segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

QUEM TEM MEDO DA LITERATURA BRASILEIRA? QUEM NÃO TEM, LÊ ANTONIO CALLADO!

 


Resenha do livro “REFLEXOS DO BAILE” de Antonio Callado

Tive meu primeiro contato com a prosa genial de Antonio Callado com “A Madona de Cedro” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2012/04/madona-de-cedro-antonio-callado.html), que li sem grandes expectativas e que me surpreendeu muito, chegando a me impressionar como um equivalente brasileiro do “Crime e Castigo” de Dostoiévski. Claro que fiquei morrendo de vontade de ler a obra mais conhecida e celebrada de Callado, “Quarup” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2019/04/quarup-antonio-callado.html). Essa leitura me atingiu com o impacto de uma revelação religiosa. Como disse na resenha que fiz na ocasião, “Quarup” foi “certamente um dos melhores livros que já li na vida”. Desde então passei a considerar Antonio Callado um de meus autores favoritos, e me regozijei com o fato de ter ainda vários livros dele para ler em minha estante.

Contudo essa alegria trouxe também uma tristeza, que explica a lerdeza em fazer minha terceira leitura de Callado (li “A Madona de Cedro” em 2012 e “Quarup” em 2019). É que eu acreditava já ter lido a sua obra-prima (“Quarup”), e que as leituras seguintes seriam de um inevitável anticlímax. Ah, homem de pouca fé! Pois não é que descubro agora, com “Reflexos do Baile”, que a fecundidade de Callado não se resume a uma única obra-prima, por paradoxal que isso pareça. Outro Antonio genial, o Houaiss, em sua apresentação a “Reflexos do Baile” afirma com todas as letras que se trata de uma obra-prima. E quem sou eu para contradizê-lo? Contudo não há como dizer que esse livro seja melhor que “Quarup”, nem vice-versa. Os dois trabalhos são igualmente brilhantes, cada um à sua maneira, que é totalmente única.

Lendo “Reflexos do Baile” só pude me lembrar da frase com que eu até então costumava celebrar um único escritor, por sincronicidade outro Antonio, Anthony Burgess, autor incomparável de petardos como “Laranja Mecânica”, “Poderes Terrenos” e “As Últimas Notícias do Mundo” (só para citar meus três favoritos):

“Sabendo que poderia escrever qualquer livro que ele quisesse, decidiu escrever os que apenas ele conseguiria.”

Com profunda reverência e gratidão à Literatura, a partir de hoje passo a utilizar essa frase para louvar também o brasileiro Antonio Callado, luminoso avatar de nossas letras.

Mas o que há de tão genial em “Reflexos do Baile”?

Não tenho a mínima pretensão de responder de forma completa a essa pergunta aqui, no espaço restrito de uma humilde resenha. Aliás, é significativo que a maioria das primeiras entradas que apareceram no Google quando dei uma busca pelo livro (excluindo-se os links de venda) tenha sido de artigos acadêmicos propondo decifrar as muitas camadas de significados de “Reflexos do Baile”. Mas vou tentar dar uma ideia o mais clara possível.

Vou começar pela sinopse que achei em um dos links de venda do livro:

“‘Reflexos do baile' é um híbrido entre diário e romance epistolar que narra o plano de um grupo de terroristas para causar um apagão e seqüestrar, durante um baile, a rainha da Inglaterra em visita ao Brasil. Callado foi o pioneiro na abordagem dos 'anos de chumbo' sem recorrer aos maniqueísmos comuns da época.

Essa é uma sinopse admiravelmente bem feita, que dá conta dos pontos essenciais da história. A trama de “Reflexos do Baile”, aliás, daria um enredo espetacular para um maravilhoso filme brasileiro de ação e suspense, na linha de “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”, “O Que É Isso, Companheiro?” e “Marighella”. Contudo (e vai aí um grande “mas”) para descobrir essa trama de violentas reviravoltas, paixões arrebatadoras e irresistíveis cenas de alívio cômico, é necessário um grande esforço da parte do leitor. Um esforço sincero, contínuo e apaixonado.

 


“Reflexos do Baile” é escrito de forma quase cifrada, como uma sequência de cartas com os mais variados remetentes e destinatários, que vão contando a história de modo fragmentado. Imagine um quebra-cabeças de mil peças em forma de livro. Ou, para utilizar a metáfora que é mais fiel ao título do livro, imagine um espelho partido em mil estilhaços, cada um deles refletindo uma única diminuta e intensa cena. Cabe ao leitor ir juntando os pedaços e decifrando a história contida neles.

Mas e por que, afinal, Antonio Callado decidiu escrever de forma tão hermética? E é aí que entra o toque magistral da genialidade! Pois não foi apenas um devaneio estético que motivou o autor, mas uma necessidade de ordem bem prática. O livro foi publicado originalmente em 1976, ainda em plena ditadura. A narrativa epistolar e velada, de interpretação difícil, foi uma forma espetacular de driblar a censura e de dar uma linda demonstração de como a pena pode ser mais forte que a espada!

Seja como for, esse é um livro que precisa ser conquistado pelo leitor. Ele não se entrega sem luta. E não espere uma luta fácil. Enfim, tudo ao contrário do que o mercado editorial parece estar exigindo dos livros de hoje: uma leitura fácil, rápida, divertida e indolor.

Aliás, é oportuno repetir aqui a lamentação que fiz na resenha de “Quarup” e que se aplica ainda mais a “Reflexos do Baile”, que apesar de ser um livro bem mais fino, é certamente bem mais desafiador para o leitor:

“Ao mesmo tempo em que experimentei um profundo êxtase ao ler esse livro, fui também acometido de uma agonia que chegou às raias do desespero, ao perceber o quanto obras de tal magnitude estão já fora do alcance da maioria dos leitores contemporâneos. A decadência da Literatura e das Artes como um todo é tanto triste causa quanto inevitável consequência de tantas insanidades que temos testemunhado no Brasil e no mundo. Uma única esperança alivia meu peito: quando as Artes decaem, o fim da civilização é certo. O novo se aproxima.

Que assim seja!   



\\\***///


O SINCRONICÍDIO – Fabio Shiva

 “E foi assim que descobri que a inocência é como a esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”

Haverá um desígnio oculto por trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para morrer.

“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos abraçar a escuridão.”

Suspense, erotismo e filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo (clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das Mutações. Um romance de muitas possibilidades.

Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender o leitor.

 

Oito anos depois do lançamento do livro físico, finalmente disponível também em e-book:

https://www.amazon.com.br/dp/B09L69CN1J

 

Livro físico:

https://caligo.lojaintegrada.com.br/o-sincronicidio-fabio-shiva

 

Book trailer:

http://youtu.be/Vr9Ez7fZMVA



 

 

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