quarta-feira, 27 de julho de 2022

"O cadete e o capitão": importa ao Brasil atual

 

 
 
 

"Não acredito numa única palavra, não lerei e não gostei".

 

Quem se assume tomado por convicção diz isto, raríssimas exceções destoam deste comportamento. Compreende-se. Não é, e nem jamais deverá ser, um único livro a desvendar verdades por detrás de um biombo empoeirado. 

 

Pobre daquele que possui único livro de cabeceira, muitos já disseram isto. Nem que seja o livro mais sagrado de sua fé, pior ainda, há outras fé afinal, a sua nunca será a mais verdadeira, pois todo dogma, em um mundo multidiverso, é contraditório por si só.

 

Ocorre que pelo título tão somente não se pode inferir se a obra é elogiosa ou não. Os leitores haverão de associar o livro ao que ouvirem comentado, seja vindo do campo da esquerda quanto do campo da direita.

 


Há muito de elogio, documentado, reconhecido, admitido, o protagonista teve passagens significativamente positivas ao longo de sua carreira militar.

 

O autor apresenta vasta documentação, cópias autenticadas e várias referências e informações adicionais nas notas ao longo do texto. As notas que, deliciosamente, podem ser facilmente acessadas na versão digital ePUB.

 

O premiado escritor de livros-reportagens, Luiz Maklouf Carvalho publica em 2019 este título e em 2020 falece vítima de câncer. Obra derradeira ao Brasil atual.

 

Obra exemplar. Jamais um único texto ou um único autor pode se arvorar a deter a verdade absoluta, um dogma portanto. Vale sempre a comparação, estudo, o que toma tempo, exige extrema organização e concatenação de argumentos, tarefa nada fácil.

 

Mesmo no interior de uma única obra, esta em questão, veja: “Não terá sido isso que influenciou o Tribunal”, disse. “Foi justamente isso”, garanti. “Não me lembro”, disse Cataldo.

 

Ou seja, todo e qualquer assunto que adquira um mínimo de polêmica sempre está, esteve, e sempre estará sujeito a dicotomias e reações, contra-argumentos, a depender do nível também sujeito às teorias de conspiração inúmeras.

 

 

Esta obra de Luiz Maklouf é o que se espera de uma reportagem jornalística avessa às paixões. Nada dentre título e capa infere sobre tomada de partido, idem ao conteúdo. São alternadas descrições detalhadas de pareceres contrários e favoráveis ao caráter e conduta do protagonista.

 

Toma bastante tempo e trabalho, energia, chegar às conclusões nunca é tarefa fácil, necessário comparar, sempre, constantemente favorecer a dicotomia. Desta forma, no livro, e em qualquer assunto polêmico, trata-se de exercer uma constante comparação.

 

 

Dá trabalho. Exemplo: Revista semanal de circulação nacional intitula capa afirmativa "Bolsonaro fez isto, há provas". Este livro de Maklouf exibe tal citação, em seguida outra, referente ao mesmíssimo assunto, em que um colegiado de várias pessoas atestam "Não, não há provas". 

Posteriormente este colegiado é colocado em suspeição devido ao histórico dos membros e às contradições de suas explanações em voto de plenária. Volta-se ao argumento anterior, portanto há, ou no mínimo, podem haver provas. Trabalheira do cão, jornalista não tem vida fácil não. 

 

O livro de Maklouf é cheio destas idas e vindas, mas com o esforço de leitor que a obra merece é perfeitamente possível formar um corpo lógico concatenado, separando as verdades das inverdades.

 

Leia-se de peito aberto, sem paixões, com o exercício do livre-pensar.

 

Obra recomendada e necessária ao Brasil atual.

 

 

 

Rogério Puerta, São Paulo, julho de 2022.

 



 

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