sábado, 28 de março de 2020

AMOR DIMENSÃO 5



As pessoas que se habituam a ler apenas os últimos lançamentos da moda não fazem ideia do deleite que é vasculhar algum sebo (ou, no meu caso, as estantes do P.U.L.A. – Passe Um Livro Adiante) e se deparar com estranhas preciosidades como “Amor Dimensão 5”, antologia de ficção científica publicada em 1969 pela GRD, editora soteropolitana. Eu, particularmente, considero uma delícia ler histórias sobre o futuro escritas no passado: elas trazem um sabor único, inigualável, que é uma mistura de ingenuidade e presciência, de nostalgia e assombro.

Um ótimo exemplo é o conto “Amor & Cia”, de Robert Sheckley. O autor imaginou um futuro onde, por um lado, ainda teríamos filmes como  “Tarzan Contra as Mulheres-Vampiro” e, por outro, onde o capitalismo selvagem chegaria ao ponto de tornar legal a compra e venda de qualquer coisa, fosse um assassinato...  ou o amor verdadeiro.

Dois dos sete autores presentes na coletânea são monstros sagrados da FC: Isaac Asimov (com o ótimo “Numa Boa Causa”, que eu certamente li em algum outro livro do Bom Doutor) e Ray Bradbury (com o desconfortavelmente atual “Rondam Tigres”, que fala da ganância dos homens ao devastar os recursos planetários, dentre outros assuntos fascinantes).

“Em Busca de São Tomás de Aquino”, de Anthony Boucher, traz uma interessante distopia de uma tecnocracia que persegue a religião, além de uma curiosa invenção: o robasno (será “robass” ou “robotass” no original?). Já “A Zebra Empoeirada”, de Clifford Simak, é uma bem-humorada historieta sobre trocas interdimensionais.

“Os Sonhos São Sagrados”, de Peter Phillips, destaca-se por ter cometido uma falha que autores mais experientes (como os colegas de coletânea Asimov e Bradbury) sabiam melhor  como evitar: descrever de forma minuciosa uma tecnologia fictícia, ficando vulnerável a uma rápida desatualização diante do inexorável avanço da ciência. Se o autor tivesse se esmerado menos em descrever como sua viagem ao inconsciente alheio funciona, sua história teria envelhecido melhor.

Por fim, o conto que fecha a coletânea: “A Função Cria o Orgasmo”, da autora francesa Belen. Não consegui descobrir nada sobre ela, mas por essa amostra gostei muito. Belen consegue a proeza de escrever um autêntico conto de FC extremamente feminino, audacioso (ainda mais para a época) e libertário.

Muito legal saber dessa editora GRD, que publicou contos de FC de tal qualidade em plena ditadura militar e ainda por cima na minha querida cidade de Salvador, Bahia!

\\\***///


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“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser monstruoso.”


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2 comentários:

  1. Bom dia. Filme ou livros de monstros não gosto. Lol Prefiro os que me façam arrancar uma bela gargalhada! :)
    Aplaudo quem gosta!
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    Um futuro mundo melhor
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    Beijos. Um excelente Domingo para todos. Fiquem em casa

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