRA ESSA COLEÇÃO INCRÍVEL 
SOBRE OS MISTÉRIOS DA CRIAÇÃO LITERÁRIA

Apresentação
Bernardo Ajzenberg
Como a pedra e suas camadas, tudo aquilo que funda o gesto criador é fruto de acumulação. Nada surge do nada. Se todo ofício tem sua carga de mistérios, é inegável que certos empreendimentos fincam raízes que a terra esconde menos, formam um tronco transparente e ramos cristalinos, a folhagem sempre identificável. E que outros, por sua vez, nascem e vivem difusos, nos interstícios do ar, do húmus, das paredes. Sem necessidade de qualquer julgamento ou exclusão de mérito, cabe, no entanto, constatar as diferenças. E, entre os ofícios da última leva – aqueles mais cavilosos, meio plúmbeos –, está, sem dúvida, o de escritor.
Por que se escrevem livros? Como se escrevem? Para quem se escrevem? Em sã consciência, nem mesmo a mais sofisticada das mentes ousaria enquadrar tais interrogações de modo definitivo com respostas cabais. No entanto, essas perguntas, velhas perguntas, por mais que sejam irrespondíveis peremptoriamente, não se deixam enterrar. O trabalho realizado neste projeto por José Domingos de Brito tem importante valor, seja para escritores, seja para leitores, para quem se interesse por literatura. Não somente por seu aspecto documental, de ampla compilação, mas também pelas interrogações que suscita – e como são bem-vindas as dúvidas, em se tratando de literatura! – ao lado dos esclarecimentos que proporciona.
Neste primeiro volume – Por que escrevo? –, o pesquisador não só reproduz as “explicações” de escritores, como também indica material teórico sobre o tema. E assim, como está em seu projeto, será feito com o tema como escrevo?, volume com dicas e conselhos de escritores consagrados para novos escritores, encerrando-se a coleção com mais quatro volumes que relacionam Literatura com Cinema, Jornalismo, Sociedade e Religião, respectivamente.
Quaisquer que sejam as perguntas, na verdade, as respostas dos autores sempre terão algo de incompleto, certa hipocrisia, exageros e cinismo, um quê de fantasioso – e até alguma mentira saborosa (por que não?). É incontornável, e é o que, no fundo, lhes confere graça. Não porque escritores sejam necessariamente falsários ou enganadores, mas porque seriam, sim, enganadores e falsários – ludibriariam a si mesmos – se mantivessem uma única e linear resposta por muito tempo a qualquer uma daquelas indagações.
Experimente o leitor responder de pronto a seguinte questão, de aparência banal: “por que leio?” ou esta: “como leio?”. Não é tão simples quanto possa parecer à primeira vista. Provavelmente a resposta dada pela manhã sofrerá mudanças à tarde e será reelaborada, pela segunda vez, na mesma noite. Mas, por trás dessas possíveis ambigüidades ou ironias, uma leitura atenta das respostas reunidas neste livro saberá filtrar delas a essência genuína – eis o desafio lançado pelos próprios escritores com seus motivos mascarados –, o que confere à antologia um tom de suspense intelectual.
Não se trata de imaginar o ofício de escritor como algo acima do bem e do mal. Pelo contrário, se nele existem lados obscuros, são os mesmos obscuros que costumam povoar as mentes de qualquer mortal. A diferença é o modo de lidar com isso: alguns fazem ciência, outros, esporte; e outros escrevem livros!
Bergson, citado por Cyro dos Anjos num pequeno livro chamado A criação literária (1956), via nos romancistas e dramaturgos uma exacerbação da chamada “função fabuladora”, que todos temos em grau maior ou menor. Em busca de respostas para a velha pergunta “para que escrever?”, Cyro cita ainda Eduardo Frieiro: “Para quê? Para nada. Mas justamente esse nada – a ilusão literária – é tudo para certa raça de imaginativos. É dessa ilusão que se alimentam os indivíduos de curso lento, os introvertidos, os que aborrecem a vida frenética e cobiçosa dos indivíduos voltados para fora e só pedem lhes seja permitido saborear devagarinho as doçuras e branduras das coisas inúteis”. Não é curioso? Pois é nesse tear que o pesquisador constrói suas peças.
José Domingos de Brito é um colecionador de entrevistas e depoimentos, como ele mesmo afirma. Trabalho de anos, também ele, com certeza, resultado de (muita) acumulação e de verdadeira dissecação do ser literário. Tal pesquisa exaustiva, que se planeja desdobrar em diversos volumes ao longo dos próximos meses, reúne sem dúvida elementos que contribuem para consolidar a produção literária e sua existência real no mercado cultural brasileiro. Tudo isso, sem considerar o lado lúdico e divertido do empreendimento, o jogo de sutilezas e o entretenimento com que presenteia o leitor, o estudioso ou o escritor, enfim, quem sinta atração pela criação literária e seus mistérios.
Bernardo Ajzenberg
Romancista, jornalista e assessor executivo
do Instituto Moreira Salles



Um comentário:

  1. Fabinho amado!
    Informações importantíssimas para quem quer se aventurar na escrita.
    cheirinhos
    Rudy

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