Essa foi a penúltima peça escrita pelo genial dramaturgo baiano Dias Gomes,
encenada pela primeira vez em 17 de maio de 1989, no Teatro Nelson Rodrigues,
estrelada por Paulo Goulart, Nicete Bruno, Ângela Leal e grande elenco.
Definida pelo próprio autor como uma “comédia delirante e caótica”, “Meu Reino Por
Um Cavalo” traz como protagonista uma espécie de alter ego de Dias Gomes, o
escritor Otávio Santarrita, que passa por uma severa crise existencial:
“Você não tem dúvidas? Ninguém tem dúvidas? Todo mundo sabe para onde ir, o que fazer, por que lutar? Será que todo mundo acorda de manhã, escova os dentes, sai de casa, sabendo exatamente como ocupar o resto do dia de uma maneira que dê sentido à sua vida?”
A crise de Otávio tem dois contrapontos principais. De um lado a crise familiar: seu casamento de mais de vinte anos com Selma está desmoronando diante da descoberta do caso de Otávio com a atriz Solange. Os dois filhos do casal também enfrentam graves problemas: Tavinho foi preso por dirigir sob a influência de drogas e Soninha, de 14 anos, está grávida e não sabe quem é o pai, dentre três ou quatro possibilidades. Em paralelo ao caos familiar, Otávio enfrenta a crise que para ele é a principal, de ordem artística e criativa. Autor de sucesso, ele não passa pelo temido “bloqueio de escritor”, muito pelo contrário: está escrevendo quatro peças ao mesmo tempo, mas não vê sentido em nenhuma delas.
E aqui chegamos ao que creio ser o tema central de “Meu Reino Por Um Cavalo”: as múltiplas crises de Otávio espelham um mundo em ebulição, onde “tudo o que é sólido desmancha no ar” (como bem expressa o lapidar título do livro de Marshall Berman, de 1982):
“O mundo mudou. Ou está mudando permanentemente, desordenadamente. Mudam também as formas de leitura, de percepção. Não é mais como no nosso tempo. Os jovens de hoje não leem mais. Só veem e escutam. Entende? Taí a televisão ordenando o caos e nivelando tudo. É preciso levar tudo isso em conta, se você quiser ser entendido.”
É interessante notar que Dias Gomes está falando de um fenômeno social que continua acontecendo em nossos dias, de forma ainda mais intensa com o advento da Internet e das Redes Sociais. A ponto de essas profundas e incessantes transformações na maneira como as pessoas estão lidando com a informação deixarem de ser assunto apenas para escritores e comunicadores, mas tema de urgentes reflexões da sociedade como um todo. Vivemos na era das Fake News, que geram perigosíssimas abominações.
Dito isso, resta ainda dizer que eu, como fã da dramaturgia elegante de Dias Gomes (autor de clássicos como “O Pagador de Promessas” e “O Santo Inquérito”), achei muito significativo ver como ele soube se manter antenado e sintonizado com sua época. Essa peça é recheada de palavrões e cenas de nudez, bem ao gosto do Brasil na segunda metade da década de 1980, ainda vivendo o a embriaguez e o desbunde da Abertura Democrática e do fim da Ditadura Militar.
Uma última curiosidade: o título da peça foi retirado da célebre frase da peça “Ricardo III”, uma de minhas favoritas de William Shakespeare. A cena em que o arquivilão Ricardo propõe trocar seu vasto reinado por uma simples montaria, uma das mais marcantes da dramaturgia mundial, sintetiza de forma sublime a efêmera futilidade das ambições mundanas.
E viva o Teatro!
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mais capazes, assim como a protagonista Liana, de trilhar um caminho coletivo
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Entrevista sobre o livro na
FM Cultura
Gostei da publicação!! :))
ResponderExcluir.
Numa saudade que só tu sabes a dor
.
Beijos, e um excelente dia.
Gratidão, Cidália querida!
ExcluirBjs!