domingo, 16 de setembro de 2018

NÃO VERÁS PAÍS NENHUM – Ignácio de Loyola Brandão



Surpreendente e assustador, esse é o tipo de livro que fica fermentando dentro da cabeça da gente depois da leitura. Escrito entre 1976 e 1981, em plena ditadura militar, “Não Verás País Nenhum” é uma asfixiante ficção científica brasileira – com ênfase na “brasilidade” da história. Brandão não se limitou em ambientar no Brasil uma história futurista, mas inventou uma forma toda própria e absolutamente tupiniquim de narrar o futuro, que acabou engendrando um livro diferente de tudo que já li, certamente nada parecido com as obras de Isaac Asimov, Arthur C. Clarke ou Robert A. Heinlein.

O próprio título já dá uma ideia do que vem pela frente, ao subverter genialmente o famoso verso ufanista de Olavo Bilac:

“Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!”

Boa parte do terror da narrativa vem de uma incômoda percepção: hoje, em 2018, estamos mais próximos da surreal e pavorosa fantasia imaginada pelo autor que na própria época em que o livro foi escrito. É muito angustiante ver como um delírio tão bizarro escrito há mais de 30 anos pode trazer tanto de profecia.

Achei a leitura cansativa, árida, penosa. Mas, coisa estranha, ao finalmente terminar de ler o livro, fiquei sentindo saudades... Foi então que se tornou evidente que o cansaço da leitura vem do próprio tema em si, desse profundo mergulho na Sombra nacional: a conivência com a corrupção, o descaso com a natureza, o despudorado flerte com o totalitarismo. Esse é o lado sombrio de ser brasileiro, aqui exposto em tons de pesadelo. E hoje, mais do que nunca, o sonho ruim periga se tornar triste realidade.


Ignácio de Loyola Brandão, ao utilizar a Literatura para denunciar as mazelas do Brasil, com tanta arte e engenho, me faz ter vergonha, mas também orgulho de ser brasileiro!

Conferência sobre a obra:




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Agora disponível gratuitamente no Wattpad, LABIRINTO CIRCULAR / ISSO TUDO É MUITO RARO é um livro duplo de contos estruturados como seis pares de “opostos espelhados”. São ao todo doze histórias que têm como fio condutor a polarização entre o Olhar e a Consciência (representados nas capas do livro como as pupilas sobrepostas e o cérebro, respectivamente) e que abordam, cada uma a seu modo, alguns dos antagonismos essenciais: Amor e Morte, Cotidiano e Fantástico, Concreto e Absurdo. Um exercício literário para mentes inquietas e questionadoras.

LABIRINTO CIRCULAR

ISSO TUDO É MUITO RARO

6 comentários:

  1. Boa tarde! Uma bela postagem!!

    A lacuna na inspiração
    Beijos e uma excelente semana.

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  2. Muito bem lembrado, oportuno, necessário para o momento atual.
    Excelente texto, Fábio! Parabéns!
    Um fio liga aquele final dos anos 70, quando o livro foi lançado, ao momento atual. Infelizmente...
    Abraços, Christian Petrizi

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    1. Salve caro amigo! Gratidão pelo lúcido comentário e por essa energia boa!

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  3. eu tenho esse livro 'não verás país nenhum', tentei ler, mas, com você falou, a leitura é bem pesada... daí parei. mas não desisti, vou voltar a ler porque o tema me chamou atenção. muito bom ler uma resenha dele!

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    Respostas
    1. Olá Sara, valeu por seu comentário! Hoje mesmo eu estava lembrando desse livro, de como foi difícil chegar ao fim e de como fiquei sentindo falta dele depois!

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