sábado, 13 de julho de 2019

1984 – George Orwell



Finalizei hoje, em chocado e atônito silêncio, a terceira leitura de “1984” de George Orwell. Li pela primeira vez essa obra-prima do horror e do caos na década de 1990, para a matéria de Ciência Política da Faculdade de Comunicação Social, a fim de estudar as características do totalitarismo e a manipulação das massas pela mídia. Depois li uma segunda vez, na década de 2000, como tributo pessoal ao gênio literário de George Orwell, um de meus autores favoritos. E agora, ao ler pela terceira vez, ao final da década de 2010, posso concluir, assombrado: o Brasil está cada vez mais perto de “1984”!

Cito como exemplo dessa constatação a pavorosa técnica do “duplipensar”, que no livro aparece como alicerce de uma sombria ditadura futurista:

“Saber e não saber, ter consciência da completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões opostas sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas; usar a lógica contra a lógica, repudiar a moralidade em nome da moralidade.”

Se eu lesse essa citação sem saber de onde veio, pensaria que se trata de uma lúcida e minuciosa análise das estratégias utilizadas pelo atual governo brasileiro...

Outra triste percepção advinda dessa leitura diz respeito à apatia e inércia do povo, que permite e autoriza incontáveis males. Cito novamente o livro, mas poderia estar falando de nossa sociedade brasileira:

“Não se revoltarão enquanto não se tornarem conscientes e não se tornarão conscientes enquanto não se rebelarem.”


“1984” dá seguimento a uma série de leituras que tenho feito e que vem demonstrando como o mal supremo é o totalitarismo. O nazismo alemão e o comunismo russo, como afirma claramente Orwell em seu poderoso libelo, são facetas do mesmo e terrível Mal. Isso me fez refletir como estão equivocados aqueles que querem dividir a sociedade entre “direita” e “esquerda”. Além de ser uma divisão pra lá de obsoleta e inútil, não expressa a verdade sobre as pessoas e suas convicções. Se é para dividir, penso ser mais apropriado classificar as pessoas em duas categorias básicas:

1) Pessoas que defendem seus próprios direitos.
2) Pessoas que defendem os direitos de todos.

Assim temos, para expressar apenas alguns exemplos:

1) Pessoas que defendem sua própria religião, etnia e sexualidade como sendo a “correta” e todas as outras como sendo “erradas”.
2) Pessoas que defendem todas as manifestações religiosas, etnias e opções sexuais como igualmente merecedoras de respeito.

O mais sombrio nessa divisão é que as pessoas da categoria 1 cedo ou tarde começam a desumanizar as pessoas da categoria 2, a fim de justificar práticas de violência progressiva. E assim chegamos ao ápice da violência, que é a tortura, que encontra nas páginas de “1984” uma descrição que chega a ser poética em sua hediondez:

“O que acontece aqui dura para sempre. (...) Havemos de te esmagar até ao ponto onde não se volta. Vão-te acontecer coisas das quais não te poderás restabelecer, nem que vivesses mil anos. Nunca mais poderás sentir sensações humanas comuns. Tudo estará morto dentro de ti. Nunca mais serás capaz de sentir amor, ou amizade, ou alegria de viver, riso, curiosidade, coragem, ou integridade. Ficarás oco. Havemos de te espremer, deixar-te vazio, e então saberemos como te encher.”

Essa passagem foi escrita em 1948, mas infelizmente representa boa parte da população brasileira da atualidade, que consciente ou inconscientemente ainda apoia um presidente que declaradamente é a favor da tortura. Esse talvez seja o Brasil que imaginam para seus filhos:

“Se queres uma imagem do futuro, pensa numa bota a pisar um rosto humano, para sempre.”

“1984” é aqui. “1984” não é aqui.

  
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“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser monstruoso.”

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