domingo, 10 de dezembro de 2023

O HOMEM VÊ UM LOBO NO ESPELHO, OU SERÁ QUE É O LOBO QUE VÊ UM HOMEM?

 


Resenha do livro “O LOBO DA ESTEPE”, de Hermann Hesse

Foi com Hermann Hesse que comecei a passar livros adiante. É que a cada leitura de um livro dele eu ficava tão impactado, tão extasiado, tão para além de mim que sentia a necessidade de expandir a minha leitura pelos olhos de outras pessoas. “Fulano precisa ler isso”, eu dizia, ou então: “Esse livro é a cara de Sicrana”. E alegremente eu passava o tal livro para Sicrana ou para Fulano. Tempos depois, ao encontrar outro exemplar do mesmo livro em um sebo, eu pensava: “está na hora de reler esse”.

Essa foi, em resumo, a história de meu relacionamento com tantas obras queridas de Hermann Hesse. E assim foi que li duas ou três vezes “Sidarta”, “Viagem ao Oriente”, “O Jogo das Contas de Vidro”, “Demian” e, é claro, “O Lobo da Estepe”.

Meu primeiro encontro com o Lobo aconteceu aos vinte e poucos anos. Foi uma porrada e tanto, pois me senti não só compreendido como devassado por aquele senhor alemão tão sisudo. Desnudamento semelhante com uma leitura só senti ao encarar “Os Irmãos Karamázov”, do igualmente sisudo Dostoievski.


Tais livros preciosos, que nos revelam pedaços de nossa própria alma, tão secretos que acreditávamos que ninguém mais no mundo soubesse a respeito, tais livros devem ser lidos repetidas vezes, penso eu. Ao nos medirmos novamente no espelho dessa leitura, podemos constatar de forma muito vívida o quanto caminhamos e nos transformamos desde a leitura anterior.

Pois então. Meu primeiro exemplar de “O Lobo da Estepe” foi para uma amiga poeta que, assim como eu, amava Mozart (uma figura central na trama desse livro). E o resultado foi que ela também se tornou uma devota de Hermann Hesse, lendo e relendo suas histórias repetidas vezes.

Mais de dez anos se passaram, e tive um segundo encontro com o Lobo. Dessa vez registrei minhas impressões em uma resenha (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2012/08/o-lobo-da-estepe-hermann-hesse.html), que também foi veiculada no quadro semanal que apresento na Atmosfera 102, programa de rádio conduzido pelo querido Fernando Bamboo (https://youtu.be/iUdS1KCX9LM?si=A_fbykbFIAVWD37S).


Dessa vez, ao terminar a leitura senti o ímpeto de passar o livro para um amigo músico que estava atravessando uma séria crise existencial. “Ou vai ou racha”, pensei. Rachou: tenho quase certeza de que ele não leu o livro, mas acabou se descobrindo um bolsonarista roxo, e logo depois aderiu ao culto de Malafaia. Vira e mexe me pego pensando se o Lobo o teria resgatado de tal sina...

Mais uma meia dúzia de anos, e pela terceira vez posso me contemplar no espelho de “O Lobo da Estepe”, ao encontrar um exemplar novinho em folha no Cantinho dos Livros (espaço para doação e troca de livros no Mercado Municipal de Itapuã). E agora, aos 50 anos, tenho a mesma idade que Harry Haller, o atormentado herói do romance e que também era um alter ego do autor.

Curiosamente, dessa vez nem de longe se agitaram em meu peito as tempestades das duas leituras anteriores. Achei tudo interessante e bonito, mas não me reconheci mais no espelho que tanto havia me revelado. Fiquei muito intrigado. Uma pista para explicar tal fenômeno encontra-se no posfácio escrito pelo próprio Hesse:

“Parece-me que de todas as minhas obras, O Lobo da Estepe é a que vem sendo mais frequente e violentamente incompreendida, e o curioso é que, em geral, a incompreensão parte mais dos leitores entusiastas e satisfeitos com o livro do que dos leitores que o rejeitaram. Em parte, mas só em parte, isso pode ocorrer com tal frequência em razão de este livro, escrito quando eu tinha 50 anos e tratando, como trata, de problemas peculiares a essa idade, cair não raro em mãos de leitores muito jovens.”


Outros trechos que me marcaram nessa terceira leitura:

“O homem devia orgulhar-se da dor; toda dor é uma manifestação de nossa elevada estirpe.” (citação de Novalis)

“E, naturalmente, não querem pensar: foram criados para viver e não para pensar! Isto mesmo! E quem pensa, quem faz do pensamento sua principal atividade, pode chegar muito longe com isso, mas sem dúvida estará confundindo a terra com a água, e um dia morrerá afogado.”

A edição que li nessa terceira vez traz um lindo brinde: “Sonho de uma flauta e outros contos”, que eu ainda não conhecia. Espero ler em breve.


 

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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

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Instagram: https://www.instagram.com/fabioshivaprosaepoesia/

 

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DIÁRIO DE UM IMAGO: contos e causos de uma banda underground

A história da banda Imago Mortis, contada com muito humor por Fabio Shiva. Um lançamento da Editora Natesha.

SINOPSE:

Cinco amigos decidem montar uma banda de rock pesado em busca de fama, garotas e diversão. E acabam se metendo em aventuras bizarras e situações hilariantes, enquanto tentam fazer a música mais triste do mundo, capaz de fazer uma pessoa querer se matar. Em meio às céleres e profundas transformações de nossos tempos, a morte continua sendo a única certeza, que nos possibilita compreender melhor o grande mistério da vida. Do autor de “O Sincronicídio” e “Favela Gótica”, uma narrativa corajosa e surpreendente sobre a descoberta de si mesmo e o valor da amizade, inspirada na história real da banda Imago Mortis.

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